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10/04/2007

Desnutrição infantil: fatores da criança, do domicílio e do município influem

Igor Cruz


Estudo feito na Bahia e em São Paulo analisou fatores associados ao déficit de crescimento infantil. Publicada na edição de março da revista Cadernos de Saúde Pública, a pesquisa utilizou um modelo multinível, que considera a relação hierárquica entre os dados. As explicações para o problema foram divididas em três níveis: o da criança, o do domicílio e o do município. De acordo com os resultados, baixo peso ao nascer, esquema vacinal incompleto, história prévia de desnutrição e ausência de aleitamento materno foram os principais fatores associados ao déficit de crescimento, no âmbito da criança. No campo do domicílio, condições ambientais, econômicas e de escolaridade materna deficientes foram as causas identificadas pelo modelo. E, na categoria do município, destacaram-se a inadequada assistência pré-natal e o baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).


Embora os fatores no âmbito da criança tenham apresentado um peso maior na explicação do déficit de crescimento infantil, para solucionar o problema também são necessárias intervenções nos outros dois níveis. Segundo o artigo, se as famílias tiverem acesso aos bens necessários à sobrevivência e o município oferecer bons serviços de saúde, saneamento e outros, a criança encontrará condições propícias para enfrentar agravos biológicos e ambientais que possam comprometer seu potencial de crescimento.


Conduzido por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade de São Paulo (USP) e Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, o trabalho analisou mais de 3.700 crianças menores de 5 anos de idade em 15 municípios, sendo dez baianos e cinco paulistas. A relação inadequada entre altura e idade foi o indicador utilizado para avaliar o déficit de crescimento infantil.


Segundo esse indicador, as maiores prevalências foram encontradas nos municípios baianos, principalmente em Cipó, onde o problema atingiu 15,2% das crianças estudadas. “A maior prevalência nos municípios baianos está, provavelmente, relacionada às baixas condições socioeconômicas das famílias, o que pode ser constatado, por exemplo, pelos menores valores do IDH e outras variáveis”, explicou a professora Lucivalda Magalhães de Oliveira, da Escola de Nutrição da UFBA, uma das autoras do artigo.


A desnutrição na infância ainda é um dos principais problemas de saúde nos países em desenvolvimento. Embora exista uma tendência de declínio do problema, em muitas regiões do mundo, como na África e na Ásia, a desnutrição diminui a passos lentos. No Brasil, a partir da década de 70, começou a ser observada uma redução, sobretudo nos centros urbanos, mas os índices no Nordeste do país permanecem elevados.


Para a pesquisadora Lucivalda, algumas intervenções são necessárias para combater a desnutrição na infância no Brasil. “Melhor assistência à saúde para mãe e filho, cuidados desde o pré-natal, como estímulo ao aleitamento materno, acompanhamento rigoroso dos recém-nascidos com baixo peso, incentivo e garantia de um esquema de vacinação completo, bem como proporcionar à criança um ambiente adequado para seu crescimento e desenvolvimento, garantindo suas necessidades básicas de moradia, esgotamento sanitário e água potável”, enumera.

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