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22/10/2012

Dengue: Polo Sentinela da Fiocruz vigia seus arredores

Marina Lemle


O Polo Sentinela da Fiocruz tem se mostrado sensível para a detecção precoce de surtos de dengue no município. Em 2010, detectou a re-entrada do DENV-1 no Rio de Janeiro; em fevereiro de 2012, confirmou a entrada do DENV-4, com a detecção do segundo caso no município. Nesta entrevista ao site da Rede Dengue Fiocruz, Patricia Brasil, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec/Fiocruz), fala da importância crescente do Polo, que atende aos bairros do entorno da Fundação e a outros mais distantes, e do trabalho realizado.


O que é um Polo Sentinela da Dengue e como a Fiocruz se insere neste trabalho?


Patricia Brasil: O Polo Sentinela da Fiocruz foi uma iniciativa da Vice-Presidência de Pesquisa e Laboratórios de Referência (VPPL/Fiocruz), criada em 2008, com o objetivo principal de contribuir com a vigilância dos sorotipos de DENV circulantes e introduzidos no Rio de Janeiro, ajudando as Secretarias Municipal e Estadual de Saúde a monitorar os vírus na cidade e no estado. É representado pelas suas Unidades de Assistência, Ensino e Pesquisa, Escola Nacional de Saúde Pública (CSEGSF/Ensp), Instituto Fernandes Figueira (IFF), Ipec e pelo Laboratório de Flavivírus, Referência do Ministério da Saúde de Diagnóstico e Vigilância Virológica do Dengue.


O Polo atende mais a população dos bairros em torno da Fundação, mas também do Caju, Centro, Niterói e Baixada Fluminense. O IFF, no Flamengo, é referência da UPA de Botafogo e também dá assistência a muitos casos da Baixada Fluminense.


O Polo Sentinela da Rede Dengue Fiocruz (Ipec, IFF e CSEGSF/Ensp) foi incorporado à Vigilância Sentinela de Dengue do município do Rio de Janeiro em agosto. Qual a sua importância para o município?


Patricia Brasil: O Polo Sentinela da Rede Dengue Fiocruz detectou a re-entrada do DENV-1 em 2010 no Rio de Janeiro e tem se mostrado sensível para a detecção precoce de surtos no município, já que todo caso suspeito é sistematicamente submetido à investigação laboratorial de dengue nessas Unidades. Em fevereiro de 2012, o polo confirmou a entrada de DENV-4, com a detecção do segundo caso no município.


Existem dados estatísticos sobre os sorotipos que circularam aqui este ano e nos últimos anos?

 

Patricia Brasil: O gráfico abaixo mostra a detecção dos sorotipos virais pela técnica de PCR realizada para diagnóstico de dengue na fase febril dos pacientes atendidos nas Unidades do Polo, desde maio de 2009, logo após a epidemia  de 2007/2008 pelo DENV-2, cuja circulação predominou até meados de 2010, quando  entrou o DENV-1.  No verão deste ano houve nítido aumento da detecção dos sorotipos circulantes, com predomínio do DENV-4.  O gráfico ilustra também a habitual circulação de mais de um sorotipo viral, sobretudo nos períodos mais quentes do ano, o que caracteriza a hiperendemicidade regional.



O que se descobriu a respeito do vírus tipo 4?


Patricia Brasil: O Polo Sentinela atendeu durante este ano 96 casos de dengue do tipo 4 confirmados por método molecular (PCR). Os casos distribuiram-se homogeneamente em todas as faixas etárias - o mais jovem tinha 9 anos de idade e o mais velho 66 anos. Atingiu também indivíduos com Aids e criança com comorbidade, sem que isso significasse maior gravidade. O quadro clínico não foi diferente do de outros sorotipos. Houve três internações, mas nenhuma em UTI. Não ocorreram óbitos. O número de casos é muito pequeno para qualquer tipo de análise ou conclusão, mas não parece um vírus mais agressivo.


Como é a proporção entre casos suspeitos e confirmados? Que fatores levam à diferença?


Patricia Brasil: O gráfico abaixo mostra a sazonalidade dos casos de dengue atendidos pelo Polo Sentinela da Fiocruz nos últimos dois anos, com pico usualmente em abril, e a proporção de casos confirmados laboratorialmente, que às vezes ultrapassa 50%. A diferença entre os casos suspeitos e confirmados deve-se à inespecificidade do quadro clínico (qualquer febre aguda pode ser confundida com dengue no verão) e também à dificuldade de se fechar um diagnóstico laboratorial com os métodos diagnósticos disponíveis. É mais difícil descartar um caso, do que confirmar o diagnóstico laboratorial de uma suspeita clínica de dengue. Ou seja, se por um lado o resultado laboratorial positivo significa quase sempre que a pessoa tem dengue, por outro lado, diante de um resultado negativo, ela pode ter ou não.



O que é o instrumento da OMS sobre dados clínicos?


Patricia Brasil: Fundamentado em um dos maiores objetivos da OMS e do MS do Brasil, de reduzir o número de óbitos e casos graves de dengue, o Polo Sentinela assumiu recentemente a Coordenação Nacional do Estudo Multicêntrico de Validação dos Sinais de Alerta nos pacientes com dengue.


Pacientes com suspeita de dengue às vezes são internados sem necessidade de observação para garantir que as características de dengue grave não se desenvolvam. A internação de pacientes com suspeita de dengue geralmente resulta em encargos financeiros para os países em desenvolvimento. Idealmente, apenas casos de dengue grave (WHO2009) devem ser hospitalizados. A identificação dos sinais de alerta (SA) para prever a gravidade da dengue, especialmente o quadro de choque, é uma ferramenta que permite um diagnóstico oportuno de hipovolemia para a instituição de medidas terapêuticas oportunas. Embora os sinais de alerta tenham grande importância clínica, até agora, eles foram somente empiricamente validados. Este estudo utiliza um instrumento de anamnese e exame físico para os casos confirmados de dengue que visa à avaliação da sensibilidade e especificidade dos sinais de alerta na predição dos casos graves.


A equipe do Polo Sentinela divulgou alguns dos seus resultados preliminares dos estudos em andamento no 18° International Congress of Tropical Medicine, de 23 a 28 de setembro, no Rio de Janeiro.



Publicado em 22/10/2012.

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