04/10/2022
Mesmo diante de um cenário múltiplo e repleto de complexidades, os mosquitos com a bactéria Wolbachia apresentaram eficácia no combate às arboviroses. Um norteador para elaborar estratégias de combate ao Aedes aegypti. Isso é o que aponta a revista científica The Lancet - Infectious Diseases, em um artigo conduzido por pesquisadores da Universidade de Cambridge, em parceria com o World Mosquito Program (WMP/Brasil). A iniciativa é conduzida no Brasil pela Fiocruz.
O estudo revela que o estabelecimento estável de Wolbachia no ambiente geograficamente diversificado do Rio de Janeiro parece ser mais complexo do que tem sido observado em outros locais. No entanto, mesmo os níveis intermediários de Wolbachia (cepa wMel) já podem reduzir a incidência de dengue e chikungunya.
As atividades do programa de liberações de mosquitos com Wolbachia no Rio de Janeiro, foram expandidas em agosto de 2017 em decorrência da epidemia de zika. As liberações, abrangendo uma área total de 86,8 km2 com cerca de 890 mil habitantes, foram faseadas em cinco zonas. Até dezembro de 2019, 29 meses após o início das liberações, a Wolbachia apresentou prevalência entre 27% e 60%. Um efeito protetor para a população foi observado mesmo em áreas em que a prevalência da Wolbachia foi mais baixa (10%), já para locais em que a prevalência de wMel foi superior a 60%, a proteção foi de 76%, o que é comparável aos resultados publicados anteriormente (utilizando métodos diferentes) do município vizinho de Niterói e da Indonésia.
“O estabelecimento da cepa wMel em comunidades urbanas complexas como o Rio de Janeiro é um grande desafio. E compreender porque a introgressão do wMel em populações de Aedes aegypti é mais rápida e homogênea em alguns locais do que em outros são conclusões que ajudarão a orientar futuros programas de liberações de mosquitos com Wolbachia”, afirma Luciano Moreira, pesquisador da Fiocruz e líder do WMP Brasil.
Os resultados fornecem mais provas de que a Wolbachia pode reduzir consideravelmente o impacto das arboviroses para a saúde pública do Brasil e de outros países.
Eficácia
No ano de 2021, dados que mostraram a eficácia da proteção garantida pela Wolbachia foram divulgados pelo WMP/Brasil, conduzido no Brasil pela Fiocruz. Os números apontam a redução de cerca de 70% dos casos de dengue, 60% de chikungunya e 40% de zika nas áreas onde houve a intervenção entomológica.
“Esses números estão publicados em artigo científico e corroboram os dados do WMP em outros países, como na Indonésia, onde houve redução de 77% dos casos e 86% das hospitalizações”, destacou Luciano Moreira.
Wolbachia
A Wolbachia é um micro-organismo intracelular presente em 60% dos insetos da natureza, mas que não estava presente no Aedes aegypti. Foi introduzida por pesquisadores do WMP, iniciativa global sem fins-lucrativos que trabalha para proteger a comunidade global das doenças transmitidas por mosquitos. Este método consiste na liberação de Aedes com Wolbachia para que se reproduzam com os Aedes aegypti locais e seja estabelecida uma população destes mosquitos, todos com o micro-organismo.
Quando presente no Aedes aegypti, a Wolbachia impede que os vírus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela se desenvolvam no inseto, contribuindo para a redução destas doenças. Não existe modificação genética neste processo.
Iniciativa internacional
O WMP é uma iniciativa internacional sem fins lucrativos que trabalha para proteger a comunidade global das doenças transmitidas por mosquitos. Opera atualmente em 12 países: Austrália, Brasil, Colômbia, México, Indonésia, Laos, Sri Lanka, Vietnã, Kiribati, Fiji, Vanuatu e Nova Caledônia.
No Brasil, o Método Wolbachia é conduzido pela Fiocruz, com financiamento do Ministério da Saúde (MS), em parceria com os governos locais. Atualmente, a atuação é realizada no país no Rio de Janeiro (RJ), Niterói (RJ), Campo Grande (MS), Belo Horizonte (MG) e Petrolina (PE).