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07/02/2008

Dedicar-se é preciso

Catarina Chagas e Fernanda Marques


De fato, alunos que optam pelo ensino a distância trabalham duro. Como são responsáveis pela organização de seus estudos, eles precisam separar, em meio às tarefas cotidianas, um tempo exclusivo para as atividades educacionais: os cursos exigem pelo menos seis hora de dedicação semanal, por, em média, nove meses. Ao longo desse período, os estudantes lêem os textos propostos, solicitam leituras complementares, realizam exercícios e navegam no ambiente virtual de aprendizagem. A cada tarefa cumprida, o aluno deve registrar suas análises, reflexões e conclusões, pois são elas que direcionam o contato com o tutor e a participação nos encontros virtuais ou presenciais com os colegas. O estudante é estimulado a desenvolver sua capacidade de organização, que constitui um dos requisitos principais para o êxito em um curso a distância.


“Algumas pessoas chegam à EAD/Ensp pensando que vão conseguir obter um certificado de especialização sem esforço, mas logo descobrem que estão enganadas”, alerta a coordenadora Lúcia Dupret. “Os alunos que não atingem níveis satisfatórios nos exercícios e avaliações não são aprovados nos cursos”. A avaliação é parte integrante da proposta da EAD/Ensp, sendo realizada ao longo de todo o processo e complementada, nos cursos de especialização, por uma apresentação de trabalho presencial. Os alunos que atingem no mínimo 60% de aproveitamento, então, recebem diploma de conclusão.


Na Fiocruz, a Ensp é, por enquanto, a única unidade credenciada pelo Ministério da Educação (MEC) a emitir certificado de cursos a distância em nível de pós-graduação. No entanto, a EAD não se restringe à Ensp. A Escola participa de parcerias com outras unidades, como o Instituto Fernandes Figueira (IFF) e a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), bem como já iniciou projetos com o Centro de Criação de Animais de Laboratório (Cecal) e com o Centro de Pesquisa Leônidas e Maria Deane (CPqLMD), unidade da Fiocruz em Manaus.


Em 2002, a Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro encomendou ao IFF um curso de especialização para gestores de todos os municípios. Com um público-alvo disperso, o curso de gestão em saúde materno-infantil recorreu à modalidade a distância. Os resultados foram tão satisfatórios que uma segunda turma foi aberta em 2006. “Até agora foram formados cerca de 160 profissionais e a taxa de evasão é muito baixa”, comemora Cynthia Magluta, chefe do Departamento de Planejamento do IFF. “Segundo avaliação da Secretaria de Saúde, após o curso cresceu a interação entre o órgão central e os municípios”.


Foi também por uma demanda externa que a EPSJV iniciou sua parceria com a EAD/Ensp. Em resposta a uma solicitação da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), a Escola criou, em 2001, o Programa de Formação de Agentes Locais de Vigilância em Saúde (Proformar), que visava capacitar guardas sanitários que atuariam junto a secretarias municipais e estaduais. “Criamos o programa no âmbito da política de descentralização das ações de epidemiologia e controle de doenças, segundo as diretrizes do SUS”, diz o professor Carlos Batistella, pesquisador do Laboratório de Educação Profissional em Vigilância em Saúde da EPSJV.


O Proformar utiliza as plataformas da EAD/Ensp para a gestão acadêmica e a formação permanente dos cerca de mil tutores, que atuam em 300 sedes regionais espalhadas por todo o país. Porém, os alunos não utilizam o ambiente virtual de aprendizagem, já que muitos não têm acesso à internet. Em um primeiro encontro presencial, eles recebem o material didático e as tarefas que devem cumprir até a reunião seguinte. Se tiverem dúvidas, podem falar com os tutores por meio de um telefone 0800.


Ao todo, alunos e tutores se encontram quatro vezes durante o curso, com duração de, no mínimo, quatro meses. Nesse período, o aluno tem a missão de, por meio de fotografias, entrevistas e mapas, fazer um diagnóstico das condições de saúde da área onde trabalha e propor soluções. “Se antes o foco do processo de trabalho desse agente era a casa, o inseto e a doença específica, agora passa a ser a comunidade e o processo de adoecimento”, esclarece o coordenador do sistema online do Proformar, Mauricio De Seta.


As últimas turmas concluíram o curso no início deste ano. Já tendo atingido a marca de 30 mil profissionais formados, o programa está hoje passando por um processo de redefinição de estratégias do Ministério da Saúde. “A idéia é oferecer habilitação técnica aos agentes que já receberam essa formação inicial”, completa Carlos.

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