14/10/2015
Danielle Monteiro (CCS/Fiocruz) e Filipe Leonel (Ensp/Fiocruz)
A maior tragédia natural já ocorrida no Brasil está prestes a completar cinco anos. A chuva de janeiro de 2011 na Região Serrana do Rio provocou mais de mil mortes e acendeu um alerta sobre a necessidade de estratégias para a redução de risco de desastres naturais. Ciente da importância da discussão da temática, a Fiocruz vai promover, nos dias 15 e 16 de outubro, o seminário internacional Desnaturalização dos desastres e mobilização comunitária: novo regime de produção do saber. O evento vai contar ainda com o lançamento do documentário 11.01.11 Experiência-limite e da publicação Qual é a contribuição das Ciências Humanas e Sociais para a compreensão, explicação e atuação em desastres?.
O seminário, que busca antecipar a discussão a respeito da desnaturalização dos desastres e da importância do protagonismo dos movimentos sociais, promoverá um encontro entre os representantes da Rede Monades (Movimento Nacional dos Afetados por Desastres) e a Rede Nacional de Pesquisadores em Desastres. O evento vai reunir alguns dos maiores especialistas do mundo no assunto. Entre eles, o professor e pesquisador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, João Arriscado Nunes, o investigador do Instituto de Investigações Gino Germani, da Universidade de Buenos Aires, Héctor Alimonda, e o coordenador da Rede de Pesquisa sobre Governabilidade e da Cidadania na Gestão da Água e da Saúde Ambiental na América Latina (WATERLAT-GOBACIT), Esteban Castro.
Segundo o pesquisador da Fiocruz, Carlos Machado, os desastres não são naturais, mas sim, produções sociais. Sendo assim, exigem tanto um olhar das ciências sociais, como também ?maior mobilização da sociedade em favor de ?políticas públicas que promovam a sustentabilidade e a segurança das comunidades. “Os desastres naturais são geralmente atribuídos a forças da natureza. Chuvas fortes, por exemplo, só se transformam em desastres quando as políticas de uso e ocupação do solo privilegiam os investimentos e rendimentos financeiros em detrimento da promoção da vida e da saúde, e quando as políticas ambientais são omissas ou favorecem o desmatamento de encostas e margens de rios”, afirmou o pesquisador.
Machado alerta que mais de 90% dos investimentos da Defesa Civil estão na resposta aos desastres e não em sua prevenção. Segundo ele, o mesmo ocorre com o setor saúde, no qual a maior parte dos investimentos está na atenção à saúde, sem recursos claros para a promoção da saúde e a prevenção de riscos e danos, como os causados pelos desastres. “Setores como Defesa Civil e Saúde, que atuam após os desastres, teriam um papel de grande importância na articulação de políticas públicas para a redução de riscos, envolvendo outros setores como educação, meio ambiente, saneamento, habitação e planejamento urbano”, defendeu o pesquisador.
O seminário também abordará os processos de reconstrução e recuperação das cidades serranas do Rio de Janeiro após a tragédia de 2011. “O condomínio para onde 1.500 famílias desabrigadas foram deslocadas só ficou pronto quatro anos após a tragédia. E ali não há transporte público, unidade de saúde e escolas. O Brasil investiu em alertas e respostas, mas as políticas de prevenção, as formas uso e ocupação do solo, as políticas de habitação e a melhoria da segurança e saúde nas cidades avançaram muito pouco”, revelou a pesquisadora Simone Oliveira, que coordena o seminário juntamente com o pesquisador Sergio Portella. Segundo ela, no Brasil, as políticas de prevenção e resposta são fragmentadas e não incorporam a parcela da população em maior situação de vulnerabilidade: as comunidades locais. “Desnaturalizar necessariamente nos obriga a pensar estratégias territorializadas de atuação; e isso requer uma participação mais ativa da sociedade local. Se os desastres ocorrem a partir de uma produção social, que se realiza e se desenvolve ao longo do tempo, não há como avançar na prevenção sem dar protagonismo às necessidades das populações locais”, concluiu.
Serviço
Seminário internacional Desnaturalização dos desastres e mobilização comunitária: novo regime de produção do saber
Data: 15 e 16 de outubro
Horário: 9h às 17h
Local: auditório do Museu da Vida / Fiocruz. Avenida Brasil, 4.365, Manguinhos – Rio de Janeiro