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21/01/2008

Dissertação aponta importância da educação ambiental crítica para alunos do ensino médio

Renata Moehlecke


A necessidade de reverter o cenário de crise sócio-ambiental se tornou bastante evidente nas últimas décadas e, cada vez mais, é atribuída à chamada “educação ambiental” a missão de modificar esse quadro. No entanto, as ações educativas atuais não têm promovido mudanças eficazes, devido à forma como essa temática tem sido compreendida socialmente. Isso é o que aponta a pesquisadora Gabriela Ventura no seu projeto de conclusão de mestrado em ensino de biociências e saúde pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz. A pesquisa, intitulada Reflexões sobre as percepções de um grupo de estudantes do Rio de Janeiro sobre crise ambiental, visa contribuir para a formação de uma prática educativa transformadora das concepções e atitudes sociais na área ambiental.


 


 Atividade desenvolvida pelo programa Mata Atlântica vai à Escola (Foto: SOS Mata Atlântica)

Atividade desenvolvida pelo programa Mata Atlântica vai à Escola (Foto: SOS Mata Atlântica)


 


“A compreensão dessa problemática tem se dado sob uma ótica simplista, reducionista e fragmentada, sendo negligenciada a complexidade de questões e dimensões que abarca”, explica Gabriela. “Um olhar mais crítico nos permite vislumbrar que para além do cenário ecológico a crise ambiental é fruto de um determinado estilo de desenvolvimento que, com suas dimensões políticas, sociais, culturais e econômicas, afeta tanto as organizações sociais humanas, quanto os sistemas naturais”.


 


Para o estudo, a pesquisadora abordou 44 estudantes de ensino médio da rede federal, no Rio de Janeiro, de 13 e 14 anos, provenientes de diferentes realidades sócio-ambientais. A intenção era compreender “quais são os principais obstáculos que atrapalham ou impedem mudanças verdadeiras e como trabalhá-los de modo a contribuir com a promoção de uma educação ambiental crítica, aqui entendida como aquela que aponta para novos ideais de justiça e eqüidade ambiental e social”.


 


Segundo Gabriela, a maioria dos jovens consultados considera como problema ambiental atos que agridam ou degradem a natureza e que esses são causados pelo ser humano, constituindo uma perspectiva dualista entre o plano natural e social. A principal causa dessas interferências, apontada pelos alunos, seria uma falta de valorização do ambiente natural pelo homem de modo geral. As questões ecológicas, como a extinção de espécies e proliferação de doenças, foram destacadas como as conseqüências fundamentais. E, para eles, a solução desses problemas estaria ligada à educação e conscientização da população, sendo o governo e as ONGs os veículos responsáveis por ações geradoras de mudanças comportamentais


 


“A dissociação entre os problemas sociais e ambientais constitui um grande limitador na compreensão crítica desse estudante sobre a crise ambiental”, afirma Gabriela. O aluno não considera, dessa forma, que as transformações sociais podem ajudar a resolver o problema, já que o encara a partir de uma perspectiva individualista e não social. “Por exemplo, a relação entre o desenvolvimento industrial, o lucro e os problemas ambientais fica circunscrita a questões como poluição e degradação da natureza em si”, explica. “Não é cogitada a problemática sócio-ambiental em torno da apropriação desigual dos bens naturais, os quais são assegurados como de uso comum, para o benefício privado de uns poucos e a distribuição dos prejuízos ambientais”.


 


A pesquisadora acrescenta que um aspecto relevante revelado pela pesquisa foi a constatação de um potencial indagador e contestador nos jovens estudantes. “Os jovens que participaram desse trabalho se encontram entre a constatação da crise, a sua denúncia e a sua superação”, comenta. “Contudo, se encontram aprisionados, ainda que inconscientemente, à trama do sistema de idéias dominantes, o que se traduz em algumas cegueiras, conformismos e imobilizações”.


 


Gabriela conclui que a educação calcada apenas na transmissão de informações não promove mudanças, e que é necessário impulsionar uma postura crítica nos estudantes que mostre formas de participação individual e coletiva na sociedade. “É de extrema relevância que as propostas de educação ambiental repensem as relações entre sociedade e natureza, o que implica discutir como se organiza a sociedade”, destaca. “Dessa forma, para um enfrentamento efetivo da crise, necessitamos de que as questões ambientais sejam situadas dentro de um contexto histórico e social”.

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