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27/03/2008

Centros públicos atendem às necessidades em saúde mental de crianças e jovens

Fernanda Marques


Analisar os atendimentos registrados no primeiro ano de funcionamento dos Centros de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenis (Capsi), identificar o perfil da clientela atendida e verificar se esses serviços públicos estão cumprindo sua missão: estes foram os objetivos de uma pesquisa conduzida pelo Ministério da Saúde e pela Universidade Federal da Bahia, no âmbito de uma dissertação de mestrado profissional em saúde coletiva. Publicado na edição de março do periódico científico Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, o estudo mostra que “os atuais Capsi estão preenchendo uma lacuna histórica na atenção em saúde mental infanto-juvenil no SUS”. Segundo os pesquisadores Maria Cristina Hoffmann, Darci Santos e Eduardo Luiz Mota, que assinam o artigo, os centros conseguiram, em pouco tempo, atender a uma demanda que “contempla um conjunto amplo de transtornos psiquiátricos, esboçando uma forma de atenção de base comunitária, contrapondo-se assim ao modelo centrado no hospital”.


 Estima-se que mais de 2 milhões de brasileiros com menos de 21 anos possam se beneficiar com a rede de atenção em saúde mental

Estima-se que mais de 2 milhões de brasileiros com menos de 21 anos possam se beneficiar com a rede de atenção em saúde mental


Contudo, os autores também destacam que é preciso aprimorar o sistema de registro de informações sobre os Capsi. Dos 32 centros habilitados em 2002, somente sete registraram os atendimentos realizados durante todos os meses de 2003, ano considerado para o estudo. Esses sete Capsi eram localizados em Sorocaba, Cuiabá, Cambé (PR), Londrina, Contagem (MG), Uberaba e Uberlândia. Além disso, cinco dos sete centros contavam com um número de profissionais de nível médio menor do que o recomendado.


Cerca de 3% da população geral necessitam de cuidados contínuos em saúde mental. Dentro dessa estatística, portanto, estima-se que mais de 2 milhões de brasileiros com menos de 21 anos possam se beneficiar com a rede de atenção em saúde mental, em especial os Capsi. Nos sete centros que tinham registros completos, foram atendidos, no total, cerca de 1.500 crianças e jovens, em 2003, sendo a maioria do sexo masculino (62,8%).


Quanto ao diagnóstico, essas crianças e jovens apresentavam, principalmente, transtornos do comportamento e emocionais (44,5%), transtornos neuróticos (19,8%) e transtornos do desenvolvimento psicológico (14,2%). Problemas mais graves, como psicoses, transtornos do humor, esquizofrenia e autismo, acometiam 19,4% dos pacientes, percentual inferior ao esperado pelos pesquisadores, uma vez que o atendimento a casos severos e persistentes constitui o principal objetivo dos Capsi.


A forma de cuidado oferecida às crianças e jovens também foi analisada. Metade dos usuários foi atendida na modalidade não intensiva, isto é, as consultas eram feitas quinzenalmente ou três vezes por mês. Em torno de 40% receberam atendimento semi-intensivo (três dias por semana). E apenas 10% da clientela foram atendidos na modalidade intensiva (cinco dias por semana).


Nenhum dos sete centros estudados registrou atendimento de jovens com transtornos mentais ou comportamentais devido ao uso de álcool ou outras drogas, embora as normas dos Capsi contemplem os cuidados com esses pacientes. De acordo com os pesquisadores, os motivos de não ter havido esse tipo de atendimento podem estar relacionados à incorporação deste tema apenas recentemente no campo da saúde pública. Entre as recomendações, destaca-se a necessidade de “investimentos na formação de recursos humanos especialmente para atender problemas decorrentes do uso de álcool e outras drogas na população infanto-juvenil”.

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