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11/12/2012

Coletânea sintetiza as principais linhas teóricas da antropologia médica

Fernanda Marques


Originalmente publicado em francês, no Canadá, e depois traduzido para o inglês, o livro Antropologia médica: abordagens locais, desafios globais acaba de ganhar uma edição em português, com o selo da Editora Fiocruz. Organizada por Francine Saillant e Serge Genest, a coletânea é referência para antropólogos que estudam as relações entre cultura, sociedade e saúde. Ela se dirige também a todos aqueles que atuam na saúde coletiva na expectativa de contribuir com a reflexão sobre o respeito às diferenças socioculturais e para a formulação de políticas e programas de saúde mais inclusivos.




 

A obra apresenta o estado da arte da antropologia médica em diferentes países, oferecendo ao leitor uma síntese que cobre as principais linhas teóricas e paradigmas desse campo. A antropologia médica começou a ganhar destaque no cenário internacional na década de 1970, sobretudo a partir de autores franceses e norte-americanos. Atualmente, o campo exibe grande vitalidade acadêmica, como demonstra o crescente número de revistas especializadas, associações, congressos e programas de formação em universidades. Contudo, ainda há desafios a serem superados, como a fragmentação dos trabalhos.

 

“Convidamos, então, os leitores para uma leitura polifônica e multissituada da antropologia médica”, afirmam os organizadores. As duas primeiras partes do livro apresentam perspectivas locais sobre a antropologia médica. Ao lado de artigos sobre os casos da França e dos Estados Unidos, há capítulos que enfatizam outros países da Europa, como Espanha, Itália e Grã-Bretanha, e das Américas, como Brasil, Canadá e México. O objetivo não é defender abordagens locais, mas reconhecer a importância das articulações entre o local e o global. Nessa linha, o livro revisita antigas temáticas da antropologia, como as relações entre o universal e o particular, a natureza e a cultura, o biológico e o social, à luz de novas questões, como gênero e política. A esses aspectos é dedicada a terceira parte da coletânea, que discute perspectivas transversais.


Fica claro que, embora a antropologia não seja, classicamente, um campo de intervenção, cada vez mais ela não se furta de chamar a atenção para problemáticas sociais. E, no caso da antropologia médica, essas problemáticas incluem decisões sobre a vida e a morte que não podem ficar restritas aos médicos: são questões pertinentes, por exemplo, à bioética e ao acesso às terapêuticas. Ao trazer para o debate esses assuntos, a antropologia médica reafirma sua necessária autonomia.


Se, nos seus primórdios, a antropologia médica centrava esforços no estudo das práticas de cura dentro de sistemas religiosos ou de medicinas não ocidentais, hoje ela exibe abordagens mais críticas sobre o caráter hegemônico da biomedicina. “Na década de 70, os trabalhos dos antropólogos tornaram-se cada vez mais críticos em relação ao que eles percebiam como desumanização da biomedicina, seu reducionismo biológico, sua tecnicidade, sua hegemonia, sua conivência com o establishment e as empresas, sua insensibilidade diante das outras formas de saber”, resumem os organizadores. “Não se trata de pensar a partir do ponto de vista da biomedicina a qualquer preço, mas de melhorar as condições de vida para todos e de lembrar que, para alguns, escolher salvar uma vida não equivale necessariamente a escolher este ou aquele tipo de medicina”, completam. Assim, “a antropologia médica do século 21 se inscreve a partir de agora na interseção de problemáticas ampliadas, de mudanças de escala”. Ou, conforme o próprio subtítulo da coletânea, entre as ancoragens locais e os desafios globais. Antropologia médica: ancoragens locais, desafios globais foi traduzido por Vera Lucia dos Reis, com revisão técnica de Jaqueline Ferreira.


Publicado em 7/12/2012.

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