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18/02/2008

Cuidados com a saúde bucal de crianças e idosos são tema de artigos em periódico

Renata Moehlecke


O uso de serviços odontológicos por crianças e pela terceira idade no Brasil é tema de dois estudos publicados na edição de janeiro da revista Cadernos de Saúde Pública, da Fiocruz. Pesquisadores da Universidade Estadual de Monte Claros, das Faculdades Unidas do Norte de Minas Gerais e da Universidade Federal de Minas Gerais investigaram a freqüência de consultas ao dentista de idosos dentados e edentados (sem dentes) residentes no Sudeste do país. Já estudiosos das universidades Luterana do Brasil e Federal de Santa Maria, ambas no Rio Grande do Sul, verificaram a utilização desses serviços e a idade da primeira visita odontológica de crianças de até 5 anos no município de Canela (RS).


 Entre as crianças com 2 e 3 anos de idade o percentual de uso desses serviços foi de 11,2%

Entre as crianças com 2 e 3 anos de idade o percentual de uso desses serviços foi de 11,2%


Do primeiro estudo participaram 1.014 idosos com idade entre 65 e 74 anos, sendo 345 (34%) dentados e 669 (66%) edentados. Os indivíduos foram divididos nesses dois grupos distintos devido à necessidade de diferentes demandas para o uso de serviços odontológicos. A seleção teve como base o inquérito de saúde bucal efetuado pelo Ministério da Saúde (MS) em 2002/2003. “A análise por estratos feita no presente trabalho parece ser pioneira no Brasil”, afirmam os especialistas no artigo. “Mesmo considerando estudos conduzidos em outros países onde o edentulismo também é uma condição muito prevalente, esta forma de análise não foi muito freqüente”.


A pesquisa constatou que dos idosos dentados, 111 (32%) foram ao dentista há menos de um ano e, no mesmo período, 76 (11%) dos edentados realizaram a consulta. Os estudiosos comentam que a baixa taxa de uso desses serviços pelos edentados pode ser explicada pelo número expressivo de idosos que mostrar acreditar que a visita regular ao dentista é importante apenas para quem ainda tem dentes. Em relação aos dentados, o estudo também evidenciou que a maior prevalência de uso desse tipo de serviço está entre os que perceberam sua fala como péssima ou ruim em função da sua condição de saúde bucal.


Uma importante iniqüidade no acesso aos serviços odontológicos e no seu uso também foi observada nos dois grupos examinados. “Os idosos que apresentavam problemas bucais foram menos ao dentista, e entre os dentados, aqueles residentes na zona rural, com menor renda, e que necessitam de prótese usaram menos os serviços odontológicos”, esclarecem os pesquisadores. “Entre os edentados, aqueles com menor escolaridade foram menos ao dentista e os que relataram sensibilidade dolorosa nos dentes e gengivas, nos últimos seis meses, foram mais ao dentista”.


Os estudiosos ainda destacam que, no Brasil, são críticos os indicadores de saúde bucal, no que se referem a essa população: no ano de 2003, apenas 10% dos idosos verificados pela pesquisa do MS apresentaram mais de vinte dentes, quando a meta da Organização Mundial de Saúde (OMS) para o ano 2000 era de 50%. “A população idosa está crescendo e necessita de políticas de saúde bucal específicas para reduzir o edentulismo e melhorar as condições gerais de saúde e de vida”, apontam. “É fundamental garantir o acesso e motivar o uso entre idosos dentados e edentados, esclarecendo à população a necessidade e a importância do uso de serviços odontológicos, especialmente entre os edentados, pois nesses, percebe-se uma tendência ao uso somente quando a situação da saúde bucal é crítica”.


Crianças de 4 e 5 anos têm oito vezes mais chances de ir ao dentista do que as menores de 2 no RS


Um total de 1.092 crianças foram abordadas em seis postos de saúde e vacinação do município de Canela. Destas, 13,3% já haviam consultado o cirurgião-dentista e somente 4,3% realizaram algum tipo de consulta odontológica até o primeiro ano de vida. Dentre as crianças com 2 e 3 anos de idade, o percentual de uso desses serviços foi de 11,2% e, para as maiores de 3 anos, 26,2%. “O número de crianças que já haviam recebido atendimento odontológico aumentou com a idade”, apontam os pesquisadores no Sul do país. “O aumento poderia ser causado tanto por uma necessidade percebida de atendimento preventivo por parte dos responsáveis, como por uma necessidade de intervenção em seqüelas de problemas bucais que se tornam mais prevalentes de acordo com o aumento de idade”.


Os estudiosos esclarecem que a idade ideal para a primeira visita ao dentista é entre 6 e 12 meses de idade, ou seja, a época de erupção do primeiro dente decíduo (de leite). “Tal indicação se justifica pela importância do atendimento odontológico em idades precoces, que tem o intuito de facilitar o estabelecimento de hábitos saudáveis, além de servir como uma oportunidade fundamental para a avaliação do desenvolvimento crânio-facial e todos os fatores de risco comuns a que uma criança pode estar exposta”, explicam no artigo.


A baixa procura pelos serviços odontológicos verificada revela, de acordo com os pesquisadores, a falta de uma política de incentivo e apoio a medidas de atenção a saúde bucal precoce por parte tanto do setor público quanto da população. “Estes resultados podem servir de base para a implementação de políticas públicas de saúde com um enfoque voltado para o incentivo à procura de atendimento odontológico em idade”, afirmam. “Isso traria um retorno direto à população estudada, na medida em que permitiria uma redução nos custos com tratamento e atendimento das seqüelas dos principais problemas bucais que afetam pré-escolares".

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