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01/04/2008

Dissertação avalia centro de atendimento a idosos na Cidade de Deus

Catarina Chagas


O cuidado com os idosos de um dos bairros mais pobres do Rio de Janeiro foi o objeto de estudo da fisioterapeuta especializada em geriatria Ana Claudia Barbosa. Em seu trabalho de mestrado, recém-concluído na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz, ela acompanhou a Casa de Santa Ana, na Cidade de Deus, onde atua como voluntária. A instituição funciona como centro-dia, oferecendo atividades e serviços aos idosos que não necessitam de internação em asilos ou hospitais.


Em funcionamento desde 1987, a ONG Casa de Santa Ana é um dos cinco centros-dia da cidade e atende a uma população idosa com algum nível de dependência e sem muitos recursos econômicos, o que reforça sua importância. Sua missão consiste na atenção ao idoso no seio da família e da comunidade, de modo a evitar a internação desnecessária e promover a socialização. “No centro-dia, o idoso pode desenvolver autonomia, independência funcional, autoconhecimento e autocuidado, e, em especial, uma sensação de pertencimento e reconhecimento junto à comunidade e à família”, defende Ana Claudia.


Nas entrevistas feitas com 16 idosos entre 65 e 88 anos atendidos pelo centro-dia, grande parte dos idosos afirmaram procurar a instituição em busca de uma atividade ou serviço específico, como alfabetização, aulas de artesanato e dança, cuidados de enfermagem, acupuntura, atendimento psicológico, assistência social e alimentação, entre outros. Mas, sobretudo, o que chama atenção é a busca por convívio social e fuga do isolamento. “Muitos dos idosos que entrevistamos são completamente independentes, mas, mesmo assim, continuam freqüentando o centro-dia”, conta Ana Claudia. “Lá eles se sentem em casa”.


Além da promoção de práticas de saúde, a ONG acaba preenchendo lacunas deixadas pela família no cuidado ao idoso, como, por exemplo, atenção na hora das refeições e preparação de cardápios de acordo com o estado de saúde. Outras atividades visam integrar os idosos às gerações mais novas, como a oficina de percussão com jovens entre 13 e 18 anos da comunidade de Vigário Geral, outro bairro pobre do Rio, e o Coral da Casa.


“Todos os idosos entrevistados relataram grande prazer em participar das atividades da Casa”, celebra Ana Claudia. “Isso reforça nossa convicção de que o cuidado deve ir além das práticas técnicas de saúde, de modo a promover um envelhecimento ativo e saudável, sobretudo quando a conjuntura é de vulnerabilidade – a maioria dos idosos entrevistados apresentou baixa escolaridade e histórico de trabalho em atividades mal remuneradas, um panorama típico de um bairro pobre como a Cidade de Deus”. Embora não seja possível traçar uma relação direta entre a participação no centro-dia e a longevidade, todos os idosos que freqüentam a Casa há mais de cinco anos já superaram a expectativa do bairro, que é de 66 anos.

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