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31/03/2020

Casos de Síndrome Respiratória Aguda têm recorde histórico

Gustavo Mendelsohn de Carvalho (Agência Fiocruz de Notícias)


Em parceria com o Ministério da Saúde (MS), a Fiocruz e a Fundação Getúlio Varga (FGV) desenvolveram o sistema InfoGripe para monitoramento dos casos notificados de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) no Brasil. Atualizado semanalmente, o sistema registrou um aumento de cerca de dez vezes na média histórica de hospitalizações por SRAG, depois da notificação do primeiro caso de Covid-19 no dia 25 de fevereiro.

"Os dados indicam que a infraestrutura de atendimento hospitalar já está observando uma carga de ocupação em função de Síndrome Respiratória Aguda Grave [SRAG] extremamente elevada, acima da média. Já vinha acima do esperado e com tendência de alta. Porém, nas duas últimas semanas, disparou", explicou o coordenador do InfoGripe, Marcelo Gomes, que é pesquisador do Núcleo de Métodos Analíticos para Vigilância em Saúde Pública do Programa de Computação Científica (Procc/Fiocruz). Na FGV, pesquisadores da Escola de Matemática Aplicada são os responsáveis pelo sistema. 

Gomes esclarece ainda que, desde a nova portaria do MS, todos os casos de SRAG passam a ser suspeitos de Covid-19. "Certamente, nem todos os casos levantados pelo relatório são casos de Covid-19, mas não sabemos ainda qual o percentual foi em decorrência de qual vírus respiratório. A mudança brusca de comportamento sugere que há algo diferente acontecendo, e isso pode ser justamente o novo coronavírus. Seriam necessários exames laboratoriais para saber qual agente infeccioso está causando estas internações, saber quantos casos são influenza e quantos são do novo coronavírus".

Em anos anteriores, o sistema registrou uma média de 250 casos nos meses de fevereiro e março. Este ano, apenas na semana de 23 a 29 de fevereiro, 662 pessoas foram internadas no país com sintomas como febre, tosse, dor de garganta e dificuldade respiratória. Na semana dos dias 15 a 21 de março, o número de novos internados subiu para 2.250 pacientes, de acordo com a projeção das notificações oficiais enviadas ao MS por unidades de saúde, hospitais públicos e alguns privados de todo o país. A SRAG pode ser causada por vários vírus, como influenza, adenovírus, os quatro coronavírus sazonais que já circulavam anteriormente, e o novo coronavírus. A definição de caso de SRAG pode ser encontrada aqui.

De 22 a 29 de março, o número de casos registrados continuou extremamente elevado no Brasil, mesmo com uma taxa de crescimento estimada para a semana sendo menor do que as apresentadas nas semanas anteriores. "Tal característica pode ser tanto reflexo de uma real desaceleração (fruto das medidas de distância social implementadas no território nacional nas últimas semanas), quanto reflexo do aumento no tempo para digitalização das fichas de notificação, por sobrecarga das equipes dedicadas à isso em cada unidade de saúde ou vigilância municipal/estadual", afirmou Gomes. "Tal situação poderá ser melhor avaliada na próxima atualização do sistema, ao término da décima quarta semana [em 4/4]".

Sobre o perfil dos pacientes nesta mesma semana, houve um predomínio de casos na faixa etária acima de 60 anos, diferente do padrão típico de SRAG em anos anteriores, nos quais havia predomínio da faixa menores de 2 anos. "Tal estrutura etária é compatível com o observado para Covid-19 no mundo", comenta Gomes. 

Na divisão por regiões brasileiras, a região Sul encontra-se com atividade semanal alta, enquanto todas as demais regiões encontram-se com atividade semanal muito alta. A nível estadual, 21 das 27 UFs encontram-se em atividade alta (2) ou muito alta (19). 

Esses números sugerem que o aumento de internações pode ter ocorrido em decorrência da Covid-19, embora nem todas as pessoas hospitalizadas tenham sido testadas para a doença, considerando atraso de resultados dos exames específicos para o Covid-19. O InfoGripe fornece, para todas as regiões brasileiras e seus respectivos estados, a estimativa de casos recentes, indicadores associados ao plano de contingência para vigilância do vírus influenza sazonal, canais endêmicos e limiares de atividade semanal. 

Os dados indicam que o país se encontra em situação significativamente acima do padrão histórico desde o início do ano. Além disso, atualmente apresenta crescimento e incidência acima do limiar pré-epidêmico. Todas as regiões do país encontram-se atualmente na zona de risco.

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