Início do conteúdo

29/01/2008

Diluição de diesel em etanol pode reduzir poluição atmosférica em São Paulo

Renata Moehlecke


O constante aumento da poluição atmosférica na região metropolitana de São Paulo ocorre, principalmente, devido à queima de combustíveis fósseis pelo sistema de transportes. Nos últimos 50 anos a frota automotiva passou de um carro a cada 50 habitantes para aproximadamente um veículo a cada dois indivíduos. Além disso, ao longo do mesmo período, a expansão das atividades comerciais e industriais trouxe um maior número de caminhões para a localidade, o que eleva ainda mais a emissão de poluentes. O quadro se agrava ao considerar que a maioria dos carros em trânsito tem mais de dez anos de uso.


 Trânsito de São Paulo: um veículo para cada dois habitantes

Trânsito de São Paulo: um veículo para cada dois habitantes


Os dados acima fazem parte de uma pesquisa desenvolvida pela engenheira Simone Miraglia, da Universidade de São Paulo (USP), que avaliou quais seriam os custos econômicos, ambientais e de saúde pública da utilização de uma mistura estabilizada de diesel e etanol na frota de ônibus e caminhões da região em questão. Segundo a pesquisadora, a diluição do combustível diesel com etanol pode ajudar a melhorar a qualidade do ar na cidade. E ela ainda destaca: a análise custo-benefício ambiental do estudo resultou em uma balança positiva de cerca de US$ 2,8 milhões. A pesquisa de Simone foi publicada em suplemento especial da revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, que apresenta artigos sobre saúde, ambiente, território e processos de mudança.


“Adicionando-se a essa quantia os benefícios estimados em termos qualitativos, pode-se concluir que os benefícios sócio-econômicos do projeto superam os custos mensurados”, elucida Simone. “A Região Metropolitana de São Paulo se beneficiará de qualquer tipo de biodiesel produzindo ganhos em termos ambientais, de saúde e de inclusão sócio-econômica, os três pilares da sustentabilidade”.


A combinação proposta é constituída por 91,8% de diesel comum, 7,7% de etanol e 0,5% de aditivo e pode ser produzida nos próprios postos de distribuição, que fornecem o combustível final para as frotas de ônibus e caminhões da cidade. “A mistura é menos poluente que o diesel comum e mantém a mesma performance motora”, afirma a engenheira, que acrescenta o fato de que a combinação, em comparação ao diesel comum, tem características que ajudam a lubrificar melhor o motor dos veículos, aumentando o intervalo para ações de manutenção.


Para chegar às estimativas do estudo, Simone tomou como base o seguinte cenário da frota paulista: cerca de 180 mil caminhões e aproximadamente 42 mil ônibus (29 mil utilizando a mistura e 13 mil usando diesel comum, ou seja, 70% da frota circulando com a combinação). Com base nesses números, a intenção é que 65% do total de diesel consumido utilizasse a combinação proposta, diminuindo bastante a emissão de gases. A pesquisadora aponta que a implementação da mistura poderia levar a uma redução de 0,7 a 3,4% em eventuais problemas de saúde da população local.


Simone ainda comenta que o crescimento do uso de etanol aumenta a produção de cana-de-açúcar (matéria-prima) e, portanto, contribui para a geração de oportunidades de emprego, diminuição da dependência de produtos importados e redução da emissão de gás-carbônico na atmosfera. “A capacidade para gerar trabalhos agrícolas e industriais como uma resultante da cana-de-açúcar é estimada em 1,5 milhão de empregos”, diz a pesquisadora.

Voltar ao topo Voltar