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09/11/2009

Cariocas e paulistanos apresentam taxas de transtornos mentais semelhantes


Apesar de os cariocas serem mais expostos à violência - agressões físicas, tentativas de homicídio, sequestros, torturas, estupros -, eles não apresentam taxas maiores do que os paulistanos de transtornos mentais, como fobias e depressão. O resultado surpreendeu os pesquisadores de três instituições públicas que se associaram para estudar a relação entre violência e saúde.


Entre os cariocas, 22% declararam ter sido vítimas de violência no ano anterior à pesquisa, ante 9% dos paulistanos. Os índices de incidência das doenças analisadas foram semelhantes.


"Uma hipótese é a de que os cariocas tenham mais resiliência (capacidade de passar por um trauma sem desenvolver transtornos mentais)", diz o psiquiatra Sérgio Andreoli, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), um dos participantes da pesquisa Associação entre Violência e Transtornos Mentais nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.


O trabalho é resultado de parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com financiamento de R$ 1,7 milhão do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Os resultados parciais da pesquisa foram apresentados no Congresso Brasileiro de Psiquiatria, em São Paulo.


Andreoli destaca que o modo de ver vida e a banalização dos casos de violência também estão no rol de possíveis explicações para a conclusão do estudo, que não prevê análise qualitativa. Porém, outros dados levantados e em processamento, como fatores que predispõem à resiliência e características genéticas, poderão ajudar a formular respostas. A violência é considerada questão de saúde pública pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 1996.


Fatores de proteção

Uma outra parte do estudo verificou quais os fatores que levam à resiliência. Em São Paulo, são eles: ser homem, ter maior escolaridade, ausência de eventos traumáticos na infância e de pais com transtorno mental, não ter presenciado desastres naturais, menor diversidade de traumas, menor percepção de risco de vida e de atribuição da própria responsabilidade pelos eventos traumáticos sofridos, entre outros pontos.


"É possível que no Rio haja mais pessoas com essas características", cogita o epidemiologista da Fiocruz Evandro da Silva Coutinho, que também realizou o estudo. Os dados da população carioca ainda estão sendo processados.


O levantamento apresentado em São Paulo foi realizado em 2007 e envolveu entrevistas domiciliares feitas por pesquisadores do Ibope treinados para aplicar um questionário padronizado de saúde mental. Participaram da pesquisa 3.744 pessoas, amostra representativa da população de 15 a 75 anos das duas cidades.


O intervalo de confiança do estudo é de 95% e a margem de erro, de 1,3%.


A amostra foi aleatoriamente construída a partir dos mapas de homicídios das duas cidades, ou seja, os pesquisadores escolheram os entrevistados em locais onde a violência existe, destaca Andreoli.


Fonte: Fabiane Leite / O Estado de S. Paulo


Publicado em 9/11/2009.

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