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14/07/2011

Dirigente da Fiocruz pede pelo fim da 'cadeia produtiva' da dengue no Brasil


A participação da Fiocruz no 27º Congresso do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), que termina nesta terça-feira (12/7), em Brasília, com o painel Rede Nacional de Atenção Integral no Controle da Dengue, uma parceria que reúne Coppe/UFRJ, Programa Nacional de Controle da Dengue (PNCD), Conass, Conasems e Fiocruz. O vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fundação, Valcler Rangel Fernandes, e a consultora do PNCD Julianna Takarabe debateram com a plateia questões pontuais sobre prevenção e atenção.


 O ministro da Saúde, Alexandre Padilha (à esquerda), homenageia Maria da Penha na abertura do Conasems

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha (à esquerda), homenageia Maria da Penha na abertura do Conasems


Rangel lembrou que as epidemias estão de volta há 25 anos e que as vitórias desde então tem sido só parciais, em territórios e por períodos específicos. Ele acrescentou que a dengue tem impactos econômicos importantes, como 11 dias de internação em média a um custo de US$ 1.394 por paciente internado. No caso de atendimento ambulatorial, o custo é de cerca de US$ 514 por paciente. Além disso, contabilizam-se cerca de nove dias de falta ao trabalho ou, no caso de crianças, cinco dias sem ir à escola. Ele defendeu a pesquisa aplicada e a ação em rede para conter a "cadeia produtiva" da dengue. Rangel contou que a Fiocruz, maior instituição de ciência e tecnologia em saúde da América Latina, faz parcerias com universidades e outros centros de pesquisa para elaborar ações e planos de contingência em cada estado, buscando cumprir sua missão de vincular a pesquisa a partir de lógica de problematização dos gestores.


"É preciso redirecionar pesquisas, investir em quadros, no ensino a distância, no manejo clínico, em profissionais de hospitais, além dos agentes comunitários, e avaliar a efetividade das ações de controle. Por que temos uma doença esperada e padecemos dos mesmos problemas que permanecem nos desafiando? Se houvesse uma boa preparação dos profissionais e prevenção intersetorial de setores público e privados, os óbitos seriam evitados", afirmou. Rangel destacou as ações realizadas a partir de 2008 pelo Programa de Controle da Dengue em Manguinhos (PCDM), que cultiva uma forte interação com a comunidade de 65 mil pessoas do entorno da Fiocruz, região que, apesar das condições precárias, registra baixos índices de infestação. "Um conjunto de projetos ajuda a modelar ações em dengue em territórios vulneráveis como o de Manguinhos", exemplificou.


Julianna Takarabe, consultora do PNCD, observou que a partir de 2008 o número de casos no Brasil e de municípios afetados aumentaram, e hoje se registra a circulação concomitante dos três vírus em todos os estados. Mesmo assim, há, no momento, uma redução do número de casos em relação ao mesmo período do ano passado. "Não basta melhorar rede de assistência, mas também a vigilância epidemiológica, sabendo distinguir o que é dengue do que não é, para fazer um trabalho de prevenção mais bem direcionado", disse. A consultora do PNDC falou da importância da intersetorialidade e da soma de esforços de profissionais de saúde, da academia e de demais setores da sociedade civil nas experiências exitosas de estados e municípios.


No debate, representantes de secretarias de Saúde de estados e municípios relataram as dificuldades que têm para controlar a dengue, que vão desde a falta de recursos - comum a todos - até dúvidas objetivas, como a eficácia ou não das ovitrampas e de técnicas de controle biológico, como o cultivo de plantas que as libélulas gostam para estimular o crescimento da população delas, que se alimentam de mosquitos. Neste ponto, Rangel defendeu a pesquisa básica, de campo. "Não podemos ficar reféns da indústria química para controlar a dengue. Hoje o controle é feito com produtos químicos para combater as larvas e o mosquito. O impacto desses produtos nos ambientes e nas pessoas não está sendo bem avaliado", disse.


Diante dos impasses colocados por uma representante de um município do Amapá, como a falta de financiamento para contratar agentes de saúde, Julianna reconheceu que a questão do financiamento é complicada e que é preciso colocar em votação a emenda constitucional 29, que trata da fixação do percentual de repasse para a saúde. Rangel enfatizou a necessidade de se rever estratégias e promover o plano de saúde da Amazônia Legal. "A região tem um conjunto de peculiaridades que não respondem bem a grandes estratégias para áreas urbanas e até rurais", afirmou.


Publicado em 12/7/2011.

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