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16/07/2007

Congresso de Ciências Sociais e Humanas recebe quatro mil pessoas na Bahia


Grandes nomes da saúde coletiva brasileira, latino-americana e mundial se encontraram em Salvador para três grandes congressos, reunindo quase três mil trabalhos, sendo cerca de 2.400 pôsteres, e um público estimado em quatro mil pessoas. Os números do 4º Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde, do 14º Congresso da Associação Internacional de Políticas de Saúde e do 10º Congresso Latino-Americano de Medicina Social comprovam o tamanho dos eventos. Organizado pela Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco), foi mais uma oportunidade para discutir questões da saúde que repercutem sobre as populações em âmbito mundial e suscitam dos pesquisadores, docentes, gestores, lideranças e profissionais da área a um esforço urgente de ações conjuntas. Os congressos ocorreram entre 13 e 18 de julho. Antes dos eventos o secretário-geral da Abrasco, Álvaro Matida, conversou com o Informe Ensp a respeito das expectativas da Associação para mais um congresso.


 Matida: a saúde precisa dar novas respostas aos desafios do século 21 (Foto: Virginia Damas)

Matida: a saúde precisa dar novas respostas aos desafios do século 21 (Foto: Virginia Damas)


O que é o  4º Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde?

Álvaro Matida:
O 4º Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde é uma realização conjunta da Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco) e da Associação Latino-America de Medicina Social (Alames), que promove o10º Congresso Latino-Americano de Medicina Social e com a Associação Internacional de Políticas de Saúde, que organiza o 14º Congresso Internacional de Políticas de Saúde. O tema deste ano é bastante complexo, pois buscamos uma interação com a comunidade internacional a partir de temáticas amplas, como foi o caso do 8º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva e do 11º Congresso Mundial de Saúde Pública que a Abrasco realizou em 2006, com a Federação das Associações de Saúde Pública. O tema deste ano é Ética, eqüidade e direito à saúde: desafios à saúde coletiva na mundialização e está dividido em quatro subtemas. A saúde coletiva hoje é o primeiro tema e um espaço para discussão mais teórica em torno das práticas do campo da saúde coletiva e as interações entre as disciplinas que compõem a disciplina. Isso porque uma das questões que a saúde coletiva vem discutindo não só no país, mas também internacionalmente, é de que a partir da década de 70 e, particularmente, nos grandes pólos de globalização, os conceitos de saúde pública e coletiva precisam ser atualizados. Quer dizer, temos que dar novas respostas do setor saúde aos problemas e desafios dessa nova saúde no século 21.


O que é muito do que o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes) vem fazendo com a chamada "refundação" do movimento sanitário e de como atuar na saúde pública.

Matida:
Exatamente. O Cebes é um parceiro junto à Abrasco nesse processo de discussão epistemológica, política e técnica em relação ao campo da saúde pública, então esse é um ponto bastante importante e uma série de atividades estão relacionadas a ele.


Quais são os outros três temas do congresso?

Matida:
Um outro tema é a questão da Equidade e direito à saúde, que também está relacionada ao primeiro, mas que de uma certa maneira guarda uma relação com o que estamos vivendo nesse processo de discussão e interação entre a questão da saúde como direito, a questão do ambiente, do desenvolvimento científico e tecnológico em saúde, do desenvolvimento econômico e social, e também do entendimento que a saúde não é só um motor do desenvolvimento, mas um determinante do desenvolvimento. O terceiro ponto é Direito à vida e à paz, onde as questões relacionadas à violência, em todas as suas dimensões, desde as guerras ou guerrilhas, como a que estamos vivendo aqui no Rio de Janeiro e no país como um todo, contribuem com o recrudescimento da violência nos grandes centros urbanos. Vamos discutir não só a violência em sua dimensão mais macro, mas também a violência no âmbito do homicídio, da violência à mulher e das populações mais vulneráveis. O último é Mobilização e participação social no âmbito dos sistemas de saúde como uma condição para uma democratização do setor. Esse também é um tema que atravessa questões de democracia e saúde e temos a felicidade de juntar às comunidades nacional e internacional, além dos parceiros históricos da Abrasco, como o pessoal do Instituto de Saúde Coletiva da Bahia (ISC-UFBa).


Como está a estrutura do congresso neste ano?

Matida:
O evento começa nos dias 13 e 14 com oficinas e cursos pré-congresso. Os cursos estão muito pautados nessas questões levantadas anteriormente, e preocupados com a questão da capacitação de recursos humanos para atender aos desafios da saúde coletiva hoje. As oficinas vão colocar temas desde inovação em ciência e tecnologia até a questão do fomento à pesquisa. Temos também o Fórum de Coordenadores de Programas de Pós-Graduação, que particularmente discutirá questões relacionadas aos fomentos e da avaliação dos programas de saúde coletiva. Paralelo a isso ocorrerá entre os dias 13 e 17 o 2º Simpósio de Países Luso-francófonos em Saúde (Colufras). O tema do simpósio é o mesmo do congresso, ou seja, questões relacionadas ao direito à saúde, aos acessos a tecnologia e medicamentos, além da saúde mental, que é um tema bastante importante para o Colufras.


Qual a expectativa de público e o volume de trabalho que a Abrasco recebeu?

Matida:
Eu diria que reuniremos em torno de 3,5 a 4 mil pessoas. Nós recebemos em torno 3.400 trabalhos e foram aprovados para pôsteres em torno de 2.340 trabalhos. Teremos ainda 400 trabalhos vão compor a programação entre painéis, palestras e comunicações coordenadas. Essa é uma oportunidade que temos de interação mais profícua na construção de uma agenda comum com países da América Latina. Então, traremos lideranças do México para baixo, passando por Nicarágua, Costa Rica, Peru, Colômbia, Argentina, Venezuela e Uruguai. Esses países vivem realidades bastante diversas, mas as necessidades em relação à saúde são bastante comuns a todos, no sentido de um sistema mais equânime, equitativo e universal. Convidamos também para o congresso vários países da África, particularmente os de língua portuguesa, com os quais estamos construindo uma parceria mais estreita, e particularmente com Angola, vide nossa colaboração com a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca na promoção do mestrado em saúde pública na ESP daquele país. Teremos a oportunidade de aprofundar uma agenda comum em torno da questão saúde e desenvolvimento e de saúde e democracia.


Em 2005 a Abrasco esteve em Florianópolis. No ano passado o "Abrascão" ocorreu no Rio de Janeiro e agora é a vez de Salvador. Por que a escolha da Bahia como sede?

Matida:
A Bahia foi uma escolha que já vinha definida pela própria Associação Internacional de Políticas de Saúde e pela Alames. A Abrasco se juntou a essa iniciativa e no nosso entendimento a Bahia tem, em termos de síntese e cultura, a diversidade e um sincretismo bastante rico, além da cultura africana bastante aflorada e que serve para discutir questões que estamos propondo nesse congresso como ética, direitos e tudo ligado a etnia e raça, dando assim uma riqueza maior e fundamental a esse processo.


Como a Abrasco vê a importância da contribuição da Ensp no congresso?

Matida:
Eu acredito que a iniciativa que a Ensp vem tendo em relação ao curso em Angola e atenção e o carinho que a Escola historicamente presta e nos ajuda a escolher os temas centrais dos congressos um pouco sintetiza o trabalho em conjunto que a gente vem colocando. Eu acredito que os congressos têm sido para a Abrasco e para a Ensp de grande visibilidade a projetos e iniciativas, debate de idéias e laboratórios de surgimento de proposições e estratégias que servem às duas instâncias. A Abrasco, com a sua missão de advocacy na área de saúde, se junta à Escola como instâncias pela defesa da saúde e da qualidade de vida dos brasileiros. Ou seja, na medida que levantamos problemas, temos por obrigação e dever colocar soluções para eles e a Ensp é fundamental nesse trabalho, com a definição de estratégias, e essa é um pouco a visão que temos para a construção de uma agenda conjunta durante o encontro.


Fonte: Informe Ensp

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