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04/02/2013

Curso reuniu universitários de 18 estados em torno de temas como Aids, vírus emergentes e infecção hospitalar

Isadora Marinho


É recesso de faculdade e muitos deles vieram de longe para passar uma semana no Rio de Janeiro. No entanto, não foram as praias ou os eventos pré-carnaval que os atraíram – mas a possibilidade de aprofundar os estudos na área científica em um dos maiores centros de pesquisa do Brasil: o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Em 2013, a edição de Verão dos "cursos de férias" selecionou, dentre mais de 300 interessados, 154 universitários de 18 estados. Entre os dias 21 de janeiro e 1º de fevereiro, eles participaram de atividades sobre temas como Aids, vírus emergentes e infecção hospitalar. “Fazemos pesquisa de ponta e como a programação inclui aulas práticas, os alunos veem e fazem pesquisa de verdade”, explica o coordenador da iniciativa e pesquisador do Laboratório de Biologia Celular, Rubem Mena-Barreto.


 Pós-graduandos do IOC orientam atividade prática de universitários da área de Saúde: aprendizado em dose dupla (Foto: Peter Ilicciev)

Pós-graduandos do IOC orientam atividade prática de universitários da área de Saúde: aprendizado em dose dupla (Foto: Peter Ilicciev)





Neste ano, foram oferecidos nove módulos variados sobre Saúde, desenvolvidos sob medida por quatro conceituados Programas de Pós-graduação Stricto sensu do IOC: Biologia Celular e Molecular; Medicina Tropical; Biologia Parasitária; e Ensino em Biociência e Saúde. Cada curso teve duração de uma semana e as aulas ficaram a cargo dos mestrandos e doutorandos dos respectivos programas. Participaram universitários de biologia, biomedicina, medicina e pedagogia, oriundos do Amazonas, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal, Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Maranhão, Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Ceará.


Do IEC ao IOC


Iami Borges, de 20 anos, e a amiga Melissa Reis, de 21, são de Belém do Pará e cursam Biomedicina na Escola Superior da Amazônia (Esamaz). Pleitearam uma semana de folga no estágio, no Instituto Evandro Chagas, para participar do módulo Bactérias gram – negativas envolvidas em infecções hospitalares: identificação, tipagem e caracterização dos mecanismos de resistência, oferecido pelo programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular. Ambas já trabalham com microbiologia e aproveitaram a oportunidade para se aprofundar na resistência de bactérias. De acordo com Melissa, o contato com técnicas diferentes de laboratório foi fundamental para complementar o aprendizado adquirido até hoje. “Cada centro de pesquisa é de um jeito: materiais utilizados aqui são diferentes dos de lá, assim como os reagentes, protocolos e o tempo das reações. Dominar técnicas variadas faz a gente crescer”, explica.


Melissa e Iami: folgas no estágio para estudar


Já Iami confessa que conhecer a cidade estava dentre os objetivos da viagem - ela cogita a possibilidade de fazer mestrado no IOC. A estudante está no sétimo período e pretende prosseguir com os estudos em uma instituição de renome. “A vida toda está em Belém, é muita coisa para deixar pra trás. Mas eu gostei muito do IOC e do Rio. Decisão difícil que terei que tomar em breve”, diz. Mena-Barreto destaca que essa é uma das finalidades da iniciativa: mostrar aos futuros cientistas que o Instituto é uma excelente opção de pós-graduação e, até mesmo, de trabalho. “Temos exemplos onde o pesquisador convidou alunos que se destacaram para integrar a equipe de bolsistas de Iniciação Científica”, conta.


Professores por uma semana


Os "cursos de férias" trazem ainda uma chance para que pós-graduandos do IOC exercitem os professores que existem dentro de si. É o caso de Thiago Chagas, aluno de doutorado em medicina tropical, e Carolina Tavares, mestranda de biologia celular e molecular. Colegas de trabalho no Laboratório de Pesquisa e Infecção Hospitalar, ambos compuseram o time de professores do módulo sobre bactérias resistentes. Dinâmica e diálogo eram palavras de ordem em sala de aula. Para tornar o conteúdo teórico mais palatável, Carolina recorreu a um filme que havia assistido na faculdade sobre a reação em cadeia de polimerase (PCR), técnica que seria utilizada nas aulas práticas para identificação de genes de resistência das bactérias. A PCR é aplicada em testes de diagnóstico, paternidade e identificação de patógenos.


“Na biologia molecular, você precisa seguir os protocolos e acreditar que a reação está ocorrendo para, no final, analisar os resultados. Nada é visível. Quando eu era graduanda, o filme me ajudou a visualizar os processos”, explica Carolina. Menna-Barreto aprova. “Esse é um grande chamariz do curso: permitir o acesso à nossa infraestrutura de ponta e aos conteúdos teóricos que não são trabalhados na faculdade”, esclarece. Além da PCR, ele cita como exemplo a leishmaniose, doença tropical de grande impacto na saúde pública e que raramente encontra espaço na graduação. Nos "cursos de férias", ela ganhou um módulo temático, com ênfase nos estudos eco-epidemiológicos.


Já Chagas ressalta que a iniciativa beneficia tanto alunos quanto professores. “Transmitir conhecimento científico de forma condensada para estudantes de graduação não é fácil, mas é imprescindível. Cientista não pode ficar só na bancada, ele precisa saber fazer a pesquisa e divulgá-la, ainda mais estando vinculado a uma instituição pública”, assinala. Nas diversas edições já foram realizados 37 cursos diferentes, envolvendo cerca de 200 mestrandos e doutorandos sob a coordenação de 52 pesquisadores de todos os 71 laboratórios do IOC. A iniciativa faz parte do calendário desde 2007 e conta, ainda, com uma edição de Inverno, realizada nas férias de julho. Até hoje, já participaram mais de mil estudantes.


Publicado em 4/2/2013.

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