Agência Fiocruz de Notícias

Quando os primeiros casos de Aids foram identificados no Brasil, a mídia logo se interessou pela misteriosa síndrome que alarmava a população e desafiava pesquisadores. Sem a devida orientação, os meios de comunicação não hesitaram em difundir manchetes como A sombra da Aids, Vírus atinge também grupo dos “gays” sadios ou Aids – a paranóia da doença se espalha e cresce a procura pelos testes.

“O isolamento do vírus é um marco histórico da epidemia da Aids no Brasil, que repercutiu sobre toda a sociedade e não só entre a comunidade científica ou as pessoas infectadas. Misturado ao preconceito, o pouco conhecimento sobre a doença produziu estigmas alarmistas, multiplicados pela imprensa. Como produtores de conhecimento científico, tínhamos o dever de capacitar os profissionais de comunicação para informar corretamente a sociedade. E assim foram criados na Fiocruz os primeiros cursos de imunologia e biologia celular e molecular para jornalistas”, conta Bernardo Galvão.

Integrante da turma de repórteres que começava a se especializar em ciência por mieo dos cursos oferecidos pela Fiocruz, o jornalista Edmilson Silva, que realizou a cobertura do isolamento do HIV-1 pelo Jornal do Brasil, reconhece a influência da iniciativa em sua carreira. “A cobertura jornalística sobre qualquer assunto exige um estudo prévio do tema, para que o repórter não atue como mero reprodutor de versões. Para exercer o papel do jornalismo, que é esclarecer a população – e isso era fundamental no contexto da epidemia da Aids na década de 1980 –, é preciso realmente entender sobre o que se escreve. E os cursos cumpriram a missão de educar os repórteres para tratar de ciência”, considera o atual consultor da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas).