Agência Fiocruz de Notícias

Dois projetos com participação da Fiocruz irão receber financiamento do Reino Unido, após serem contemplados pelo Global Effort on Covid-19 (GECO) Health Research. A chamada buscou pesquisas focadas em responder às múltiplas consequências na saúde da pandemia em países de baixa e média renda. Anunciado na última sexta-feira (16/10), o GECO é financiado por duas instituições britânicas de pesquisa, o National Institute for Health Research (NIHR) e o UK Research and Innovation (UKRI). Além dos projetos no Brasil, serão financiados projetos em 18 países na África, América do Sul e no sudeste asiático.

O projeto Household transmission and immunity to Sars-CoV-2 among paediatric clients of a primary care centre in a low-resource community in Rio de Janeiro, em parceira com a London School of Hygiene & Tropical Medicine (UK) e Universidade de Exeter (UK), irá conduzir uma pesquisa para entender melhor o papel de crianças na transmissão do novo coronavírus. O comportamento do vírus em crianças ainda não é totalmente conhecido e entender como acontece essa transmissão é importante não só para a saúde delas, mas também para suas famílias e comunidades. O problema maior em condições de habitação superlotadas, como favelas, onde as casas são muito pequenas e é quase impossível manter as crianças dentro de casa ou o isolamento entre moradores.

“Ainda há muito que não sabemos sobre o Sars-CoV-2. Os adultos pegam o vírus no trabalho e depois o transmitem aos filhos? Ou as crianças pegam o vírus dos vizinhos e depois trazem para suas famílias? Estamos estudando crianças com Sars-CoV-2 e seus contatos domésticos para responder a essas perguntas”, explica a pesquisadora principal do projeto e chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Doenças Febris Agudas do Instituto Nacional de Infectologia (INI/Fiocruz), Patrícia Brasil.

A partir do recrutamento de voluntários em um centro pediátrico de saúde em Manguinhos, os pesquisadores irão examinar e testar a Covid-19 em uma amostra de crianças e suas famílias, com visitas regulares de acompanhamento ao longo de dois anos. “O risco de contrair o novo coronavírus se divide em uma variedade de fatores, desde a genética ao comportamento até o ambiente em casa. Esperamos separar as variáveis com modelos estatísticos e descobrir quais são as mais importantes”, afirma o pesquisador da Fiocruz Leonardo Barros.

Outro projeto contemplado pela mesma chamada tem o objetivo de entender a associação de quadros neurológicos em pessoas com Covid-19. O projeto Covid-19 neurological disease: a global meta-analysis and prospective case control study in Brazil, India and Malawi" faz parte de da aliança internacional Brain Infections, que envolve instituições do Reino Unido, Brasil, Índia e Malauí. A Fiocruz Pernambuco coordena o braço brasileiro da pesquisa, que também envolve a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e o Hospital das Clínicas (HC-UFPE). Os parceiros internacionais são a University of Liverpool (Reino Unido), University of Malawi College of Medicine (Malaui), Malawi-Liverpool-Wellcome Trust Clinical Research Programme (Malaui), National Institute for Mental Health & Neurosciences (Índia), Christian Medical College Vellore (Índia) e The Encephalitis Society (Reino Unido).

"Os dados da literatura mostram que pessoas internadas com Covid-19 têm o comprometimento do sistema nervoso central, o que pode levar ao desenvolvimento de quadros neurológicos, como delírio transitório ou quadros de AVC. Este estudo visa recrutar pacientes em hospitais na Índia, Brasil e Malawi e entender o fator de associação entre a Covid-19 e o desenvolvimento desses quadros neurológicos. Com isso, pretendemos melhor entender os fatores de risco para estes quadros para poder prever e, possivelmente, prevenir casos mais graves", explica o pesquisador da Fiocruz e coordenador do projeto no Brasil, Rafael França.

O projeto vai olhar por que e como o vírus afeta o cérebro para ajudar a melhorar o tratamento de pacientes e salvar vidas. Os pesquisadores reunirão dados de todos os pacientes envolvidos para fazer um único relatório de toda a gama de doenças neurológicas relacionadas à Covid-19. Para identificar se de fato pacientes com Covid-19 desenvolvem doenças neurológicas, os pesquisadores vão comparar pacientes com e sem doença neurológica, internados em hospitais participantes. Eles procurarão fatores de risco, especialmente aqueles que podem ser tratados, como a falta de oxigênio no sangue, e também examinarão os desfechos para pacientes neurológicos, para ajudar a entender melhor o que pode prever um resultado ruim em quadros graves de Covid-19.