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20/06/2011

Ciência brasileira perde Otto Gottlieb

João Paulo Soldati


Morreu na manhã desta segunda-feira (20/06), aos 91 anos, Otto Gottlieb, um dos maiores cientistas do Brasil. Otto Gottlieb foi indicado ao Prêmio Nobel de Química em 1999, pelos estudos sobre a estrutura química das plantas que permitem analisar o estado de preservação de vários ecossistemas brasileiros. O pesquisador foi responsável pela implantação do laboratório de fitoquímica da Universidade de Brasília (UnB). Em seguida, tornou-se pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), no qual atuou até a sua aposentadoria, em 2001, no antigo Departamento de Fisiologia e Farmacodinâmica. Desde 1961 era membro da Academia Brasileira de Ciências (ABL). O sepultamento ocorrerá nesta terça-feira (21/6), às 12h, no Cemitério Comunal Israelita do Caju, no Rio de Janeiro.


 Otto Gottlieb (Foto: Jorge Carvalho)

Otto Gottlieb (Foto: Jorge Carvalho)


Nascido na antiga Tchecoslováquia, na cidade de Brno, em 1920, Otto Richard Gottlieb viveu 72 anos de sua vida no Brasil. Em 1939, chegou ao Rio de Janeiro com a família, após passar pela Badingham College, na Inglaterra. Filho de mãe brasileira natural de Petrópolis, aos 21 anos optou pela nacionalidade brasileira. Graduado em química industrial pela então Universidade do Brasil - atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) -, o cientista trabalhou em diversas indústrias químicas do país e exterior. O jovem cientista trabalhou inclusive por dez anos na indústria química do pai, que fabricava óleos essenciais da flora brasileira, utilizados como matéria-prima de perfumaria. Logo em seguida, ele concorreu e ganhou uma bolsa de estudos do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas (CNPq), iniciando uma investigação sobre o isolamento de substâncias químicas de plantas e a determinação de sua estrutura.


Em 1963, Gottlieb chefiou a implantação do Laboratório de Fitoquímica da Universidade de Brasília (UnB), transferindo-se para a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Já em 1967, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Gottlieb criou o Laboratório de Química de Produtos Naturais no Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP). Integrando a química à biologia, à ecologia e à geografia, Gottlieb desenvolveu uma nova área de estudo no campo da química de produtos naturais: a sistemática bioquímica das plantas, também chamada de quimiossistemática ou taxonomia química, que consiste na identificação de grupos de substâncias químicas presentes nas plantas. Ele lecionou na USP até 1990. Entre 1991 e 2001, atuou como pesquisador-visitante do Departamento de Fisiologia e Farmacodinâmica do IOC/Fiocruz, quando se aposentou. Desde 2007 Gottlieb era pesquisador emérito do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia.


Gottlieb dedicou sua vida à preservação e ao estudo do patrimônio vegetal brasileiro. Com mais de 700 trabalhos publicados, ele sempre buscou uma resposta química para algum problema biológico. Estudou, entre outras espécies, as lauráceas e miristicáceas. Seus estudos sobre a canela trouxeram ao conhecimento público algumas aplicações medicinais, fitoterápicas e culinárias da espécie, além das propriedades aromáticas utilizadas na indústria cosmética.


Publicado em 20/6/2011.

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