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07/08/2006

Christophe Dejours Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho

por Sarita Coelho














Christophe Dejours: da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho

Organizadores: Selma Lancman e Laerte Idal Sznelwar

Editora Fiocruz e

Editora PARALELO 15

346p. R$ 48,00







 


 


O trabalho é obrigação ou prazer? Tortura ou realização? O conflito entre satisfação e sofrimento no trabalho é objeto de estudo da psicodinâmica do trabalho, linha de pesquisa inaugurada pelo francês Christophe Dejours. As origens teóricas para formação desse pensamento, pouco conhecidas no Brasil, acabam de ser publicadas no livro Christophe Dejours: da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho, recém-lançado pela Editora Fiocruz. A obra reúne textos do cientista jamais publicados em nossa língua, além de contribuições de outros estudiosos no campo da psicopatologia do trabalho.


O pesquisador francês estudou situações de trabalho geradoras de elevado nível de sofrimento para o funcionário. Em todas elas, os sofredores criavam estratégias para lidar com seu o sentimento e continuar trabalhando. O profissional passava por um processo doloroso de confronto com seus colegas, relegando sua condição de trabalho a um plano escondido, recalcado e silencioso. Essa constatação trouxe uma nova perspectiva para os estudiosos da saúde ocupacional, acostumados a raciocinar a partir de dados visíveis, como doenças e acidentes de trabalho.


Os estudos de Dejours citados na obra mostram que o reconhecimento com relação àquilo que é realizado é fundamental para a motivação do trabalhador. Na medida em que o funcionário é valorizado, ele é capaz de responder com iniciativa e criatividade. Mas, quando essa motivação não acontece, são dadas ao trabalhador as condições para que ele responda com desinteresse e desprezo pelo que realiza e não veja qualquer sentido na sua atividade.


Outro fator fundamental para o bem-estar do profissional é a criação de um ambiente público destinado à troca de experiências entre os funcionários da empresa. Quando essa troca de informações ocorre, é possível alcançar retornos positivos, como a diminuição dos riscos de acidentes de trabalho. No exemplo citado no livro, uma maior convivência em espaços públicos entre empregados de uma central nuclear foi seguida por um aumento nos níveis de segurança do sistema.


Os artigos também chamam a atenção para as conseqüências negativas decorrentes da falta de diálogo entre os funcionários de uma empresa. Quando isso acontece, podem ser detectadas situações como degradação do coleguismo, exacerbação dos conflitos entre profissionais e distanciamento ainda maior entre os operadores e a supervisão. Os estudiosos destacam o aparecimento de sofrimento psíquico por conta de uma maior individualização decorrente da desconfiança existente entre as equipes de trabalho e entre integrantes de uma mesma equipe.


Christophe Dejours é psiquiatra, psicanalista e professor do Conservatoire Nationale Dês Arts et Métiers (CNAM), uma instituição pública ligada ao Ministério da Educação francês. Seus ensinamentos sobre os impactos da organização do trabalho sobre a saúde mental do trabalhador são especialmente utilizados por sociólogos, filósofos, estudantes, sindicalistas, entre outros interessados nas questões da saúde do trabalhador.

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