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07/03/2007

Bolsista recebe menção honrosa em prêmio do CNPq


Um trabalho que envolve as crenças, a economia e a cultura da região amazônica, desenvolvido pela aluna do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) da Fiocruz Thais Sholl e pelo seu orientador, o pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Salvatore Siciliano, recebeu menção honrosa pelo melhor trabalho na categoria Estudante do Ensino Superior, no 20º Prêmio Jovem Cientista do CNPq. A pesquisa Identificação taxonômica de amostras de botos comercializadas na região Amazônica através de técnicas moleculares identificou os diversos produtos vendidos nos mercados da região Norte do Brasil, que envolvem uma série de lendas e costumes, e de quais animais esses materiais, como a genitália, os olhos, os dentes, a gordura e outras peças anatômicas, são provenientes.


 O pesquisador Salvatore Siciliano e a bolsista Thais Sholl (Foto: Luis Setto)

O pesquisador Salvatore Siciliano e a bolsista Thais Sholl (Foto: Luis Setto)


O tema da vigésima edição do prêmio foi Gestão sustentável da biodiversidade: desafio do milênio. Thais trabalha com genética e, com seu orientador, desenvolve estudos genéticos com mamíferos aquáticos da costa brasileira e da Bacia Amazônica. “Conseguimos algumas amostras desses materiais comercializados que estavam conservados em álcool e em perfumes a base de álcool. Extraímos algumas amostras de DNA e o resultado foi bastante interessante”.


Salvatore conta que o resultado contradiz o que a literatura afirma a respeito do material. Estudos prévios atribuíram ao boto vermelho (Inia geoffrensis) a origem das amostras à venda regularmente nos mercados públicos, mas, para a surpresa dos pesquisadores, as amostras eram da espécie marinha do boto-cinza (Sotalia guianensis), o mais comum na costa brasileira.


Thais lembrou que, como as amostras não estavam conservadas de forma ideal, teve que adaptar os protocolos que são utilizados normalmente até conseguir chegar ao utilizado normalmente para esse tipo de amostra, o que durou seis meses. Ela disse que o DNA extraído desses tecidos já está em um estado degradado, difícil de trabalhar. “Depois que extraímos os resultados comparamos as seqüências encontradas com um banco de seqüências na internet. Lá peguei seqüências do boto vermelho, que é a espécie que alegam ser vendida no mercado, a seqüência do boto cinza, da forma marítima e fluvial, e fiz a comparação. Todas as minhas amostras bateram com a forma marinha do boto cinza. Ou seja, não era o boto vermelho, o esperado, nem o fluvial. Os resultados contrariam completamente a lenda pois, teoricamente, o material dos botos deveria vir do rio, mas foi comprovado que vem do mar”.


Descoberta a origem do material comercializado, outras questões intrigou os pesquisadores: de onde vinham esses botos e como eles eram capturados. Siciliano revela que por uma pesquisa que faz o monitoramento das atividades pesqueiras foi possível concluir que o material é proveniente de animais que são capturados nas redes de pesca que operam nas costas do Pará e do Amapá. “Sabemos hoje que uma quantidade grande de botos é capturada em rede e uma parte dos pescadores vende esses materiais como uma renda extra para alguns atravessadores, e esse material chega aos mercados. São nesses botos, capturados acidentalmente, que as pessoas tiram a genitália, os olhos, os dentes, e os comercializam”.


No entanto, o que intriga o pesquisador é que as populações deste mamífero estão em estado precário de saúde, com contaminações, malformações congênitas, ou seja, há um quadro pessimista em relação a conservação do Sotalia a longo prazo. “Para eles, na Amazônia, o boto é um peixe. Não se questiona que ele é um mamífero aquático, que tem uma taxa de reprodução mais lenta, que gera apenas um filhote por vez. Além disso, observamos que as populações das espécies que passaram por pressões de caça vão perdendo a variabilidade genética. Biodiversidade não é só o número de espécies, mas também a variabilidade. Preservar a saúde de uma população também significa preservar a diversidade da população”.


O trabalho foi apresentado em junho de 2006 no workshop internacional Research and Conservation of the Genus Sotalia, ocorrido em Búzios, que discutiu a problemática dos golfinhos do gênero Sotalia. Com relação ao prêmio, a dupla disse estar muito feliz, pois representa a validação de todo o esforço. “Essa menção é o reconhecimento do trabalho. Todos nós somos investigadores, pois a curiosidade é oque nos move a fazer pesquisas. A cultura amazônica está lá há décadas, mas ninguém tinha pensado em estudar algo do tipo”, disse Siciliano. “Considero o prêmio ótimo. O trabalho começou por curiosidade e nossa intenção é chamar a atenção para o que está ocorrendo no Norte”, afirmou Thaís.


As pesquisas de campo do estudo foram financiadas pelo projeto Potenciais Impactos Ambientais do Transporte de Petróleo e Derivados na Zona Costeira Amazônica (Piatam Mar) da Petrobras. É uma ampla pesquisa que envolve as principais instituições do Norte do país, como a UFPA e o Museu Paraense Emílio Goeldi, e que conta com o patrocínio da Petrobras.


Fonte: Informe Ensp

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