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09/04/2009

Documento sobre saúde global faz recomendação ao governo americano

Informe Ensp


O presidente da Federação Mundial de Associações de Saúde Pública (WFPHA) e ex-presidente da Fiocruz, Paulo Buss, integrou o comitê responsável pela elaboração de um documento inédito sobre saúde global, que contém recomendações para o presidente dos Estados Unidos, Barak Obama. O documento foi uma iniciativa do Instituto de Medicina das Academias Nacionais dos EUA - com suporte de agências governamentais e cinco fundações privadas -, que formaram um comitê independente para examinar o tema da saúde global e articular futuros investimentos e atividades voltadas para melhorar a saúde mundial. Para o primeiro ano da administração Obama, o documento recomenda a criação de um Comitê Interagência em Saúde Global na Casa Branca para liderar, planejar, priorizar e coordenar programas e atividades de saúde global. Em entrevista ao Informe Ensp, Buss - que está à frente do Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris), criado na Fiocruz em janeiro - fala das principais recomendações do documento, de seus objetivos e de que maneira a Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) vai se inserir nesse processo.


 Buss: muito dos princípios do SUS foram levantados, na elaboração do documento, para cobrar outra postura dos Estados Unidos na saúde internacional

Buss: muito dos princípios do SUS foram levantados, na elaboração do documento, para cobrar outra postura dos Estados Unidos na saúde internacional


Quais são as principais recomendações do documento inédito sobre saúde global, redigido pelo Instituto de Medicina das Academias Nacionais dos Estados Unidos, para a administração do presidente Barak Obama?


Paulo Buss: As principais recomendações são duas: a primeira é que os Estados Unidos abandonem a postura individualista e unilateral em suas ações internacionais e se somem aos esforços globais, articulando-se com o sistema das Nações Unidas e com os demais doadores; a segunda recomendação é que as agências americanas de fomento à cooperação internacional se articulem entre si, pois trabalham de forma isolada e muito pouco articulada. Para isso, o relatório sugere a criação de uma instância para saúde global na própria estrutura da Casa Branca, quer dizer, ligada diretamente ao presidente Obama.


Qual o objetivo do documento e quais são seus pontos de maior relevância?


Buss: O IOM (Institute of Medicine) dos Estados Unidos é um dos componentes da Academia de Ciências americana e tem imensa influencia como 'conselheiro' do governo e formação de opinião pública. O objetivo do documento é aconselhar o governo americano e também doadores privados, como as grandes fundações (Gates, Rockfeler, Ford, Kellog etc.) e outros atores, no tocante à presença dos Estados Unidos na saúde global, incluindo suas posições na cooperação internacional em saúde.


Qual o peso da participação brasileira na elaboração do documento? Em algum momento os princípios do SUS foram utilizados no documento?


Buss: Eu não estava indicado como representante brasileiro, mas como um convidado do IOM, por razões que desconheço. Claro que a minha vivência com a cooperação internacional em saúde do Brasil, além de estudioso da diplomacia da saúde, me permitiu apontar alguns dos grandes equívocos americanos na área da saúde global. O SUS, como fonte inspiradora de todos os sanitaristas brasileiros, sempre é o pano de fundo para nossas posições e, dessa forma, certamente muito de seus princípios foram levantados para cobrar outra postura dos americanos na saúde internacional.


E em relação aos representantes de outros países? Que posições políticas o senhor destacaria?


Buss: Como disse, não são 'representantes de países', mas profissionais que a Academia selecionou por suas contribuições ao tema da saúde global e diplomacia da saúde. Além de mim, como estrangeiro estava apenas o diretor da Faculdade de Medicina de Uganda.


Uma vez que a Ensp/Fiocruz vem cada vez mais aprofundando seu processo de internacionalização, com envolvimento no campo da saúde global, de que forma a instituição pode ser impactada e/ou contribuir com as recomendações do documento?


Buss: É um documento interessante, que deve ser divulgado e lido por todos os interessados. Contudo, o Brasil e a Fiocruz têm posições e orientações muito claras sobre as ações no campo da saúde global e da diplomacia da saúde. Vamos seguir na linha que já vínhamos adotando, de construir projetos conjuntos com os países em cooperação, priorizando a América do Sul e a África, principalmente os países de língua portuguesa. Nesse sentido, o ministro Temporão me indicou como ponto focal para a estruturação do Programa Estratégico de Cooperação em Saúde da CPLP, que está em processo de finalização e será assinado pelos ministros da Saúde da CPLP em 15 de maio, em Lisboa; e como ponto focal do Conselho Sul-Americano de Saúde, que será instituído em 21 de abril, em Santiago, no Chile, quando se reunirão todos os 12 ministros da Saúde da recém-criada União Sul-Americana de Nações (Unasul).


Tenho procurado representar os planos e ideias do Centro de Relações Internacionais em Saúde, criado na Fiocruz em janeiro, compartilhando as discussões com todos os colegas interessados em saúde internacional na Fiocruz. Agora em 14 de abril faremos o 4º Seminário sobre Cooperação Fiocruz-CPLP-África na Fundação, com a participação dos representantes da área internacional de todas as unidades da instituição.


Acesse aqui o documento americano sobre saúde global.


Publicado em 9/4/2009.

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