Início do conteúdo

14/05/2009

Carga de doença: excesso de peso e tabagismo são importantes fatores de risco

Informe Ensp


Estimar a carga global de doença no Brasil considerando fatores de risco como o excesso de peso e tabagismo para o desenvolvimento de diabetes mellitus foi o objetivo da tese de doutorado em saúde pública desenvolvida por Andréia Ferreira de Oliveira. O trabalho aponta que cerca de 10% do total de perda de anos de vida por morte prematura e incapacidades (DALY) entre indivíduos acima de 30 anos são atribuíveis ao hábito de fumar. Além disso, a pesquisa também ressalta que, em 2013, a previsão é que o diabetes seja a primeira causa de perda de anos de vida por morte prematura e incapacidades no país.


 Testes de glicemia feitos gratuitamente na Semana Mundial de Prevenção do Diabetes (Foto: Acessa)

Testes de glicemia feitos gratuitamente na Semana Mundial de Prevenção do Diabetes (Foto: Acessa)


O estudo de Andréia, que resultou em quatro artigos acadêmicos, foi motivado pela ausência de estimativas da carga de doença atribuível a fatores de risco em pesquisa realizada pela Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) entre os anos 2000 e 2002. A pesquisa sobre carga de doença está disponível no sítio eletrônico da Escola. Andréia é sanitarista da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, trabalha no Programa de Diabetes e foi orientada pelo pesquisador Joaquim Gonçalves Valente, do Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos em Saúde.


A tese foi composta com os artigos: Aspectos da mortalidade atribuível ao tabaco: uma revisão sistemática, Carga de doença associada ao tabagismo no Estado do Rio de Janeiro (RJ), 2000, Carga global de doença devida e atribuível ao diabetes mellitus (DM) no Brasil e Carga global do diabetes mellitus atribuível ao excesso de peso e obesidade no Brasil. Dois deles já foram publicados na Revista de Saúde Pública e na Clinics. O terceiro artigo já foi aceito pelo Cadernos de Saúde Pública e será publicado ainda em 2009.


Como resultados do estudo, Andréia destaca pontos relevantes em cada um dos quatro artigos. O primeiro artigo, segundo ela, "aborda os métodos empregados para o cálculo da mortalidade atribuível ao tabaco (MAT). Nele, vimos que as doenças mais relacionadas à MAT são o câncer de traquéia/brônquios/pulmão, a doença isquêmica do coração (DIC), doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e as doenças cerebrovasculares (DCV). E, entre essas, os indivíduos do sexo masculino com idade igual ou superior a 35 anos apresentaram estimativas mais elevadas em relação ao câncer de pulmão e à DPOC".


O artigo sobre carga de doença associada ao tabagismo no Rio de Janeiro no ano 2000 indicou que cerca de 11% do total de Disability Adjusted Life of Years, ou perda de anos de vida por morte prematura e incapacidades (DALY), entre indivíduos acima de 30 anos foram atribuíveis ao hábito de fumar. Outro fator relevante indicado neste segundo artigo foi o fato de a doença pulmonar obstrutiva crônica, a doença isquêmica do coração e as doenças cerebrovasculares serem responsáveis por 61,1% do total de DALY atribuíveis ao fumo no Rio, para indivíduos com 30 anos de idade e mais.


A carga global de doença devida e atribuível ao diabetes mellitus (DM) no Brasil é o tema do terceiro artigo, que apresentou resultados do estudo de carga global de doença, realizado no Brasil para o ano de 1998, com ênfase no DM e suas complicações. Nesse artigo, Andréia apontou que 66,3% do total da carga de doença estimada para o Brasil esteve relacionada ao grande grupo 2, que contempla as doenças crônicas não transmissíveis. O DM, como agravo dentro do grande grupo 2, foi a primeira causa de perda de anos de vida por morte prematura e incapacidades para ambos os sexos no ano de 1998 e correspondeu a 5,1% do total de DALY estimados para o Brasil. "Para o ano de 2013, estima-se que o diabetes mellitus seja a primeira causa de DALY no país", disse.


No quarto e último artigo, a pesquisa abordou a diabetes mellitus relacionada ao excesso de peso e obesidade, nos anos de 2002 e 2003, desagregados para o Brasil e grandes regiões, e usou faixa etária, sexo e nível de sobrepeso como parâmetros de análise. Nele, Andréia apontou que, no Brasil, 61,8% e 45,4% do diabetes mellitus, no sexo feminino, foram atribuíveis ao excesso de peso e obesidade, respectivamente. Já em relação ao sexo masculino, disse ela, "estes percentuais foram de 52,8% e 32,7%. Outro dado verificado foi que as maiores frações atribuíveis foram encontradas nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país. Além disso, foi no grupo populacional entre 35 a 44 anos de idade que se observaram que as maiores frações atribuíveis, em ambos os sexos e a partir desta idade, aos valores tendem a apresentar queda", indicou Andréia.


Segundo a autora, a prevenção do tabagismo, assim como a prevenção do excesso de peso, são de fundamental importância para o país. "É preciso que sejam ampliadas as unidades livres do tabaco e o número de unidades de saúde credenciadas para o tratamento de indivíduos fumantes. Também é muito relevante a prevenção do hábito tabágico em jovens. Por isso, é tão importante a implementação de medidas de prevenção e promoção da saúde. A promoção de hábitos saudáveis dentro da escola é uma estratégia fundamental, cita ela. Várias estratégias estaduais e municipais voltadas para a promoção desses hábitos no ambiente escolar já são realizadas principalmente nas regiões sudeste, sul e centro-oeste do país. Seria muito interessante se essas iniciativas, como portarias e leis, pudessem se constituir em políticas públicas nacionais. O estímulo aos hábitos saudáveis de vida tem que começar na infância", concluiu.


Publicado em 11/5/2009.

Voltar ao topo Voltar