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20/05/2008

De volta para casa

Fernanda Marques


De volta à Fiocruz, Hermann Schatzmayr foi convocado por Rocha Lagoa para trabalhar na produção da vacina contra varíola, atividade que realizou por cerca de seis meses. “Talvez ele achasse que isso me aborreceria. Pelo contrário: aprendi muito e foi excelente, porque depois eu assumiria um laboratório de varíola”, comenta.


Em 1967, Hermann recebeu um convite da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp). Estavam criando um departamento de ciências biológicas e deram a Hermann a incumbência inicial de montar um laboratório de poliomielite. Na Ensp, onde ficou por dez anos, Hermann convidou outros pesquisadores para compor sua equipe, como o virologista Akira Homma, atual diretor do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Biomanguinhos), fábrica de vacinas da Fiocruz.


Em meados da década de 70, o presidente da Fundação, Vinícius Fonseca, pediu a Hermann um planejamento para a criação de Biomanguinhos. “Conversei com profissionais do exterior e com equipes nacionais que trabalhavam com produção de vacinas. A partir desse levantamento, fiz uma lista de sugestões, que incluíam modernização tecnológica, parcerias etc”, diz Hermann. “Enfim, dei algumas idéias e logo em seguida Akira assumiu”.


Com Vinícius Fonseca à frente da Fiocruz, Hermann também teve a chance de retornar ao Instituto Oswaldo Cruz (IOC). “Ele me chamou e disse que eu seria coordenador da virologia na Fiocruz”, lembra o virologista, que ocupou o cargo por quase 30 anos. “Existia uma área vazia no quinto andar do Pavilhão Rocha Lima, porque a ditadura havia cassado os pesquisadores. Ele me ofereceu o local e começamos a trabalhar, inicialmente com pólio e depois com outros vírus”.


No IOC, instalado no Pavilhão Rocha Lima, Hermann assumiu o compromisso de fortalecer o Departamento de Virologia, que ele havia iniciado na Ensp. Para isso, sempre que podia, integrava novos pesquisadores e estimulava sua equipe a fazer cursos no exterior. “Acho fundamental dar oportunidade para gente nova. Eles sempre retornam com novidades e nossas linhas de pesquisa nunca ficam obsoletas”, justifica o virologista. “Posso ter muitos defeitos, mas sei enxergar o futuro. Estou sempre olhando para frente”.


O Departamento de Virologia cresceu tanto que já não cabia no Pavilhão Rocha Lima. Foi quando parte dos pesquisadores passou a ocupar o Pavilhão Cardoso Fontes. “O trabalho no Departamento foi uma das minhas atividades científicas mais importantes”, avalia. “De certa forma, ele representou minha luta de que a demanda social em relação ao controle de cada virose fosse atendida. Sou, sim, pesquisador de bancada de laboratório, mas não sou desvinculado do mundo social. Isso eu nunca fui”.


Convicto de que o objetivo de uma pesquisa é solucionar um problema, Hermann ajudou a formar núcleos de pesquisadores que visavam compreender e combater doenças como poliomielite, hepatites virais, dengue, febre amarela, diarréias virais, sarampo, rubéola, influenza e enteroviroses. E estes núcleos – muitos deles pioneiros no Brasil ou no Rio de Janeiro – se mantêm até hoje, ainda que a organização na forma de um departamento tenha sido extinta recentemente.


“Éramos um grupo muito unido e atuante, o que nos permitiu fundar a Sociedade Brasileira de Virologia, da qual fui o primeiro presidente”, lembra Hermann. “De fato, nosso grupo ainda é o mais forte e atualizado em virologia médica do Brasil. O presidente atual da sociedade continua sendo daqui”, destaca.


Em 2005, Hermann deixou a chefia do Departamento de Virologia, mas permaneceu à frente dos estudos sobre o vírus do dengue no IOC. Seu laboratório é um dos centros de referência do Instituto, o que significa que é utilizado pelo Ministério da Saúde para confirmação de diagnósticos, vigilância em saúde, oferta de cursos e treinamentos etc. “O IOC tem atualmente cerca de 30 centros de referência e um terço deles é da virologia”, orgulha-se. “Os centros de referência são um capítulo importante da virologia brasileira no qual tive a oportunidade de trabalhar muito”.

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