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04/10/2013

Documentário chama atenção para os desafios da paracoccidioidomicose

Carolina Landi


“Nunca ouvi falar dessa doença”. Proferida por um paciente no começo do documentário Paracoco – Uma endemia brasileira, a frase reflete a situação atual da paracoccidioidomicose. Doença endêmica e negligenciada na América Latina (o Brasil detém 80% dos casos), tem seus sintomas comumente confundidos com outras enfermidades, como tuberculose, Aids e câncer e ocupa o oitavo lugar como causa de mortes por doenças crônicas em território brasileiro. O documentário foi lançado na quinta-feira (3/10), em sessão especial no auditório do Museu da Vida. O vídeo foi realizado por três unidades da Fiocruz Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp), Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec) e Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict) – e busca abordar a doença (também conhecida como pcm, pbmicose, micose do capim), por meio da linguagem audiovisual direcionada a um público amplo. Há depoimentos de profissionais de saúde e pacientes, mostrando os diversos lados da doença. O filme é legendado em espanhol e inglês. Há planos para que sejam disponibilizadas cópias para unidades de saúde e programa Mais Médicos. O trailer do filme pode ser assistido aqui.

 

Para o diretor do Icict, Umberto Trigueiros, a produção vem preencher “a ausência de materiais de divulgação sobre essa endemia, tão importante no nosso país”. “É um trabalho de relação sinérgica entre as unidades, unindo a integração de saberes e entendimentos”, disse. “O vídeo expressa a atuação da Fiocruz, dentro de suas áreas transversais, para resolver um agravo dentro da saúde pública”, afirmou Rodrigo Stabelli, Vice Presidente de Pesquisa e Laboratórios de Referência (VPPLR). Participaram da mesa de debate os pesquisadores Antônio Francesconi Valle e Márcia Lazera (substituindo Bodo Wanke), do Ipec, e Ziadir Coutinho, da Ensp, coordenadores científicos do filme, Eduardo Thielen (roteirista) e Sergio Brito (coordenador de produção), da VideoSaúde, e Ive Tavares, coordenadora de Saúde do Movimento dos Sem Terra (MST) do Rio de Janeiro. A mesa foi mediada por José Leonídio Santos, coordenador da Coordenação de Cooperação Social da Fiocruz.

De acordo com Ziadir Coutinho, pesquisador da Ensp e um dos organizadores da produção, o filme tem como intuito suscitar o debate não só na comunidade acadêmica, mas também junto aos trabalhadores rurais. Ele também destacou a subnotificação da doença, muitas vezes registrada como blastomicose, na internação hospitalar ou no óbito. “Encontramos até 70% dos registros como essa doença. O paciente pode demorar até seis meses para conseguir o diagnóstico correto”. A médica e pesquisadora do Ipec Marcia Lazera ressaltou a necessidade do esclarecimento do paciente sobre a doença. “O paracoco vive à sombra da tuberculose. Mesmo que o exame dê negativo, o paciente deve questionar a insistência em ser tratado como se estivesse com essa enfermidade”.

Ivi Tavares, coordenadora do setor de Saúde do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) no Rio de Janeiro, acredita que o vídeo deve ajudar no processo de esclarecimento dos trabalhadores rurais e reconhecimento da doença pelos profissionais de saúde nessas áreas. “A realidade da saúde pública na área rural é um desafio para o trabalhador e para o profissional. Como o MST tem espaços de formação política, realizando trabalhos educativos, esse documentário só vem a agregar”, informa a coordenadora. Para ela, a divulgação desse vídeo é “um exercício de direito à saúde”, visão compartilhada pelo diretor do documentário, Eduardo Thielen. “Em Rondônia (um dos locais onde o documentário foi gravado), não havia remédio para o tratamento do Paracoco. Notificamos o Ministério da Saúde sobre isso. A comunicação também pode ser política”.

Sobre Paracoco – Uma endemia brasileira

A produção é um projeto contemplado por edital de apoio promovido pela Cooperação Social da Presidência da Fiocruz e, em breve, estará disponível para todos os interessados. Serão produzidas cópias que serão distribuídas pelo VideoSaúde - Distribuidora da Fiocruz, para instituições vinculadas ao SUS e à entidades da sociedade civil, principalmente as representativas dos trabalhadores rurais.

Para a composição do conteúdo do produto foram gravadas entrevistas com profissionais de saúde e portadores da doença e imagens de trabalho rural. Com 24 minutos de duração, o filme foi rodado em quatro estados do país, em diversas locações: 1) no campus da Fiocruz, que mantém, no Ipec, um ambulatório com mais de 60 anos de experiência em tratamento da doença; 2) em Paty dos Alferes (RJ) e em Botucatu (SP), dois importantes pólos da doença no país; 3) na periferia de Curitiba. O Paraná foi o primeiro estado a dar uma atenção especial à doença, transformando a paracoco em uma doença de notificação compulsória; 4) e em Rondônia, considerado atualmente o epicentro da micose no Brasil, com a mais alta taxa de mortalidade.

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