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09/11/2007

China sai na frente rumo à vacina contra hepatite E

Fernanda Marques


Uma empresa de biotecnologia da China – a Xiamen YST Biotech – é a companhia mais avançada do mundo nos testes clínicos de uma vacina inédita contra a hepatite E, doença que já foi responsável por epidemias no centro e sudeste da Ásia, no norte e oeste da África e na América Central. A companhia também promete uma vacina mais barata contra o papiloma vírus humano (HPV), agente capaz de induzir lesões de pele ou mucosa que podem se transformar em tumores malignos.


O gerente geral da Xiamen YST Biotech, Steven Gao, estará no Brasil de 11 a 14 de novembro para participar da 8ª reunião anual da Rede de Produtores de Vacinas dos Países em Desenvolvimento. O evento é promovido pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Biomanguinhos), unidade de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e produção de vacinas da Fiocruz.


Na fase 1, os pesquisadores se certificaram da segurança da vacina contra hepatite E para dar prosseguimento aos testes. Na fase 2, avaliaram a dose e o esquema de vacinação. “Planejamos nosso estudo de fase 2 de modo que ele permitisse também determinar a eficácia da vacina”, conta Gao. “Mostramos que ela é imunogênica e tem, pelo menos, 83% de eficácia contra a infecção pelo vírus da hepatite E”.


A companhia já deu início à fase 3 da pesquisa, que está sendo conduzida no leste da China. “Esta etapa envolve uma população muito maior e visa comprovar que a vacina é eficaz contra a doença causada pelo vírus da hepatite E”, explica Gao. Na fase atual, a primeira dose da vacina já foi administrada a cerca de 100 mil indivíduos. A segunda dose está prevista para novembro deste ano e a terceira, para abril de 2008.


No Brasil, embora pesquisas demonstrem a ocorrência da infecção pelo vírus da hepatite E devido à ingestão de água e alimentos contaminados, não há relatos de epidemias. Existem duas formas de hepatite E, a zoonótica e a epidêmica. Esta é comum no centro e no sul da Ásia, onde a transmissão ocorre, sobretudo, pelo consumo de água contaminada. Nesse caso, ao prevenir a infecção de humanos, a vacinação pode reduzir a quantidade de vírus depositados no meio ambiente e, assim, não só proteger contra a hepatite E, mas também, eventualmente, erradicar o vírus da população – de maneira similar ao que a vacina contra hepatite A vem fazendo.


No entanto, no caso da forma zoonótica – hepatite viral aguda mais comum hoje em muitas partes da China –, a vacinação pode apenas proteger contra a doença. Para erradicar a forma zoonótica, seria necessário vacinar também os porcos – reservatórios animais do vírus da hepatite E.


Vacina contra HPV


A Xiamen YST Biotech está trabalhando no desenvolvimento de três novas vacinas contra o HPV, vírus que apresenta diferentes genótipos. Primeira nos planos da empresa chinesa, a vacina bivalente protegeria contra os genótipos 16 e 18, os mais associados ao câncer cervical em mulheres do mundo inteiro. A quadrivalente, contra 6, 11, 16 e 18. E a hexavalente, contra 6, 11, 16, 18, 52 e 58. “O genótipo 58 tem alta taxa de incidência entre as mulheres chinesas”, comenta Gao.


As vacinas bivalente e quadrivalente já foram desenvolvidas por laboratórios farmacêuticos multinacionais. No entanto, os produtos da Xiamen YST Biotech prometem um importante diferencial: o custo reduzido. Enquanto os sistemas atuais de produção envolvem leveduras e células de inseto, o da empresa chinesa utiliza a bactéria E. coli, que, segundo Gao, seria mais barato. “Também desenvolvemos procedimento de purificação mais simples, adequado para larga escala, que diminui bastante os custos”, completa o gerente geral, cuja equipe já estabeleceu outras técnicas para garantir a qualidade da vacina.

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