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09/07/2008

Dissertação analisa representações do Rio de Janeiro no telejornalismo local

Renata Moehlecke


De um lado a beleza, de outro o caos. Esses foram os dois aspectos da cidade do Rio de Janeiro mais apresentados em telejornais locais, segundo análise feita pela jornalista Aline Gama. Em dissertação recém-defendida em saúde pública pela Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz, intitulada Maravilhosa e partida: representações do Rio de Janeiro no telejornalismo local, a pesquisadora verificou as representações da cidade veiculadas em noticiários de duas grandes emissoras de TV e concluiu: não há um retrato das nuances da realidade carioca. As notícias e reportagens ajudam a perpetuar e a relegar o estigma de violência na cidade atribuída as áreas de favelas.


 Retrato da cidade partida: o bairro de Copacabana e, ao fundo, a favela Pavão/Pavãozinho

Retrato da cidade partida: o bairro de Copacabana e, ao fundo, a favela Pavão/Pavãozinho


“O Rio de Janeiro é percebido, ora como Cidade Maravilhosa, ora como Cidade Partida e essas noções passam a organizar as relações dos indivíduos com o ambiente e a orientar as escolhas de práticas sociais e modelos de comportamento”, explica Aline. “O poder da mídia na vida cotidiana é muito grande, mas ainda assim não se pode esquecer que existe um jogo de negociação, uma cumplicidade: aquilo que é transmitido é o que o público, muitas vezes, gosta de consumir”.


Segundo a pesquisadora, a cidade costuma ser dividida em duas áreas, as favelas e as não-favelas. Essa divisão socioespacial e territorial é demonstrada em diversas notícias, que não oferecem uma visão abrangente da realidade social. “As notícias seguem um esquema no qual a favela é sempre representada como um espaço sem infra-estrutura, de desgraças, de desordem e violência, enquanto as áreas de não-favelas são as de praia, lazer e eventos culturais”, diz Aline, que ao todo avaliou 25 programas transmitidos entre fevereiro e março de 2007. “No entanto, temos que ter em mente que essa separação não é tão rígida, pois em ambos espaços existem tanto lazer quanto questões relacionadas à violência e à infra-estrutura urbana”.


Aline ainda aponta a força sugestiva das idéias transmitidas pelos telejornais, que ajudam a manter estereótipos. “O telejornal apresenta uma versão ao carioca de como foi o dia da cidade; sugere que os acontecimentos mais importantes do dia estão ali na tela diante do telespectador”, afirma a pesquisadora, acrescentando que é preciso compreender a existência de nuances e da necessidade de transformar a forma como as notícias são veiculadas. “Há uma grande diferença entre dizer que ‘a violência está na favela’ e ‘a violência chegou à favela por diferentes ações de outras esferas sociais’. Temos que encontrar alternativas para pensar cidade fora dos seus clichês, o que pode auxiliar a melhora da cidade. Os problemas e alegrias do Rio abrangem a cidade como um todo e nós somos individualmente responsáveis por ela”.

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