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24/12/2005

Cineclube da EPSJV leva o cinema à comunidade de Manguinhos

Fernanda Buarque de Hollanda


Nesta terça-feira (13/12) o Cinemargem, cineclube da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), exibiu a sexta sessão desde a sua inauguração, em 6 de setembro deste ano. O longa-metragem O que é isso companheiro? foi também o quinto filme que a estudante Célia Marins assistiu neste ano. Aluna do Ensino Médio, integrante do Programa de Jovens e Adultos - curso noturno para integrantes da Cooperativa dos Trabalhadores de Manguinhos (Cootram) e moradores das comunidades vizinhas ao campus da Fiocruz - Célia esteve presente nas cinco sessões do Cinemargem.


"Os filmes que mais gostei até agora foram Cinema Paradiso e Billy Elliot, porque mostram a realidade, as dificuldades pelas quais passamos para chegar a algum lugar. Eles me ajudam a orientar meus filhos adolescentes, a explicar a eles que é preciso ter paciência e perseverança", comenta a estudante, que só não viu Nelson Freire, último filme exibido na programação do cineclube da Escola, porque teve uma prova marcada no mesmo horário.


A utilidade atribuída por Célia aos filmes apresentados para a sua relação com a família e com as expectativas de vida traduz uma das motivações pela qual os idealizadores do projeto Cinemargem buscaram sua concretização. Desde o início do ano, os profissionais da EPSJV Cláudio Gomes, Gregório Albuquerque, Márcio Rolo, Renata Reis, Sergio Munck e Verônica Soares procuravam viabilizar o cineclube, pois viam no projeto uma forma de "provocar a necessidade de se discutir a importância da cultura na formação de todos nós".


Com o apoio da direção, os profissionais passaram a buscar então condições físicas para adequar o auditório da unidade para a exibição de filmes. No mês de julho, os vidros da sala 111 foram forrados com insulfilm e a Escola adquiriu um telão para projetor multimídia. Desde então vêm sendo feitos contatos com possíveis palestrantes para os temas dos filmes exibidos, pois após as sessões são feitos debates com o público. Entre os convidados do Cinemargem estiveram a historiadora Lorelai Brilhante Kury, da Casa de Oswaldo Cruz (COC), que falou sobre o documentário Nós que aqui estamos por vós esperamos, e o ator Emanoel Cavalcanti, debatedor de Fábio fabuloso.


Segundo os organizadores, os debates costumam ter participação significativa por parte do público, principalmente por aquele que freqüenta as sessões de sábado, cujas platéias são formadas predominantemente por moradores do entorno. Uma das explicações seria o fato de que estas sessões têm um menor público e que por isso os espectadores ficariam mais à vontade para expor opiniões. Dos filmes apresentados até o momento, aqueles exibidos durante a semana tiveram maior freqüência - Cinema Paradiso foi assistido por cerca de 160 pessoas e Nós que aqui estamos por vós esperamos por 80 - do que os títulos apresentados aos sábados - Fábio fabuloso totalizou uma margem de 20, o mesmo número de espectadores de Billy Elliot.


Contrariando esta hipótese, o aluno da 3ª série do curso técnico de nível médio em saúde André Menezes expressou sua satisfação ao participar do debate sobre o filme Nelson Freire, exibido em 9 de novembro, para um público formado basicamente por professores e profissionais da Escola. "Na minha vida escolar, nunca presenciei um momento de debate tão aberto, em que eu me sentisse tão inserido", revela.


A integração entre aluno e professor à qual se refere o estudante é uma das metas que o projeto do cineclube da EPSJV almeja. Proposto por Cláudio Gomes, o nome Cinemargem foi aceito pelo demais organizadores por exprimir o desejo de união entre universos diferentes, como o corpo docente e discente, os alunos do curso diurno e os do curso noturno e os trabalhadores da Cootram e os da Fiocruz.


"Acho que o nome sintetiza o espírito do conto de Guimarães Rosa, A terceira margem do rio, - que mostra alguém que inventa um novo lugar para viver - com a margem do rio que passa à esquerda do prédio do Politécnico e que é a metáfora perfeita dos dois Brasis. O Cinemargem quer, através do cinema, integrar estes dois mundos", esclarece um dos idealizadores, o professor Márcio Rolo.


O Cinemargem exibe dois filmes a cada mês, em sessões que ocorrem em um dia entre segunda e sexta, às 17h30, e aos sábados, às 14h30, na sala 111 da EPSJV. Dirigida por Bruno Barreto, a produção nacional O que é isso companheiro? conta a história de um grupo de jovens que, em pena ditadura militar, seqüestra o embaixador americano no Brasil como forma de pressionar o governo a atender às suas exigências. Para falar sobre o filme, a convidada foi a professora e pesquisadora da EPSJV Lúcia Neves.




 

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