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13/01/2012

Comportamentos de risco à saúde de pais influenciam o estilo de vida dos filhos

Danielle Monteiro


O processo de urbanização, industrialização e desenvolvimento tecnológico ocorrido nas últimas décadas tem provocado impactos nem sempre positivos na sociedade. Um desses impactos são as mudanças no estilo de vida da população, que contribuem para o crescimento de doenças e agravos não transmissíveis, inclusive em jovens. É cada vez mais precoce a exposição de adolescentes a comportamentos que desencadeiam o surgimento de doenças cardiovasculares, diabetes e câncer, conforme apontam pesquisas. Mas, o que levam os jovens a adotar condutas de risco à saúde? O estilo de vida dos pais exerceria alguma influência nesse tipo de comportamento? É o que tentaram responder pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas e da Prefeitura de Barão do Triunfo (RS), em estudo publicado na edição de dezembro dos Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz.


 A pesquisa também indicou baixa adesão à alimentação saudável entre os pais e filhos

A pesquisa também indicou baixa adesão à alimentação saudável entre os pais e filhos


“No Brasil, são quase inexistentes estudos que relacionam a exposição a comportamentos de risco à saúde entre pais e adolescentes, principalmente em moradores da zona rural”, argumentam os estudiosos que, para a pesquisa, avaliaram a associação entre condutas de risco à saúde de 338 pais e 377 adolescentes do Ensino Fundamental, na zona rural de Barão do Triunfo. Na avaliação, realizada entre março e setembro de 2010, foram utilizadas variáveis como nível de atividade física, hábitos alimentares, tabagismo, consumo de álcool e excesso de peso.


Os resultados mostram que 6,7% dos adolescentes, 46,5% dos pais e 13,6% das mães relataram ter fumado nos últimos 30 dias. O consumo de bebidas alcoólicas no último mês foi referido por 27% dos escolares, 46,4% dos pais e 26,7% das mães. Quanto ao estado nutricional, 24,8% dos adolescentes, 62,7% dos pais e 66,6% das mães apresentaram excesso de peso. Já em relação à atividade física, 45% dos jovens, 59,8% dos pais e 75% das mães não obtiveram a pontuação ideal.


A pesquisa também indica baixa adesão à alimentação saudável entre os pais e filhos. Somente 31,4% dos escolares realizam cinco ou mais refeições por dia, 31,5% consomem seis ou mais porções diárias de cereais, raízes ou tubérculos e 31,8% bebem seis ou mais copos de água por dia. Chama a atenção a adesão extremamente baixa no consumo diário ideal de frutas e legumes ou verduras (5,6%) e de leite e derivados, carnes, peixes ou ovos (0,6%) entre os adolescentes. Os números também foram baixos para o consumo moderado de óleos e gorduras (4,8), refrigerantes e guloseimas (14,8%) e alimentos industrializados (0,9%) pelo grupo jovem. Os pesquisadores creditam os resultados obtidos à dificuldade de acesso aos supermercados centrais e à monocultura utilizada pelos agricultores locais, que não têm o hábito de produzir frutas e verduras.


Em análise bruta das variáveis de comportamentos de risco à saúde de adolescentes conforme as dos pais, não houve associação entre o tabagismo dos pais e o dos filhos no último mês. Embora a prevalência de fumo seja mais elevada nos filhos de pais fumantes, o resultado não foi significativo. “Estudo realizado em área urbana e rural mostrou que o tabagismo dos pais esteve fortemente associado ao uso de cigarros pelos filhos. No presente estudo, as associações foram no sentido esperado, mas não atingiram significância estatística devido ao baixo poder, especialmente na análise incluindo as mães, as quais apresentaram prevalência menor de tabagismo se comparadas aos pais”, explicam os pesquisadores.


Já o consumo de bebida alcoólica dos adolescentes se mostrou associado ao das mães. “Tem sido descrito que o estímulo ao uso da bebida alcoólica pelo adolescente é incentivado a partir dos próprios parentes, também pelo histórico de uso de álcool na família, pela facilidade de acesso à bebida dentro de casa ou ainda pela falta de apoio afetivo familiar ao adolescente”, alegam os estudiosos. Ainda na análise bruta, com relação ao excesso de peso, foi encontrada associação entre os escolares e suas mães. A prática regular de atividades físicas do adolescente se mostrou associada à dos pais. Já o hábito alimentar dos escolares não apresentou associação com o comportamento de risco dos pais.


Após análise ajustada por sexo, idade do adolescente e escolaridade dos pais, o consumo de álcool por escolares e suas mães e a atividade física do pai e filho apresentaram associação positiva. O consumo ideal de cereais, raízes ou tubérculos de mães esteve associado ao mesmo padrão de consumo dos adolescentes, sugerindo que são as mulheres quem detêm o controle da organização da alimentação no ambiente familiar, segundo os pesquisadores. Os pais serem fisicamente ativos mostrou associação com o nível de atividade física de escolares de ambos os sexos. Já o hábito de atividade física regular do pai se mostrou associado à atividade física das meninas, não tendo influência significativa na mesma forma de conduta dos meninos. A mãe ser ativa fisicamente não mostrou associação na atividade física de meninos e meninas.


Segundo os estudiosos, os resultados obtidos levam à conclusão de que o comportamento de risco à saúde dos pais realmente está associado à mesma conduta entre adolescentes na zona rural, o que indica necessidade de estratégias de prevenção que promovam mudanças de comportamentos relacionados ao estilo de vida de toda a família. “A adoção de um estilo de vida saudável deve ser estimulada na infância e adolescência, pois, nessas fases, são formados os hábitos alimentares e de atividade física e pode ser prevenida a experimentação de bebidas alcoólicas e cigarros”, concluem.


Publicado em 10/1/2012.

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