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08/08/2008

Condições de moradia também podem influenciar na ocorrência da cárie dentária

Rita Vasconcelos


Quando se fala em cárie dentária na infância é comum atribuir a “culpa” à ingestão de doces ou à escovação mal feita. Embora as duas contribuam para o seu surgimento, fatores sociodemográficos, como o número de pessoas por quarto de dormir, e aqueles relacionados à atenção à saúde bucal, também influenciam a ocorrência da cárie. Esta é a conclusão a que chegou a dentista sanitarista Márcia Dantas, numa pesquisa realizada como trabalho de conclusão do mestrado em saúde pública da Fiocruz Pernambuco. O estudo, intitulado Fatores associados à prevalência e à gravidade da cárie dentária em pré-escolares residentes em áreas cobertas pelo Programa Saúde da Família no Recife, investigou 2.020 crianças com idade entre 18 e 36 meses e 5 anos, nos distritos sanitários (DS) 2 e 4, situados, respectiva-mente, nas zonas Norte e Oeste da capital.


 Crianças aprendem a escovar corretamente os dentes em evento na Fiocruz (Foto: Peter Ilicciev)

Crianças aprendem a escovar corretamente os dentes em evento na Fiocruz (Foto: Peter Ilicciev)


A prevalência de cárie chegou a 29,7%, aos 18-36 meses, e de 63,8%, aos 5 anos de idade. Em média, uma criança com 3 anos ou menos já tinha um dente com cárie. Aos 5 anos esse número chegou a três ou quatro dentes. “Os dados evidenciam falhas no acesso ao tratamento odontológico e na estruturação da atenção à saúde bucal integradas à materno infantil. Só recentemente a Política Nacional de Saúde Bucal incluiu esta população como uma linha de cuidado”, comentou Márcia.


Em relação às questões sociodemográficas relacionadas à ocorrência da cárie, o estudo chegou à conclusão que, para o grupo etário que tem idade entre 18 a 36 meses, apenas três das variáveis foram explicativas para a ocorrência de cárie. A primeira, relacionada à densidade de pessoas por quarto de dormir (mais de três), mostrou que o risco da criança obter cárie é duas vezes maior do que as que dividem o quarto com menos pessoas. “Embora em relação a outras doenças infecto-contagiosas esta associação entre número de casos e densidade de pessoas por cômodo já esteja bem evidenciada, em relação à saúde bucal ela merece mais investigações sobre o papel da colonização bacteriana precoce, com a mãe sendo a fonte mais comum de transmissão em ambientes de aglomeração e  baixa condição de vida”, explicou a sanitarista.


Outra variável foi a origem da água do domicílio. Nas residências que contavam com água de poço ou nascente as crianças ficaram mais protegidas em relação às cáries. A terceira variável foi o tempo de moradia. As crianças que viviam há três anos na área estudada tinham maior probabilidade de ter cárie, quando comparadas às que moravam há apenas um ano. Em relação à estrutura familiar, para as crianças de 18 a 36 meses o número de irmãos morando na mesma residência (três ou mais) representou um risco quase duas vezes maior de ter cárie.


Para as crianças com 5 anos de idade, a densidade de moradores (seis ou mais) por domicílio revelou um risco três vezes maior para a ocorrência e para a gravidade de cárie, quando comparadas às crianças que habitavam com um número menor de pessoas. A pesquisa não encontrou nenhuma variável ligada à estrutura familiar que significasse fator de risco para a ocorrência ou gravidade da cárie para crianças dessa faixa etária.


O único fator de risco estudado que apresentou diferença para a gravidade da cárie entre os distritos sanitários foi o do local de moradia para as crianças com 5 anos de idade. As que moram no DS 2 têm duas vezes mais chance de ter cárie do que no DS 4. O estudo, orientado pelos pesquisadores do Departamento de Sáude Coletiva da Fiocruz Pernambuco, Wayner Souza e Maria Luiza Carvalho, aponta para a necessidade de as políticas de saúde bucal do Recife levarem em conta fatores de risco que demandem ações  intersetoriais e não só no cuidado individual ou pontual.


Publicado em 05/08/2008.

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