Início do conteúdo

27/07/2007

Chega a noite e mais de 400 estudantes mantêm a Fiocruz em atividade

Adriana Melo e Fernanda Marques


Marcio Monteiro da Paz tem 48 anos, há nove trabalha como auxiliar de laboratório em Biomanguinhos, unidade produtora de vacinas da Fiocruz, e quer se especializar como técnico de biodiagnóstico em saúde. Cristiano Soares, 31, trabalha com aparelhos de ar condicionado na Fundação, mas em breve deve mudar de carreira, pois ele já é aluno do curso no qual Marcio quer se matricular. Roseane Laranjeira, 22, faz cursinho pré-vestibular porque pretende ingressar numa faculdade de ciências humanas. Hermógenes Ribeiro, 40, é iluminador no Museu da Vida da Fiocruz e quer fazer um curso superior que o ajude a se aperfeiçoar na área. Todos os dias à noite, os quatro vão para o mesmo lugar: a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), no campus da Fiocruz em Manguinhos, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Na unidade funcionam o curso técnico de Cristiano, o pré-vestibular de Roseane e de Hermógenes e o Programa de Educação de Jovens e Adultos (Peja), do qual Marcio participa.


 Toda a infra-estrutura da Escola, como o auditório e a biblioteca, está à disposição dos alunos da noite (Foto: Ana Limp)

Toda a infra-estrutura da Escola, como o auditório e a biblioteca, está à disposição dos alunos da noite (Foto: Ana Limp)


Quem pensa que depois que o sol se põe a Fiocruz pára está enganado. Mais de 400 alunos circulam pelos corredores da EPSJV depois das 17h. Eles estão matriculados em cinco turmas de Ensino Fundamental e três de Ensino Médio do Peja, uma de curso técnico de biodiagnóstico em saúde  e duas do pré-vestibular Construção, que começou a funcionar este ano. “O diferencial do pré-vestibular na Politécnica é a infra-estrutura. Os laboratórios estão à disposição das turmas. Os professores combinam teoria e prática, principalmente em biologia e física. Isso nos ajuda a fixar os conteúdos e torna as aulas mais interessantes, o que é muito importante, já que nós, alunos,  trabalhamos o dia todo e chegamos cansados à Escola. Se as aulas não fossem atraentes, não conseguiríamos aprender”, diz Hermógenes, que ficou sabendo do curso por um colega de trabalho da Fiocruz e se animou porque poderia trabalhar e estudar perto de casa.


O Peja começou a funcionar na Fiocruz em 1997, associado à Cooperativa dos Trabalhadores Autônomos do Complexo de Manguinhos (Cotram) a partir de uma parceria com a Vice-presidência de Gestão do Trabalho e Programas Sociais e as diretorias de Administração do Campus (Dirac) e de recursos humanos (Direh). Desde 2005 as turmas têm aulas no prédio da Politécnica. Foi assim que tiveram início as atividades noturnas na Escola. Criada para atender as necessidades dos funcionários da Fundação, a iniciativa logo foi estendida para seus familiares e a comunidade do entorno. No ano seguinte, o curso técnico de biodiagnóstico em saúde, o mais concorrido da instituição, foi o escolhido para ganhar uma versão à noite. A primeira turma noturna se forma em dezembro de 2007. “É uma espécie de projeto piloto. A idéia é ampliar a oferta com outros cursos técnicos no horário”, explica a pedagoga Anakeila Stauffer, assessora da vice-direção de Ensino e Informação da EPSJV e coordenadora das atividades noturnas.


Cristiano, que teve excelentes resultados no Ensino Médio do Peja na Politécnica, foi selecionado para essa primeira turma. Ao concluir o curso, pretende continuar trabalhando na Fiocruz, mas quer trocar a refrigeração pela histologia, sua matéria preferida. “O curso é ótimo. Todos os professores são muito competentes", avalia. É de fato grande a preocupação com a qualidade do ensino. Além da grade curricular, a escola oferece pelo menos uma vez por mês uma atividade extra-classe, como saraus, apresentações de teatro, palestras, debates, oficinas, exibição de filmes e documentários, além de eventualmente organizar visitas a exposições e centros culturais nos fins-de-semana.


Toda a infra-estrutura da Escola está à disposição dos alunos da noite, não só os laboratórios, mas também a sala de informática, o auditório e a biblioteca. Com mais de 3.800 livros, além de periódicos científicos, obras de literatura e referência, a biblioteca da Politécnica oferece ainda aos seus alunos um laboratório de pesquisa acadêmica com 23 computadores conectados à internet, quatro salas para estudo em grupo também equipadas com computadores e uma sala de multimídia.


Embora a biblioteca seja voltada à educação profissional em saúde, ela aposta na formação integral do aluno. Por isso, seu acervo não deixa a desejar em outras disciplinas. Pelo contrário. “Os livros que leio na biblioteca são, principalmente, de história e filosofia. Já cheguei a ler cinco livros ao mesmo tempo”, conta Roseane. “Embora esteja em uma instituição de saúde, encontro na Politécnica livros sobre vários assuntos”, garante. Como Roseane, Marcio é freqüentador assíduo da biblioteca. Ele sai às 16h do trabalho e, como seu curso começa às 17h30, não dá tempo de passar em casa. Por isso, vai diariamente à biblioteca. Aproveita o tempo lendo. "Adoro literatura. Mas também estudo livros de física, biologia e português", diz.


Segundo a coordenadora da biblioteca da EPSJV, Sarah Tavares, o acervo está à disposição não só dos estudantes da Politécnica, mas de toda a comunidade. Por ser uma biblioteca pública, está de portas abertas a todos. É comum que professores das escolas da região encaminhem seus alunos para lá, sabendo que serão bem orientados e terão à sua disposição um acervo atualizado. “Em 2006, tivemos 958 consultas durante todo o ano. Em 2007, só até abril já foram mais de 2.200”, acrescenta o gestor administrativo da biblioteca, Mário Cezar Mesquita.


Esses números refletem o sucesso das atividades noturnas de ensino na instituição. “Nosso maior desafio é expandi-las e integrar os alunos e professores do dia com os da noite”, afirma Anakeila. Para promover essa integração, recentemente, enquanto os professores da educação de jovens e adultos estavam em reunião, professores-pesquisadores que trabalham durante o dia realizaram oficinas com os alunos da noite, a partir da exibição do filme Narradores de Javé. “A atividade teve tanto êxito que já estamos planejando as próximas sessões de cinema e oficina”, adianta Anakeila. Também estão nos planos da Poli implementar o Programa de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (Proeja), um programa do Ministério da Educação onde se alia a educação de jovens e adultos à formação técnica.

Voltar ao topo Voltar