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26/11/2007

Claves completa 18 anos e promove seminário internacional sobre violência e saúde


Um dos mais produtivos núcleos de pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp) da Fiocruz, o Centro Latino Americano de Estudos sobre Violência e Saúde Jorge Careli (Claves) completa 18 anos de existência oferecendo um cardápio de pesquisas e discussões sobre violência e saúde no seminário internacional Perspectivas de enfrentamento dos impactos da violência sobre a saúde pública. Em foco: América Latina, de 27 a 29 de novembro, com especialistas das Américas. O evento será realizado no Centro de Convenções do Hotel Glória, no Rio de Janeiro.


 Simone Assis: o evento vai elaborar uma carta propositiva aos ministérios da Saúde dos países participantes (Foto: Ana Claudia Câmara)

Simone Assis: o evento vai elaborar uma carta propositiva aos ministérios da Saúde dos países participantes (Foto: Ana Claudia Câmara)


A programação inclui análises e estudos sobre a situação dos profissionais de saúde frente à violência, sobre os impactos desta sobre crianças, adolescentes, idosos, homens, mulheres e deficientes, sobre o papel da mídia na prevenção da violência, sobre a importância da avaliação do serviço de atendimento às vítimas, entre outros temas. Além de promover reflexões, o encontro também visa elaborar, no último dia, uma carta propositiva aos ministérios da Saúde dos países participantes, contendo planos de atuação para as áreas onde a violência constitui grave problema de saúde pública. Simone Gonçalves de Assis, coordenadora e executiva do Claves, conversou com o Informe Ensp sobre a organização do evento, seus objetivos e sobre o novo status do Claves na estrutura da Escola, aprovado pelo Conselho Deliberativo da Ensp.


Qual o objetivo do seminário internacional do Claves?

Simone Assis:
O objetivo é sistematizar uma reflexão e potencializar intercâmbios entre alguns países latino-americanos sobre várias formas de violência social e sobre o papel do setor saúde na redução desse grave problema, que afeta o desenvolvimento regional e a saúde da população. O escopo do evento se desdobra nos seguintes objetivos: socializar e aprofundar análises da situação da morbimortalidade por violência na América Latina; conhecer e socializar experiências bem sucedidas e que têm impacto sobre a realidade social brasileira, realizadas pelo setor saúde e intersetorialmente; propor uma pauta de ação conjunta entre os países participantes, iniciando-se assim um intercâmbio entre propostas, pesquisadores e gestores públicos do setor saúde; comemorar os 18 anos de existência do Centro Latino Americano de Estudos sobre Violência e Saúde Jorge Careli, reconhecendo sua atuação no âmbito nacional e potencializando seu papel na América Latina. Temos palestrantes da Argentina, Venezuela, Colômbia e Honduras, traçando um paralelo da situação brasileira com a existente na área da saúde e violência desses países. Temos também palestrantes da Espanha, Canadá e EUA.


Como o evento está organizado?

Simone:
O seminário está dividido em temas específicos trabalhados pelo Claves ao longo de sua existência. Em todas as mesas teremos uma apresentação do Claves e outra de convidado externo. Teremos no dia 28 os seguintes temas: propostas do sistema de saúde para o enfrentamento da violência nos países representados; impacto da violência sobre a saúde de crianças e adolescentes e perspectivas de atendimento às vítimas e seus familiares; impacto da violência sobre a saúde dos idosos e perspectivas de atendimento às vítimas e seus familiares; violência e gênero: impacto da violência sobre a saúde de homens e mulheres e perspectivas de atendimento às vítimas e seus familiares; impacto e da violência sobre a saúde de portadores de deficiência e perspectivas de atendimento às vítimas e seus familiares. No dia 29 as apresentações seguem com outras temáticas: impacto da violência sobre a saúde de jovens em situação de risco social e perspectivas de atendimento às vítimas e seus familiares; impactos da violência sobre a saúde dos profissionais de saúde e segurança pública e perspectivas de atendimento às vítimas e seus familiares; o papel da mídia na prevenção da violência; a importância da avaliação dos serviços de atenção às vítimas de violência. Para finalizar faremos um debate sobre a carta propositiva aos ministérios da Saúde dos países participantes sobre o atendimento às vítimas de violência no país. Durante todo o evento, haverá apresentação, em formato de posters e outras mídias, de projetos voltados para a promoção da vida e o enfrentamento da violência.


Que trabalhos destaca?

Simone:
Acho difícil destacar alguns. Listo, a seguir, os trabalhos dos convidados externos ao Claves, com suas especificidades. Na área dos dados epidemiológicos, temos três importantes pesquisadores: Hugo Spinelli (Argentina), Roberto Briceno-Leon (Venezuela) e Saul Franco (Colômbia). Com ampla experiência na temática da agressividade e violência infantil, tanto no Canadá quanto no Brasil, trazemos Marc Bigras, da Universidade de Québec, em Montreal. Para apresentar a realidade da violência entre idosos, nosso convidado externo é Antonio Moya Bernal (Observatorio de Personas Mayores/Espanha). Para discutir o tema da violência de gênero, temos uma das mais importantes pesquisadoras brasileiras, Lília Schraiber (Universidade de São Paulo). O tema pouquíssimo conhecido da violência em pessoas com deficiências será abordado pelo Edward Goldson (Children’s Hospital/Denver).


A violência entre jovens ficou a cargo de Miriam De Leon Kestler, que desenvolve interessante trabalho com o Médicos sem Fronteiras de Honduras. Outro profissional dos Médicos sem Fronteiras - Espanha - abordará a experiência ímpar desses profissionais no cuidado aos profissionais de saúde que lidam com clientela em situação de violência - Carla Uriarte.


Também Veet Vivarta (diretor-editor da Agência de Notícias dos Direitos da Infância - Andi) apresentará o tema da mídia e Maria Fernanda Peres (USP) discutirá a importância da avaliação na área da violência e saúde. Nós do Claves também estaremos apresentando em todas essas mesas, trazendo dados oriundos de nossas pesquisas e experiência. Nas mesas também contaremos com o apoio de parceiros nacionais que têm atuado na área da violência e saúde, como SAS/MS, SVS/MS, Unicef, Sedh, Promundo, Corde/MJ, Uerj e CESeC. Esses convidados farão a coordenação das sessões de trabalho.


Como surgiu o Claves, há 18 anos e qual é o seu foco de atuação?

Simone:
O Claves foi aprovado na Ensp em 28/11/1989, com a vinda do professor Saul Franco, da Colômbia, que veio para o Brasil fugindo da violência existente naquele país. Com o apoio de Sergio Arouca e Paulo Buss, foi obtido espaço físico, bem como a participação de pesquisadores dos Departamentos de Epidemiologia e Ciências Sociais da Ensp. No ano seguinte, Saul Franco foi para a OPS, em Washington, e Cecília Minayo assumiu a coordenação. Muitos desafios foram enfrentados desde o início.


Com quadro de pesquisadores pequeno, o Claves procurou diversificar suas linhas de pesquisa e atuação, hoje englobando estudos de morbimortalidade por causas externas; estudos filosóficos e antropológicos sobre violência e saúde; estudos sócio-epidemiológicos sobre violência em crianças, adolescentes e jovens; informação e comunicação sobre violência e saúde; violência contra o idoso; violência e gênero; violência e portador de deficiência; violência e segurança pública; desenvolvimento de metodologias de avaliação de programas e serviços; e desenvolvimento de metodologias para a elaboração de materiais instrucionais voltados para prevenção da violência e promoção da vida.



Atuamos com ênfase na área de formação de recursos humanos strictu e latu sensu; temos dois cursos - um presencial e outro a distância - sobre violência e saúde; nos dedicamos muito a publicação de livros e artigos científicos, bem como a produção de guias direcionados à formação de profissionais de saúde e educação na área da violência e saúde; estamos criando, em consonância com o Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica (Icict/Fiocruz) e a Bireme, a Biblioteca Virtual em Saúde sobre Violência e Saúde; investimos também muito de nosso trabalho na articulação interinstitucional com órgãos governamentais e não governamentais, nacionais e internacionais, com destaque para nossa importante participação na Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências.


O Conselho Deliberativo da Ensp aprovou o Claves como núcleo da Escola. O que isso significa?

Simone:
Finalmente, agora em 2007, o Claves passa a existir administrativamente para a Fiocruz. Uma grande vitória é ter conseguido nos manter unidos, apesar de tantas dificuldades e, por vezes, da falta de visibilidade institucional e de recursos. Recentemente, essa situação começou a mudar com a maior legitimidade institucional, aumentando ainda mais os desafios e nossa responsabilidade dentro e fora da Fiocruz. Esperamos manter a energia e a alegria com que temos atuado nos próximos anos, trabalhando ainda mais para que o tema da violência e seus impactos na saúde reverbere ainda nos serviços e entre os profissionais brasileiros de saúde, melhorando a qualidade de vida e de atenção à saúde no país.


Fonte: Informe Ensp

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