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15/03/2013

Editoras Fiocruz e Claro Enigma lançam 'Química em questão', terceiro título de uma série de divulgação científica

Fernanda Marques


Mais de 70,8 milhões: esta era a quantidade de compostos químicos conhecidos no momento em que este texto começava a ser escrito, segundo o site do gigantesco banco de dados Chemical Abstracts. E o contador no site não para de avançar – com intervalos de alguns segundos, novas substâncias são identificadas em algum lugar do mundo. Isso ilustra o quão amplo é o universo da química, presente em todas as coisas vivas e inanimadas, alicerce do corpo humano e da economia, que age como remédio e veneno, que produz riqueza e destruição ambiental. Afinal, o que faz a química, esta ciência tão próxima de nós e, ao mesmo tempo, ainda tão incompreendida? É em torno desta pergunta que se desenrola o livro Química em questão, terceiro título de uma série de divulgação científica lançada pelas Editoras Fiocruz e Claro Enigma. Neste novo volume, o professor Alfredo Luis Mateus esclarece alguns dos principais fenômenos e aplicações da química, além de desfazer alguns mitos e mal-entendidos.






“A química não realiza suas atividades sozinha, e sim como parte da sociedade atual, com todas as vantagens e os problemas que tal responsabilidade traz”, afirma o autor, professor do Colégio Técnico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “O importante é pensar o seguinte: qualquer que seja seu modo de colocar a química em perspectiva, leve-o a sério”, adverte. E, para quem quiser tirar a prova de que levar a química a sério não é algo enfadonho, mas, pelo contrário, pode ser muito interessante, basta ler o livro: são quatro capítulos recheados de exemplos, histórias, sugestões de experimentos e discussão de controvérsias. “Que, ao ler este livro, pense, critique, concorde, discorde, duvide, pesquise, enfim, converse sobre química”: eis o convite feito aos leitores desde as primeiras páginas.


O livro começa falando da radioatividade e, ao mesmo tempo em que explica os conceitos químicos envolvidos neste fenômeno, vai apresentando grandes nomes da história da ciência, como Henri Becquerel, J. J. Thomson, Wilhelm Roentgen, Marie Curie e Ernest Rutherford. Mas se engana quem acha que a discussão fica restrita aos aspectos estritamente científicos: o uso de bombas nucleares em Hiroshima e Nagasaki, durante a Segunda Guerra Mundial, e os acidentes com usinas nucleares, como os que ocorreram em Chernobyl, na Rússia, em 1986, e em Fukushima, no Japão, em 2011, também são colocados em discussão. “Por um lado, a energia produzida por usinas nucleares não contribui para o aquecimento global como acontece nas usinas termoelétricas (que queimam combustíveis fósseis). Por outro, o risco associado ao trabalho com grandes quantidades de materiais radioativos e o gerenciamento dos resíduos do combustível nuclear são problemas que devem ser levados em consideração”, problematiza o autor, que também lembra das aplicações da radioatividade na medicina.


A química medicinal é o assunto do segundo capítulo. O texto aborda desde o conhecimento popular sobre o uso de determinadas plantas, estabelecido ao longo de muitas gerações, por tentativas e erros, até o design racional de fármacos. Neste caso, são utilizadas técnicas sofisticadas para planejar detalhadamente a criação de uma nova molécula com as funções desejadas e sem efeitos colaterais. Isso requer uma série de conhecimentos a respeito das propriedades dos átomos, das ligações químicas e das estruturas moleculares já descritas. São tantos dados e possibilidades que, frequentemente, o trabalho começa no computador; só depois de muitas simulações, vem a etapa de síntese em tubos de ensaio. E, quando finalmente se obtém no laboratório o produto planejado, ainda faltam inúmeros testes para confirmar (ou não) a segurança e a eficácia daquela nova molécula como medicamento, assim como a capacidade de produzi-la em escala industrial. Para ilustrar todo esse processo, o capítulo termina comentando o desenvolvimento do Viagra, famoso medicamento indicado para tratar a disfunção erétil


A indústria farmacêutica não é a única que tira proveito do design racional de novas substâncias. Na prática, qualquer material ou produto pode ser planejado de modo a potencializar suas qualidades ou mesmo apresentar características inovadoras – alguns são capazes até de mudar suas propriedades em resposta a estímulos externos, como exposição à luz ou ao calor. Este é o tema em pauta no terceiro capítulo. “Com um pouco de nanotecnologia, bioplásticos, compósitos e materiais inteligentes, vamos mostrar como a química contribui para a criação dos produtos de agora e daqueles que ainda estão por vir”, adianta o autor.


No caso do plástico, ele pode ser produzido a partir de diferentes processos e matérias-primas, inclusive alimentos e outras fontes renováveis, originando produtos recicláveis ou mesmo biodegradáveis. Então, se esses produtos, aparentemente, têm um menor impacto ambiental, eles são preferíveis ao plástico comum? Não necessariamente. O livro adverte o leitor de que outros fatores devem ser considerados no cálculo dos impactos. O cultivo de um alimento para a produção de plástico pode competir com sua oferta para o consumo da população. Além disso, a área onde ocorre esse cultivo pode ter sofrido desmatamento e queimada, e ainda utilizar grande quantidade de agrotóxicos. Como se vê, não é uma equação tão simples de resolver.


Não há respostas fáceis: esta é a mensagem principal do quarto e último capítulo. O design racional de um produto deve considerar as questões ambientais ao longo de todo o ciclo de vida daquele material. Isso envolve a decisão de produzi-lo pela via mais eficiente, que consome menos energia e matéria-prima, além de gerar menos resíduos; passa pela logística do transporte, da distribuição, do uso otimizado e da minimização dos desperdícios; e chega até o descarte adequado ou mesmo o seu reaproveitamento. “Uma opção interessante, e na qual geralmente não pensamos muito, é simplesmente não descartar o material. Se você guardar uma caneca de cerâmica ou de alumínio em sua bolsa e a usar para tomar água em vez de usar um copo descartável, já eliminou uma necessidade de gerar resíduos”, sugere o autor, coordenador do portal www.pontociencia.org.br, que apresenta experimentos e outros conteúdos para o ensino de ciências.


Publicado em 15/3/2013.

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