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13/04/2012

Centro de Saúde Escola: a acreditação e o padrão de qualidade

Tatiane Vargas


Após o Centro de Estudos em Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh) receber o certificado de acreditação internacional, no fim de 2011, agora foi a vez de outro departamento da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) ser acreditado: o Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria. As certificações concedem à Ensp o reconhecimento da qualidade dos serviços prestados à população. O processo foi realizado pelo Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA), que aplica o método internacional da organização americana Joint Commission International (JCI). O Centro de Saúde Escola é responsável pela assistência à população das comunidades do Complexo de Manguinhos, funcionando como um centro de atenção primária na região. “Receber essa certificação significa saber que o Centro de Saúde Escola presta para Manguinhos uma atenção primária pública reconhecida em nível internacional, ou seja, estamos retornando para a população um recurso que é dela", comemora a chefe do Centro de Saúde Escola, Emilia Correia.


O processo de acreditação internacional é uma avaliação externa que tem como objetivo criar e manter uma cultura de segurança na instituição e de qualidade no atendimento. Liderança colaborativa e aperfeiçoamento contínuo dos processos, que incluem a escuta dos pacientes e seus familiares; são critérios fundamentais para a certificação, que pode ou não ser renovada a cada três anos. Para Emilia, a maior satisfação em todo o processo é ter o reconhecimento internacional de que a prestação do serviço oferecido para a comunidade de Manguinhos é de qualidade e segura. A chefe do Centro de Saúde Escola conversou com o Informe Ensp sobre o processo de acreditação.


Como foi a decisão do centro de saúde de se submeter ao processo de acreditação?


Emilia Correia: A iniciativa foi proposta pela antiga Vice-Presidência de Serviços de Referência e Ambiente da Fiocruz, ainda na gestão passada do Paulo Buss, para todas as unidades assistenciais da instituição. O objetivo era demonstrar de forma inequívoca que a atenção à saúde prestada pela Fiocruz cumpre padrões internacionais de qualidade e segurança aos pacientes a ela vinculados. Para tanto, foi escolhida a metodologia de Acreditação Internacional feita pelo Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA), representante legal e exclusivo no Brasil da Joint Commission Internacional (JCI), o braço internacional da The Joint Commission, a mais antiga e renomada organização acreditadora do mundo.


Algumas unidades apresentaram impedimentos estruturais para a continuidade do processo, e nós do CSEGSF/Ensp nos deparamos com um entrave instigante: não havia um manual com os padrões internacionais específicos para as unidades de atenção primária. Havia padrões internacionais para os hospitais, ambulatórios, laboratórios clínicos e outros, mas nenhum contemplava nossa especificidade, principalmente no que se referia à relação que temos com a comunidade de Manguinhos. Foi então que a JCI resolveu criar um manual com os padrões internacionais para centros de atenção primária com a nossa participação nesta construção. O manual ficou pronto em 2008 e foi a partir deste ano que intensificamos todos os nossos esforços no cumprimento desses padrões de qualidade e segurança.


Qual a vantagem da acreditação para um Centro de Atenção Primária como o Centro de Saúde?

 

Emilia:
A atenção primária é o primeiro e principal contato do indivíduo e sua família com o sistema de saúde, sendo em muitos países o organizador do cuidado prestado à população. O grande mérito está em termos sido colaboradores para o desenvolvimento dos padrões internacionais pelo CBA/JCI, aplicáveis aos centros de atenção primária, demonstrando a importância deste nível de atenção à saúde para as organizações certificadoras. A grande vantagem é podermos demonstrar, pelo cumprimento dos padrões rígidos de qualidade e segurança, que oferecemos à população de Manguinhos um conjunto de ações que buscam ser efetivas, respeitando os direitos de cada cidadão, tornando-os parceiros nesta tarefa complexa que é o processo de construção do cuidado. Em tempos de críticas ao Sistema Único de Saúde e ataques à gestão pública, provamos que, com dedicação e compromisso, é possível alcançar um patamar desejável para todo e qualquer usuário do sistema de saúde. Sem falar na satisfação dos trabalhadores do centro de saúde com o ambiente de segurança e qualidade.

 

Quais foram os principais desafios do processo de acreditação no centro de saúde?

 

Emilia:
A mudança na cultura do trabalho foi, e continua sendo, o grande desafio que este processo de melhoria continuada e avaliação desencadeou em cada um dos trabalhadores do centro de saúde. Os exemplos são de toda a ordem, desde a transformação na forma de higienizar e limpar o ambiente, com a supressão da vassoura, passando pela identificação correta dos usuários, que devem ser chamados por seus nomes completos, até o que julgo ser um dos maiores problemas em qualquer serviço de saúde: o preenchimento completo, minucioso e legível do prontuário clínico, sem abreviaturas ou siglas.


Posso dizer, sem medo de errar, que hoje nenhum de nós, trabalhadores do CSEGSF exerce suas atividades sem a preocupação de perseguir a conformidade dos padrões afeitos às nossas tarefas cotidianas. Interessante é a constatação que, uma vez atingindo um patamar de qualidade na execução do trabalho, nenhum de nós consegue fazer o antigo caminho.

 

Como o centro de saúde se adequou para atender ao padrão de qualidade estabelecido pelo processo de acreditação?

 

Emilia:
Na verdade a Fiocruz se adequou, não apenas o Centro de Saúde. Somos um departamento da Ensp e, como tal, estamos submetidos aos processos determinados pelos diversos setores da escola. Aproveitamos como exemplo a infraestrutura da Ensp, e podemos relatar que este setor passou por um processo de mudança impactante para dar suporte as nossas necessidades de dar conformidade a muitos padrões de segurança e qualidade. O setor de Recursos Humanos, o setor de Compras e Contratos, que se constituem em setores de apoio da Ensp precisaram se adequar às nossas necessidades. 

 

Qual a missão institucional do centro de saúde?

 

Emilia:
Nossa missão é promover a saúde e cuidar da população referida, na integralidade da atenção, e desenvolver ensino, pesquisa e tecnologia em saúde pública. Somos um Centro de Saúde Escola, departamento da Ensp, responsável pelo compromisso tríplice de cuidar da saúde de Manguinhos, formar profissionais de saúde para o SUS, experimentar tecnologias aplicáveis no âmbito da atenção primária, que sejam fruto de pesquisas e investigações operacionais que respondam às demandas de saúde e de conhecimento científico e contribuam para o desenvolvimento social. Diante da responsabilidade de termos sido acreditados, procuramos estender para a formação e a pesquisa os mesmos critérios de qualidade, buscando melhorias contínuas, amparadas por processos avaliativos baseados em indicadores de acompanhamento

 

A acreditação é parte de um programa de melhoria contínua. Como manter, a partir de agora, esse padrão de qualidade?

 

Emilia:
Este é o grande desafio. Há dois aspectos fundamentais: o compromisso político com a manutenção da certificação, seja no âmbito do departamento, da unidade e da própria Fiocruz, independentemente da gestão à época, e o empenho de reunir todos os recursos necessários para o prosseguimento deste processo de forma harmônica e responsável. Sabemos que a manutenção da certificação implica uma busca permanente da melhoria da qualidade. Para isto, precisamos desde já de planejamentos bem fundamentados, seja para a manutenção dos padrões já atingidos, seja para a projeção (médio e longo prazo) de novos processos de trabalho. Os processos participativos na construção de indicadores de monitoramento, a notificação de eventos indesejáveis tratados de forma transparente, assim como o empenho de todas as lideranças são exemplos de alguns instrumentos de gestão interna deste processo.

 

Publicado em 13/4/2012.

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