O depósito de pedido de patente e a celebração de um contrato de propriedade conjunta assinado entre a Fiocruz Minas e duas empresas que atuam no desenvolvimento de inovações na área de saúde – a Visuri e a Celer – possibilitou o início da comercialização de mais uma tecnologia para o diagnóstico molecular da Covid-19, o OmniLAMP. Tal dispositivo detecta o material genético do Sars-CoV-2 por meio da técnica RT-LAMP, que transforma o RNA viral em DNA e o amplifica isotermicamente, oferecendo sensibilidade semelhante à técnica RT-PCR, considerada padrão ouro no diagnóstico molecular da Covid-19. Com o registro aprovado pela Anvisa em março de 2020, o OmniLAMP Sars-CoV-2 foi o primeiro kit de RT-LAMP certificado pela agência para o diagnóstico da Covid-19.
A partir do contrato de propriedade conjunta firmado, uma conhecida rede de farmácias de Minas Gerais passou a disponibilizar, desde o início de maio, o MyTest, um kit de autocoleta de saliva para análise de material genético do vírus Sars-CoV-2, desenvolvido pela Visuri e Labtest. O processamento do material e a leitura do resultado são realizados no OmniLAMP. Fruto de uma parceria público-privada, o OmniLAMP é uma demonstração de que esse tipo de cooperação pode contribuir para resolução de problemas que afetam a sociedade com bastante celeridade. “Trata-se de um modelo bom para todos, ao envolver o poder público, a academia e a iniciativa privada; todos atuando em harmonia, de forma a levar mais uma solução para a população”, destaca a coordenadora do Núcleo de Inovação Tecnológica da Fiocruz Minas, Ana Paula Granato.
A parceria entre a Fiocruz e a Visuri para o desenvolvimento do OmniLAMP teve início em 2018, a partir da aprovação de um projeto em edital lançado pelo Instituto Serrapilheira. Na época, a pesquisa estava voltada para o diagnóstico das arboviroses (dengue, zika e Chikungunya), leishmanioses e esquistossomose. Em março de 2020, com o início da pandemia, os esforços foram direcionados para a detecção do Sars-CoV-2. A premissa básica da força-tarefa foi adaptar a tecnologia para disponibilizar um teste eficiente, mais rápido, mais barato e que pudesse ser realizado em qualquer região do país.
“Tivemos a parceria da Visuri desde o início. Uma das vantagens do desenvolvimento conjunto é o fato de que o setor público divide com a iniciativa privada os riscos do processo”, explica Granato. De acordo com a coordenadora do NIT, também os ganhos advindos dessa comercialização são divididos entre os inventores (ou seja, Fiocruz, Visuri e Celer) e os demais parceiros, a Labtest, fabricante do kit, e a Rede de Drogarias, que atua na distribuição. No caso da Fiocruz, os royalties são reinvestidos em inovação.
“Este modelo, com vários atores, não é simples, uma vez que cada uma das organizações envolvidas tem suas especificidades. O Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação, lançado em 2016 (lei 13.243/2016), potencializou esse tipo de parceria, pois permitiu estabelecer esses arranjos com segurança jurídica para todos os envolvidos”, afirma Granato.
Além do financiamento do Instituto Serrapilheira, o desenvolvimento do OmniLAMP contou com recursos do Programa Inova Fiocruz, da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) e do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
Produtos
Um dos diferenciais do sistema OmniLAMP é o fato de dispensar estruturas laboratoriais de grande complexidade, além de poder ser utilizado com diferentes tipos de reagentes, aumentando as possibilidades, especialmente quando há dificuldades para a aquisição de kits mais tradicionais. O resultado do teste sai em apenas 30 minutos, diferentemente de outras técnicas cujo processo de extração, amplificação e tratamento dos dados podem levar seis horas até a liberação do resultado, pois é necessário o pré-processamento das amostras.
De acordo com o pesquisador responsável pelo projeto na Fiocruz Minas, Rubens do Monte, essa tecnologia possibilita a descentralização das testagens, que pode ser feita em pequenos laboratórios, clínicas e hospitais em todo o Brasil. “Como uma ferramenta point of Care (PoC), é possível apresentar o resultado de forma automática e intuitiva e, portanto, pode ser utilizado por pessoal minimamente treinado, dando chance de o teste chegar a quem mais precisa”, reforça Rubens.
Henrique Martins, CEO da Visuri, ressalta que o equipamento possui tecnologia Internet of Things (IoT), que permite o envio dos resultados para uma aplicação via web desenvolvida para permitir o armazenamento dos dados em nuvem. “Este sistema torna possível o acompanhamento, em tempo real, de curvas de tendências e outros relatórios que podem ser utilizados por órgãos governamentais como ferramenta de auxílio na elaboração de estratégias para o combate a pandemia”, explica.
O kit de autocoleta MyTest é composto por um tubo estéril e um guia rápido com as instruções para a correta coleta da saliva, além de um saquinho tipo zip lock e um envelope lacre, para prover segurança no transporte da amostra. O kit também possui etiquetas com códigos de ativação web que permitem a digitalização de todo o processo. A principal vantagem deste teste é permitir que as pessoas possam coletar o material em suas próprias casas, não estando, portanto, expostas a situações de risco. Além disso, a coleta por saliva pode ser mais prática para crianças e idosos. O MyTest foi desenvolvido pela Visuri e pela LabTest, empresa que atua na fabricação de reagentes e equipamentos para a área de diagnóstico in vitro.