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10/05/2013

Disciplina sobre saúde e desenvolvimento poderá ser incluída em cursos da Fiocruz

Informe Ensp


“Cada vez mais, um desenvolvimento centrado de forma exclusiva no crescimento econômico, que não tenha compromissos com a equidade e, assim, seja incapaz de gerar saúde, está sendo questionado mundialmente”, afirmou o coordenador do Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris/Fiocruz), Paulo Buss, em uma palestra. O coordenador comentou ainda sobre o esforço da Fiocruz para incluir a saúde na Agenda de Desenvolvimento pós-2015. Segundo ele, o mundo precisa articular algumas questões, como saúde, agricultura, educação e água limpa, nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável pós-2015. Durante a palestra, Buss suscitou a proposta da criação de uma disciplina para os cursos de pós-graduação da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) que envolva os temas saúde e desenvolvimento. Confira, abaixo, a entrevista com o coordenador do Cris.


Como a Fiocruz se organizou para incluir a saúde na Agenda de Desenvolvimento pós-2015?


Paulo Buss: Em fevereiro de 2012, a Presidência da Fiocruz criou um grupo de trabalho (GT), que analisou os documentos preliminares. O GT percebeu que seria preciso trabalhar muito para fazer que a saúde aparecesse na Agenda de Desenvolvimento pós-2015. Desde então, fizemos uma reunião com toda a comunidade da saúde, realizada em abril de 2012, com cerca de 200 pessoas, e apresentamos o primeiro documento para subsidiar a posição do Brasil em fóruns internacionais. Em seguida, disponibilizamos o documento para consulta pública e, com isso, ganhamos legitimidade para conversar com o governo e Ministério da Saúde sobre a presença da saúde na agenda.


No documento da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), intitulado O futuro que queremos, existem nove parágrafos sobre o tema. O documento orientará o processo de elaboração da Agenda de Desenvolvimento pós-2015, pois reconhece a importância de se estabelecerem os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs), que devem ser coerentes e integrados à agenda. Depois, preparamos uma consulta nacional, realizada em dezembro de 2012 com o Ministério da Saúde, sobre o diálogo global. Antes disso, trabalhamos na Cúpula dos Povos, durante a Rio+20, que se realizou no Aterro, assim como ocorreu na Eco 92, o que foi fundamental para todo o processo.


Realizamos também uma consulta nacional que gerou uma série de documentos enviados para o parecer global e publicamos vários papers para divulgar as propostas. Atualmente, estamos preparando uma participação do Brasil e da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) – temos trabalhado com a Unasul e a Comissão de Países de Língua Portuguesa (CPLP) –, tanto na Assembleia Mundial da Saúde como na Assembleia Geral das Nações Unidas, que será realizada em setembro de 2013. Além disso, estamos analisando o documento final, que inclui dez temas, mais a saúde. Por meio de uma metodologia, procuramos entender como dialogam as conclusões dos dez temas e as da saúde. Os 11 temas são: saúde, desigualdades, governança, sustentabilidade ambiental, dinâmica populacional, água, crescimento e desenvolvimento, conflito e fragilidade, segurança alimentar e nutricional, educação e energia.


Qual a expectativa do resultado desse novo documento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável pós-2015?


Buss: Temos uma chance relativamente grande de que a saúde sobressaia bastante. O processo foi liderado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em colaboração com os governos da Suécia e Botsuana. Os objetivos dessa consulta temática são três: avaliar os avanços e as lições aprendidas com os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio relacionados com a saúde; discutir o posicionamento da saúde no marco de referência para a Agenda de Desenvolvimento pós-2015; e propor objetivos e metas de saúde para essa agenda, incluindo recomendações para sua implementação, medida e monitoramento.


Também trabalhamos para ter um bom diálogo com a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, que é representante oficial do Brasil em um painel de alto nível elaborado pelas Nações Unidas. Agindo assim, esperamos que a ministra consiga reunir coerentemente as várias manifestações presentes nos 11 debates temáticos e, em especial, que a saúde tenha forte presença neles. É fundamental que ela defenda posições coerentes do Brasil e obtenha bom resultado no painel. Outra estratégia importante é levar para Assembleia Mundial da Saúde, a ser realizada em maio deste ano, uma posição consensual do Brasil com a Unasul e a CPLP. Também agiremos para incluir o Itamaraty na discussão e enviar aos embaixadores nossa sugestão de a saúde ter uma presença proeminente nos documentos internacionais e nacionais.


A inclusão da saúde na Agenda de Desenvolvimento pós-2015 requer muitas ações, tanto no âmbito internacional como no nacional. Durante a aula inaugural, o senhor falou sobre a criação de uma disciplina que aborde os temas saúde e desenvolvimento nos cursos de pós-graduação da Ensp. Como o senhor vê essa possibilidade e de que modo ela poderia contribuir para a formação em saúde no país?


Buss: A criação de uma disciplina que envolva saúde e desenvolvimento é fundamental para a formação em saúde no Brasil. Essa iniciativa estimularia um posicionamento maior da saúde nos temas do país, e os futuros sanitaristas sairiam muito mais preparados para lidar com esses temas e aplicá-los a favor da população. Algo muito importante para a criação da disciplina é uma construção multidisciplinar, que apoiaria totalmente o seu propósito.



As publicações também são fundamentais. Eu mesmo tenho publicado muito, inclusive na revista The Lancet, sobre os temas que me competem: cooperação internacional em saúde e diplomacia da saúde. Debater esses temas, em qualquer que seja o meio, é fundamental. É preciso reunir os especialistas nas diversas áreas do saber para termos uma construção coletiva.


Publicado em 10/5/2013.

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