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11/11/2005

Crenças arraigadas na cultura popular podem trazer riscos para a saúde

Adriana Melo






Uma sessão de comunicação oral sobre meio ambiente e contaminação ambiental foi realizada nesta terça-feira (08/11), durante a 9a Jornada Científica de Pós-Graduação da Fiocruz. Dois dos trabalhos apresentados deixaram claro como crenças já arraigadas em alguns grupos sociais determinam a continuidade de comportamentos que podem trazer riscos à saúde dessas populações.


Maria das Graças Fonseca, do Centro de Pesquisa René Rachou (CPqRR), unidade da Fiocruz em Minas Gerais, apresentou os resultados de sua tese de mestrado sobre a percepção de risco no uso de agrotóxicos entre os trabalhadores rurais. Ela pesquisou o tema entre floricultores de Barbacena. "A floricultura exige um alto nível de uso de químicos. Os agricultores que não usam equipamento de proteção ficam expostos a agrotóxicos através das vias aéreas e da pele", explica.


Maria das Graças entrevistou 20 trabalhadores da região e constatou que todos eles sabem que agrotóxicos representam um risco para a saúde e conhecem as medidas que devem ser tomadas para evitar a intoxicação. Entretanto, a pesquisadora observa que todos são negligentes no uso do equipamento de proteção. "Como os patrões exigem o uso de luvas, botas, máscaras, os agricultores saem todos paramentados. Mas vão tirando o equipamento de proteção pelo caminho", conta.


A pesquisadora enumerou algumas das razões alegadas para esse comportamento. "Os agricultores não acreditam na efetividade dos equipamentos de proteção e pensam que as bulas dos defensivos exageram sobre a sua toxicidade. Acham que o risco está associado ao cheiro do agrotóxico e que, portanto, os produtos perdem o efeito tóxico ao evaporar. E o pior: acreditam no efeito protetor do leite e de bebidas alcoólicas. O álcool só piora os efeitos, aumentando as chances de desenvolver câncer de laringe", diz. Maria das Graças acredita que, para criar políticas de prevenção efetivas contra os efeitos nocivos dos agrotóxicos, essas crenças precisam ser levadas em conta.


O pesquisador Thiago Martins, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp), pesquisou a presença em tilápias e acarás de um biomarcador que indica a exposição dos peixes a poluentes ambientais. Os peixes foram recolhidos no rio Guandu, perto de um denso povoado ribeirinho no estado do Rio de Janeiro. O exame dos peixes comprovou a contaminação da água do rio. "Mesmo sabendo que a água está poluída, a população continua se alimentando dos peixes pescados lá e usa o rio para atividades de lazer", disse Martins. "A percepção de risco é um fator interessante para entender que valores estão forjando os comportamentos de risco nessas populações", disse Jayme Bastos Neto, professor da Uerj e debatedor da sessão.

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