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23/12/2020

Boletim da Fiocruz ressalta importância de estratégias para trabalhadores da saúde

Regina Castro (CCS/Fiocruz)


O Boletim do Observatório Fiocruz Covid-19 ressalta, em sua nova edição, a importância do fortalecimento e implementação de programas e estratégias em saúde voltadas para os trabalhadores e trabalhadoras da área. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que, na pandemia, os trabalhadores da saúde têm enfrentando condições extremamente desafiadoras com elevados riscos de adoecimento e morte em várias ocasiões. O Boletim pode ser acessado aqui.

A publicação chama atenção para o fato de que cerca de 14% dos casos de Covid-19 reportados à OMS foram em trabalhadores da saúde. Os dados mostram que a categoria representa aproximadamente 3% da população da maioria dos países e menos de 2% nos países mais pobres. No Brasil, são mais de 3,5 milhões de trabalhadores. 

Para reverter esse quadro, os pesquisadores do Observatório Fiocruz Covid-19, responsáveis pelo Boletim, defendem a adoção das medidas propostas pela OMS no Dia Mundial da Segurança do Paciente, em 17 de setembro, que teve como tema central Mantenha os trabalhadores da saúde seguros para manter os pacientes seguros, propondo um conjunto de medidas que foram tomadas como referência inicial.

As recomendações têm como objetivos, entre outros, a segurança dos trabalhadores para protegê-los de riscos físicos e biológicos; melhoria das condições de trabalho para promover a saúde mental e o bem-estar psicológico destes profissionais; proteção contra a violência no local de trabalho, incluindo o assédio moral. Foi ressaltada ainda a importância de enfrentar a precarização do SUS, que fragiliza o conjunto dos trabalhadores, com efeitos distintos em relação às categorias profissionais e aos seus âmbitos de atuação, conforme é ressaltado no Boletim.

Divulgado pela Organização Pan-americana da Saúde em 31 de agosto, o Alerta Epidemiológico Covid-19 nos profissionais de saúde aponta que, nas quatro semanas anteriores à data de publicação do documento, o Brasil figurava como o segundo país nas Américas com maior proporção de casos (29%) e de crescimento de óbitos (26%) entre os trabalhadores da saúde.

Covid-19

O Boletim Observatório Fiocruz Covid-19 traz ainda dados sobre casos e óbitos por Covid-19 ao longo das semanas epidemiológicas 50 e 51 (6 a 19 de dezembro). Os números confirmam a tendência de aumento de ocorrências e de mortes nesse período, o que gera preocupações com a entrada do verão, as festas de fim de ano e viagens comuns nessa época. 

As maiores taxas de incidência de Covid-19 foram observadas nos estados de Roraima, Amapá, Sergipe, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Já as taxas de mortalidade por Covid-19 foram mais elevadas nos estados de Rondônia, Amapá, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal. É especialmente crítica a situação dos estados da região Sul, que apresentaram simultaneamente altos índices de incidência e mortalidade por Covid-19.

Observaram-se tendências de elevação no número de casos no Rio Grande do Norte, Alagoas e Paraná, enquanto a ocorrência de óbitos aumentou expressivamente nos estados do Pará, Paraíba, Alagoas, Minas Gerais, Paraná e Mato Grosso do Sul. As demais UFs apresentaram tendência de manutenção da epidemia e nenhuma UF mostrou sinal de queda no número de casos ou óbitos. 

A maior parte dos estados mantém uma taxa de letalidade entre 1% e 2%, dada pela proporção de casos confirmados que foram a óbito por Covid-19. No Estado do Rio de Janeiro a letalidade é atualmente 3,6%, considerada alta em relação a padrões mundiais. Segundo a análise, os valores elevados de letalidade revelam graves falhas no sistema de atenção e vigilância em saúde nesse estado.

SRAG

O monitoramento de Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAG), realizado no sistema InfoGripe da Fiocruz, mostra que a taxa de incidência de SRAG nas semanas epidemiológicas 50 e 51 (de 6 a 19 de dezembro) encontra-se com valores superiores a um caso por 100 mil habitantes em todos os estados, com exceção do Maranhão (0,6 casos por 100 mil hab.).  

Esses Indicadores são calculados a partir do número de casos de SRAG, definidos por registros de casos graves de doenças respiratórias, incluindo-se casos de Covid-19, que demandam hospitalização ou que foram a óbito. Apesar de muitos estados apresentarem valores inferiores a 10 casos por 100 mil habitantes, marca já registrada desde o início da pandemia, os números ainda permanecem altos e é motivo de preocupação a tendência de crescimento verificada em Amazonas, Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Sergipe, Espírito Santo, Goiás e Distrito Federal.  

Leitos de UTI para Covid-19

De acordo com os dados do Cadastro Nacional do Estabelecimentos de Saúde, entre 7 e 21 de dezembro a disponibilidade de leitos de UTI Covid-19 existentes (SUS e não-SUS) para adultos por 10 mil habitantes manteve-se predominantemente estável, registrando-se um pequeno incremento na Bahia e redução no Pará, Rio Grande do Norte e Espírito Santo. 

As taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no SUS sinalizam mais uma vez a tendência de piora do cenário nacional geral. Em 21 de dezembro, oito estados na zona de alerta crítica (≥ 80,0%), 10 estados e o Distrito Federal na zona de alerta intermediária (≥ 60,0% e < 80,0%), e somente oito estados fora da zona de alerta (< 60,0%). 

Encontram-se na zona de alerta crítica os estados de Amazonas (82,3%), Roraima (83,3%), Amapá (81,9%), Pernambuco (83,0%), Espírito Santo (84,5%), Paraná (88,9%), Santa Catarina (87,3%) e Mato Grosso do Sul (93,6%). Na zona de alerta intermediária, mantiveram-se Acre (63,1%), Ceará (65,8%), Rio Grande do Norte (62,8%), Sergipe (65,0%), Bahia (78,0%), Minas Gerais (68,2), Rio de Janeiro (77,0%) e Rio Grande do Sul (74,1%). Reingressaram, após período fora da zona de alerta, Pará (65,4%), São Paulo (61,9%) e Distrito Federal (79,4%). 

Dez capitais estão com taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos superiores a 80%: Manaus (82,3%), Boa Vista (100,0%), Belém (83,3%), Macapá (94,4%), Recife (83,3%), Vitória (85,0%), Rio de Janeiro (92,0%), Curitiba (91,0%), Florianópolis (84,6%) e Campo Grande (100,0%). Somam-se a elas ainda, com taxas superiores a 70,0%, Fortaleza (71,6%), Salvador (75,1%), Belo Horizonte (72,7%) e Porto Alegre (73,6%).    
 

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