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06/05/2008

Biotecnologia ajuda a detectar resistência a biolarvicidas

Bruna Cruz


A aplicação periódica e sistemática de biolarvicidas em criadouros é uma das estratégias mais utilizadas pelo poder público para controlar e, até mesmo, erradicar doenças transmitidas por mosquitos. Essas ações podem ser comprometidas se esses insetos desenvolverem resistência às substâncias empregadas. Para detectar o problema, o Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães (CPqAM), unidade da Fiocruz em Pernambuco, está utilizando um método molecular de diagnóstico como ferramenta para rastrear populações do mosquito Culex quinquefasciatus, vetor da filariose, resistentes ao Bacillus sphaericus (Bs). O Bs é o biolarvicida usado pelo programa de controle da doença da Prefeitura do Recife.


 Larvas da muriçoca são submetidas a técnicas moleculares (Foto: Bruna Cruz) 

Larvas da muriçoca são submetidas a técnicas moleculares (Foto: Bruna Cruz) 


Para realizar esse trabalho, a Fiocruz de Pernambuco conta com a parceria do Centro de Vigilância Ambiental (CVA) da Secretaria de Saúde do Recife, que faz a coleta de ovos e de larvas da muriçoca no bairro de Água Fria, na Zona Norte da capital pernambucana. O material, que está sendo coletado desde 2005, chega ao laboratório, é separado em grupos e macerado. Em seguida, é submetido ao método de PCR (do inglês Polimerase Chain Reaction), que amplifica em milhares de vezes e identifica os genes resistentes ao biolarvicida. Estes, se comparados aos genes normais, contêm uma espécie de “falha”, cientificamente chamada de deleção. “Essa diferença se dá porque o gene do mosquito resistente não produz (codifica) o receptor Cqm1, encontrado no intestino da larva. Ele é responsável por fazer uma espécie de ligação chave-fechadura com a toxina liberada pelo biolarvicida. A ligação, quando bem sucedida, provoca a morte da larva”, explicou Maria Helena Neves, pesquisadora do Departamento de Entomologia do CPqAM e coordenadora do estudo.


As amostras do bairro de Água Fria estão sendo comparadas com as dos bairros do Varadouro (coletadas pela equipe de campo do CPqAM) e de Peixinhos (pelo CVA), onde o controle dos mosquitos, na época da coleta para o estudo, não estava sendo feito com o Bacillus sphaericus. “O objetivo é verificar se o número de indivíduos resistentes no ambiente é maior do que na população de mosquitos não tratada com o Bs”, complementou a pesquisadora. De posse dessas informações, o programa de controle da filariose pode implementar novas estratégias de controle da muriçoca.


Os primeiros resultados do estudo, que fazem parte do trabalho de conclusão do mestrado em saúde pública do CPqAM do aluno Karlos Diogo de Melo Chalegre, serão apresentados em março e, em seguida, à Secretaria de Saúde do Recife. “Os dados da pesquisa podem contribuir para avaliar as estratégias de controle do vetor com esse biolarvicida”, comentou Maria Helena. O projeto, financiado pela Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe), deve ser concluído em outubro de 2009.

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