16/04/2020
A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) segue formulando ações de enfrentamento ao Covid-19. Em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES/RJ), a Escola está elaborando uma cartilha voltada aos Agentes Comunitário de Saúde (ACS). Segundo a professora-pesquisadora da EPSJV/Fiocruz, Márcia Valéria Morosini, essa iniciativa se justifica pelo fato de o ACS ser um trabalhador que atua na linha de frente na atenção à saúde nos mais diferentes territórios, com desiguais condições de vida e saúde.
A Escola, que oferece o Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde e tem experiência na formação desses trabalhadores, foi responsável pela revisão da primeira versão do material e a inclusão de observações gerais e sugestões específicas quanto à forma e ao conteúdo do material. “Como se trata de material a ser disponibilizado online, acrescentamos sugestões de links a outros materiais digitais que ajudam a aprofundar algum tema, preservando a ideia de um documento principal mais conciso”, destaca Márcia.
Para a professora-pesquisadora, um diferencial da SES/RJ é o conhecimento que dispõe sobre os municípios que compõem o estado do Rio de Janeiro, considerando as suas variadas características políticas, econômicas, sociais e de saúde, e a oportunidade de oferecer uma orientação sistematizada, tecnicamente fundamentada, que dê suporte aos trabalhadores desses municípios. “Destacamos a necessidade de um material que, ao mesmo tempo em que informe o ACS, subsidie a sua forma de atuar junto às pessoas que ele acompanha, ou seja, sirva de modelo ou inspiração. Nesse sentido, é desejável que o material seja menos normativo e mais dialogado, com linguagem acessível e instruções claras e de fácil compreensão”, aponta.
Denis Saffer, técnico em Saúde Pública da SES/RJ, destaca que a Escola foi escolhida para a parceria pela excelência de seu trabalho. “Pensamos no Politécnico por conhecer o compromisso social e a base que a escola tem no trabalho de formação e construção coletiva com os ACS, levando em conta os saberes deles. Além da proximidade que a escola tem com os ACS do território de Manguinhos”, conta. Ana Caroline Medina, técnica da Superintendência de Atenção Primária à Saúde da SES/RJ, acrescenta: “Quando pensamos na produção, tínhamos a ideia de fazer um material sucinto, porém, durante a elaboração, percebemos que existem vários aspectos muito importantes para entrar nesse documento e ele acabou sendo uma cartilha virtual”.
O material está em fase final de produção e deve estar disponível no site da EPSJV/Fiocruz e da SES/RJ até o fim de abril de 2020.
Material para agentes de saúde
Outra parceria da EPSJV/Fiocruz para a produção de materiais para agentes de saúde é com a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz). Professores-pesquisadores da EPSJV e da Ensp estão produzindo diversos materiais educativos para contribuir para a formação dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), Agentes Comunitários Indígenas de Saúde (ACIS) e Agentes de Combate a Endemias (ACE), incluindo as demais nomenclaturas utilizadas para estes trabalhadores da área de vigilância em saúde. Nessa parceria, ainda estão incluídas ações como: divulgação de informações que possam orientar esses trabalhadores no Brasil a respeito do novo coronavírus, atendendo a uma demanda do Ministério da Saúde; o apoio técnico e político a instâncias governamentais, aos órgãos oficiais e ao controle social; articulação territorial com entidades organizadas por trabalhadores agentes de saúde, movimentos sociais em defesa do SUS e movimentos populares; a realização de educação permanente para esses agentes de saúde que atuam nos municípios do estado do Rio de Janeiro, através da produção de materiais educativos e informativos a respeito do novo vírus; e a organização de um grupo de trabalho para estar em articulação junto às lideranças comunitárias das favelas e movimentos sociais.
A coordenação do Curso Técnico de Vigilância em Saúde (CTVISAU), assim como a coordenação do Curso Técnico em Agente Comunitário de Saúde (CTACS), tem mantido um canal de comunicação constante com os educandos - ACEs de turmas atuais e egressos; e alunos dos cursos de Qualificação Profissional - procurando ouvir as demandas, necessidades e dúvidas que surgem no desenvolvimento do trabalho de campo. Assim, explica a professora-pesquisadora da EPSJV/Fiocruz, Edilene Pereira, é possível se aproximar da singularidade de cada território onde esses profissionais atuam e da realidade que traduz os problemas e as necessidades de saúde das populações sob sua responsabilidade, de modo a auxiliá-los na definição de estratégias para elaboração de planos de ação. “Aplicamos um questionário junto a esse conjunto de educandos, na perspectiva de ouvi-los, como primeiro passo para a construção de ação coletiva. A sistematização das respostas propiciou a identificação de temas que serviram para o desenvolvimento de ações, como a importância do uso de equipamento de proteção individual durante as visitas domiciliares”, diz Edilene.
Com foco na importância do trabalho territorializado produzido pelos agentes de saúde, foi proposta também uma atividade de vigilância em saúde emergencial para elaboração de plano de ação educativo e comunicativo, identificando os recursos da comunidade e utilizando a linguagem local para que seja possível divulgar informações em rádios, jornais comunitários, carro de som e blogs do território para o enfrentamento da pandemia. “Essa atividade deverá ser articulada com as Unidades Básica de Saúde (UBS) do território. Posteriormente serão planejados cursos na modalidade EaD, que serão disponibilizados no Portal da UNA-SUS”, adianta o professor-pesquisador da EPSJV/Fiocruz, Mauricio Monken.
Segundo o professor-pesquisador do Poli Alexandre Pessoa, os ACE e os ACS, bem como os agentes indígenas de saúde e os agentes indígenas de saneamento, têm um papel fundamental, já que conhecem os territórios, os nomes das pessoas e podem contribuir de forma efetiva para as orientações quanto ao manejo das águas comunitárias e domiciliares. “A limpeza das mãos é uma barreira estratégica para reduzir a disseminação das doenças, mas isso somente poderá ser feito se as comunidades tiverem acesso à água, mesmo em caráter emergencial”, ressalta.
Para Gracia Gondim, professora-pesquisadora da EPSJV/Fiocruz, num momento de sofrimento coletivo, é fundamental a organização comunitária e a atuação dos movimentos sociais em integração com as ações do Estado. “A EPSJV, em conjunto com a comunidade Fiocruz, está em um esforço diário para salvar vidas, considerando como ações estratégicas a comunicação em saúde e o fortalecimento da Vigilância em Saúde e do SUS”, afirma.