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04/12/2006

Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana completa 21 anos


O Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh) da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz está prestes a completar 21 anos. Junto com a maioridade, vem a responsabilidade em dar respostas ao SUS na implantação de políticas em prol da saúde do trabalhador e responder às grandes demandas da população na área. Para explicar o surgimento, as atividades desenvolvidas e o futuro do Centro, o chefe do departamento, Hermano Albuquerque de Castro, deu a entrevista a seguir ao Informe Ensp.


 Hermano Albuquerque de Castro (Foto: Ivone Perez)

Hermano Albuquerque de Castro (Foto: Ivone Perez)


Como surgiu o Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e qual era o cenário da saúde pública brasileira?


Hermano Albuquerque de Castro: O Cesteh surgiu no esteio da reforma sanitária brasileira, em 1985, quando as questões da saúde do trabalhador começam a emergir no cenário nacional a partir das demandas dos próprios trabalhadores. Com isso, os pesquisadores e sanitaristas da época assumiram essa questão como um problema da saúde pública. Passou, então, a haver uma construção conceitual sobre a saúde do trabalhador, deslocando-o de um mero objeto de pesquisa para o papel de sujeito das transformações nos ambientes de trabalho. Essa foi uma mudança significativa na época, e aí surgem os estudos para a formação do Cesteh com a pesquisadora Anamaria Tambellini, que assumiu essa responsabilidade na primeira gestão de Sergio Arouca, e trouxe para a Fiocruz a possibilidade de construir um campo de estudos da saúde, do trabalho e do ambiente.


Fale um pouco da trajetória do Centro e das atividades que desenvolveu ao longo destes anos.


Hermano: O Cesteh, ao longo de 21 anos, trabalhou com três grandes áreas dentro da instituição. As áreas de pesquisa, ensino e serviços. Na pesquisa, desenvolvemos estudos epidemiológicos importantes, relacionados ao adoecimento dos trabalhadores em seus ambientes de trabalho. Muitos projetos geraram produtos importantes e seus resultados fizeram com que leis nacionais e estaduais fossem modificadas. Nossas pesquisas interferiram diretamente nos ambientes de trabalho, na retirada do chumbo da gasolina, na proibição do jato de areia no Brasil e outros. Com relação ao ensino, que sempre acompanhou a pesquisa, o nosso principal curso lato sensu, que é o de especialização em saúde do trabalhador, já formou mais de 500 especialistas na saúde do trabalhador. Além do mais, formamos em torno de 1.400 profissionais em outros cursos, como os de especialização em direito e saúde e em toxicologia ambiental, além de outros descentralizados. No stricto sensu, a área de saúde do trabalho e ambiente vem formando diversos profissionais no mestrado e no doutorado, com vários deles atuando na própria academia e nos serviços. Devo ressaltar que o ensino a distância está coroando a importância do Cesteh no cenário nacional. Temos uma proposta inicial de formar oito mil profissionais na área da saúde do trabalhador no Brasil inteiro em um prazo curto, de um a dois anos. Já iniciamos a formação na Região Norte, com a aplicação do curso em quatro estados. Isso coroa esses 21 anos, com o esforço dos diversos professores do departamento.


E com relação aos serviços?


Hermano: Na área de serviços, o Cesteh vem se tornando referência nacional em vários setores. Na área de atendimento à população ambulatorial, somos referência em epidemiologia ocupacional, dermatologia ocupacional, audiologia ocupacional, dentre outras. Temos o ambulatório de ler/dort, que atende trabalhadores com lesão de esforço repetitivo e, ao longo desses anos, tornamo-nos referência regional e nacional para algumas doenças específicas dos trabalhadores, atendendo uma média de três mil por ano. Também temos o Laboratório de Toxicologia como referência, assumindo a demanda de outros estados na avaliação de riscos, na avaliação ambiental, em desenvolvimento de metodologias e técnicas laboratoriais e repassando tecnologias para outros estados e laboratórios. Portanto, é um laboratório reconhecido nacionalmente na área de trabalho e ambiente.


O que representa para o Centro completar a maioridade? Essa idade aumenta as responsabilidades do departamento?


Hermano: Essa idade traz mais responsabilidade para o departamento e para a Ensp. Aumentamos nosso raio de ação e o Cesteh está inserido na política estratégica de implantação de uma Rede Nacional da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana. Além do mais, aumenta nossa responsabilidade em dar respostas ao SUS na implantação das políticas, na construção da rede de acesso à saúde do trabalhador, na vigilância ambiental em saúde, e em relação a responder às demandas da população. Cada vez mais surgem demandas dos trabalhadores para o Cesteh responder, e essas respostas não podem ficar apenas no entorno da fábrica. É necessário entendê-las junto com o ambiente como um todo. Esse é um caminho que precisa ser mais trabalhado e é uma demanda para nossos próximos vinte anos.


E o futuro do Centro?


Hermano: O futuro do Cesteh é um futuro promissor, que vai depender da vontade dos pesquisadores e professores do departamento. O Centro tem uma tradição de dar liberdade aos pesquisadores para fazer parcerias com instituições públicas e isso nós vamos continuar estimulando. Precisamos aumentar nosso raio de ação junto aos ministérios do Meio Ambiente e do Trabalho. Além do mais, queremos completar um ciclo de formação de profissionais da rede e estamos fazendo isso no Rio Janeiro, com um projeto de incubadora que está em fase inicial e se concretizará no ano que vem, com o recebimento de 30 profissionais do estado, que terão sua formação no Cesteh. Temos convênios com a Uerj em residência médica e parcerias dentro da própria instituição, como o Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec), aos quais queremos dar continuidade. O Laboratório de Toxicologia deve aumentar sua rede de parcerias com as secretarias dos estados, recebendo seus profissionais para a formação.


Na área do ensino, queremos dar continuidade a esse processo de formação a distância e, no stricto sensu, apoiar o momento de discussão pelo qual a Ensp está passando. O Cesteh está inserido nos dois programas de pós-graduação da Escola (saúde pública e saúde pública e meio ambiente) e acreditamos que essas mudanças vão fortalecer o stricto sensu. Também pretendemos iniciar uma formatação para o mestrado profissional em saúde do trabalhador, uma demanda nacional que só o Cesteh e a Ensp têm condições de construir.


Fonte: Informe Ensp

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