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28/01/2011

Dia Mundial contra a Hanseníase reforça a luta contra o preconceito e o estigma

Renata Fontoura


O Dia Mundial de Luta contra a Hanseníase, no próximo domingo (30/1), é uma oportunidade para sensibilizar a sociedade sobre a importância do diagnóstico e tratamento da hanseníase e reforçar a luta contra o preconceito que envolve a doença, que é 100% curável com um tratamento simples, disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS). Centro de Referência Nacional para o Ministério da Saúde na área, o Ambulatório Souza Araújo de atendimento à hanseníase do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) atende a aproximadamente 750 pacientes mensalmente e foi um dos centros pioneiros na adoção da poliquimioterapia no Brasil, ainda no final da década de 1980, quando o tratamento passou a ser indicado como protocolo pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A unidade conta com uma equipe multiprofissional, formada por dermatologistas, neurologistas, fisioterapeuta, assistente social, enfermeiros e técnicos de enfermagem. Além da assistência aos pacientes, o ambulatório também desenvolve pesquisas clínicas. Os resultados obtidos são divulgados em reuniões nacionais e internacionais, contribuindo com o programa de controle da doença.


 O Ambulatório Souza Araújo atende a cerca de 750 pessoas mensalmente (Foto: Rodrigo Méxas)

O Ambulatório Souza Araújo atende a cerca de 750 pessoas mensalmente (Foto: Rodrigo Méxas)


“Apesar dos avanços da ciência em relação aos cuidados em hanseníase, infelizmente, percebemos, por meio dos relatos dos pacientes, que o preconceito ainda persiste no inconsciente coletivo, devido a doença estar associada a carga cultural negativa, relacionada à culpa, pecado e segregação”, explica o médico do Ambulatório Souza Araújo José Augusto da Costa Nery. “A questão cultural permeia tanto o imaginário da sociedade em geral, quanto das pessoas acometidas, persistindo algumas dúvidas sobre a cura de fato, principalmente em pacientes que tem sua aparência comprometida pela doença”, lamenta o especialista.


No Ambulatório Souza Araújo os pacientes são conscientizados de que podem levar uma vida normal, já que a doença deixa de ser transmitida com o início do tratamento. “Considerando as peculiaridades da doença e as possíveis repercussões negativas na vida do paciente, nossa equipe busca desenvolver um trabalho de acolhimento pautado no respeito a singularidade de cada um, visando minimizar o preconceito cultural e reforçar a autoestima dos pacientes para que eles possam ter uma melhor qualidade de vida”, observa a assistente social do Ambulatório Souza Araújo, Rita Maria de Oliveira Pereira.


Outro aspecto importante do trabalho é a inclusão dos amigos próximos e familiares dos pacientes, os chamados comunicantes: pela convivência, eles são suscetíveis à infecção, que precisa de contatos estreitos e continuados para ser transmitida. “No Ambulatório Souza Araújo fazemos semanalmente reuniões com os comunicantes. Abordamos diferentes aspectos da doença como primeiros sinais e sintomas, formas de contágio, tipos de tratamento, possíveis complicações e sequelas, autocuidados e direitos e deveres dos portadores de hanseníase”, conta a assistente social. “Além disso, ressaltamos que o paciente pode e deve permanecer no seu convívio familiar, profissional e social. Reforçamos ainda a importância do apoio familiar para ajudá-lo no enfrentamento da doença”, completa. Os comunicantes também realizam exames para daignosticar precocemente a doença.


O Ambulatório Souza Araújo atua vinculado ao Laboratório de Hanseníase do IOC, estruturado em 1976, quando o então Instituto de Leprologia do Ministério da Saúde foi absorvido pelo Instituto. Desde então, o ambulatório alia o avanço do conhecimento científico à promoção da saúde da população. Assim, a partir dos casos acompanhados no serviço de ambulatório, são realizadas pesquisas de caráter clínico, epidemiológico e laboratorial, sempre com o consentimento livre e voluntário do paciente.


Sobre a hanseníase


A hanseníase é uma doença infecciosa crônica, causada pela bactéria Mycobacterium leprae e pode ser paucibacilar (PB) – quando o paciente apresenta de uma a cinco manchas pelo corpo – ou multibacilar (MB) – quando são encontradas mais de cinco manchas. Quando são paucibacilares, os pacientes não transmitem a doença. Os multibacilares sem tratamento, porém, podem transmitir o bacilo através das secreções nasais ou saliva. Pacientes em tratamento regular e pessoas que já receberam alta não transmitem a doença. O período de incubação, da infecção à manifestação da doença, tem duração média de três anos e a evolução do quadro clínico depende do sistema imunológico do paciente. Por essa característica, a hanseníase é mais comum em populações de baixa renda, desprovidas de condições adequadas de moradia, trabalho e transporte que tendem a contribuir para a disseminação do bacilo da doença para um número maior de pessoas.


Sintomas


Manchas brancas ou avermelhadas sem sensibilidade para frio, calor, dor e tato;

Sensação de formigamento, dormência ou fisgadas;

Aparecimento de caroços e placas pelo corpo;

Dor nos nervos dos braços, mãos, pernas e pés;

Diminuição da força muscular.


Diagnóstico


A identificação da doença é essencialmente clínica, feita a partir da observação da pele, de nervos periféricos e da história epidemiológica. Excepcionalmente são necessários exames laboratoriais complementares, como a baciloscopia ou biópsia cutânea.


Tratamento


A hanseníase tem cura e quando tratada em fase inicial não causa deformidades. O tratamento, denominado poliquimioterapia (PQT), é gratuito, administrado via oral e está disponível em unidades públicas de saúde de todo o Brasil. Para pacientes que apresentam a forma paucibacilar (PB) da doença, a duração do tratamento é de seis meses e para os que apresentam a forma multibacilar (MB), o tratamento dura um ano. Concluído o tratamento com regularidade, o paciente recebe alta e é considerado curado.


Publicado em 27/1/2011.

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