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24/09/2012

Eliminar a Dengue: um programa de pesquisa internacional


O projeto Eliminar a Dengue: Desafio Brasil é parte do programa internacional Eliminar a Dengue: Nosso Desafio, que traz uma abordagem nova e natural para o controle da doença. Dentre as doenças virais transmitidas por mosquitos, a dengue é considerada a mais relevante no mundo. Nos últimos 50 anos, sua incidência aumentou 30 vezes. O objetivo do programa é cessar a transmissão do vírus da dengue pelo Aedes aegypti a partir da introdução da bactéria Wolbachia – que é natural e comumente encontrada em insetos – nas populações locais de mosquitos.


 A Wolbachia impede o vírus de se desenvolver dentro do mosquito e, consequentemente, de ser transmitido para pessoas. Foto: Peter Ilicciev. 

A Wolbachia impede o vírus de se desenvolver dentro do mosquito e, consequentemente, de ser transmitido para pessoas. Foto: Peter Ilicciev. 


A atuação da Wolbachia reduz a transmissão do vírus da dengue do A. aegypti para as pessoas. Quando os mosquitos com Wolbachia são introduzidos na natureza, eles se reproduzem com as populações locais de mosquitos e passam a bactéria para sua prole, fazendo com que todos os A. aegypti daquela localidade tenham a Wolbachia. Assim, não conseguiriam transmitir o vírus da dengue. O programa Eliminar a Dengue é uma estratégia de longo prazo que, se for bem-sucedida, irá beneficiar um número estimado de 2,5 bilhões de pessoas – ou seja, dois quintos da população mundial que, atualmente, vivem em áreas de transmissão da doença . O método poderá reduzir de forma significativa a dependência em relação aos métodos convencionais de controle do mosquito, como o uso de inseticidas, e será totalmente compatível com uma vacina, uma vez desenvolvida.


Linha do tempo do programa Eliminar a Dengue



Confira, abaixo, a linha do tempo do programa desde 2006. O objetivo original dos pesquisadores era transferir a Wolbachia das moscas-da-fruta para os mosquitos. O objetivo em foco era o encurtamento da vida das fêmeas adultas do Aedes aegypti – assim, não vivem tempo suficiente para contrair e transmitir o vírus para humanos. Quando a Wolbachia foi introduzida com sucesso no Aedes aegypti, isso não somente encurtou a expectativa de vida do mosquito como também interferiu diretamente na capacidade do vírus da dengue de se desenvolver e, como resultado, de ser transmitido.


2006 – Primeiros estudos sobre a idade aproximada do mosquito



Os primeiros estudos que guiariam o programa Eliminar a Dengue começam com o desenvolvimento de um novo método para identificar a idade dos mosquitos por meio do perfil transcricional. O trabalho, publicado no periódico científico Proceedings of the National Academy of Sciences, é resultado da colaboração entre grupos de pesquisa da Universidade de Queensland, do Instituto Queensland de Pesquisas Médicas e da Universidade James Cook, na Austrália. Trata-se do marco inicial do projeto, que resultou em uma técnica valiosa para a extensa comunidade científica dedicada à pesquisa em mosquitos.



Janeiro de 2009 – Wolbachia é transferida para o Aedes aegypti



É publicada na revista Science a pesquisa que descreve a introdução estável da Wolbachia no Aedes aegypti. Por meio da técnica de microinjeção embrionária, pesquisadores na Universidade de Queensland criaram, com sucesso, duas linhagens de Aedes aegypti em que a Wolbachia era transmitida hereditariamente. A infecção pela bactéria encurtou pela metade a expectativa de vida do mosquito em condições de laboratório e induziu a uma forte incompatibilidade citoplasmática, característica em que os machos com Wolbachia não geram filhos em fêmeas sem Wolbachia, o que é relevante para a disseminação nas populações locais.



Janeiro de 2009 – Lançamento oficial da gaiola de campo GCGH, em Nha Trang, Vietnã



Com o objetivo de estudar a sobrevivência do Aedes aegypti em condições naturais, é lançada, no Vietnã, a gaiola de campo GCGH. A gaiola foi projetada para recriar o ambiente doméstico em que o mosquito vive e os experimentos visavam validar as metodologias de classificação da idade a partir da análise das linhagens locais. A partir daí, pesquisadores foram capazes de identificar a longevidade dos mosquitos em condições de campo.



Dezembro de 2009 – Descoberta científica de que a simbiose entre a Wolbachia e o Aedes aegypti limita a infecção por dengue, Chikungunya e Plasmodium



A equipe do programa Eliminar a Dengue comprova que a infecção por Wolbachia inibe diretamente a infecção do inseto por uma gama de patógenos humanos, como o vírus da dengue, o vírus Chikungunya (causador de um tipo de febre hemorrágica que ocorre sobretudo na Ásia) e o Plasmodium (protozoário causador da malária). A descoberta da interferência da Wolbachia na relação patógeno-hospedeiro coincide com a estratégia inicialmente proposta: encurtar a vida do vetor para controlar, de forma mais contundente, os insetos transmissores de doenças. Os achados foram publicados na revista científica Cell.



Setembro 2010 – Aprovação governamental para iniciar os experimentos de campo na primeira localidade na Austrália


Após rigorosa avaliação sobre a segurança do projeto para humanos e meio ambiente, a Autoridade Federal Governamental Australiana de Pesticidas e Medicamentos Veterinários (APVMA, na sigla em inglês) aprova o início dos experimentos de campo nas comunidades de Yorkeys Knob e Gordonvale, próximo a Cairns, em Queensland, norte da Austrália.


Janeiro de 2011 – Testes de campo têm início na Austrália


Após a conquista de extensivo engajamento comunitário, avaliação de risco e aprovação da APVMA, o programa Eliminar a Dengue dá início aos experimentos em duas localidades de Cairns: Yorkey Knob e Gordonvale, em Queensland, Austrália. O objetivo deste primeiro teste de campo é determinar como a Wolbachia iria se disseminar no ambiente dadas as diferentes condições de soltura do inseto. O projeto é pioneiro neste aspecto: uma vez que um número suficiente de mosquitos com Wolbachia são soltos, o método é autossustentável.


Mosquitos infectados pela Wolbachia foram soltos uma vez por semana nas residêncidas de ambas as comunidades. Após dez semanas da primeira soltura e cinco após a última, 100% dos Aedes aegypti em Yorkeys Knob possuíam a Wolbachia e, em Gordonvale, o índice chegou a 90%. Os mosquitos foram soltos apenas nas propriedades em que havia permissão dos moradores.


Agosto de 2011 – Nature publica o resultado dos experimentos de campo na Austrália


A revista científica Nature publica dois artigos que descrevem os resultados de diversos experimentos científicos empreendidos pelo programa Eliminar a Dengue ao longo dos anos – das pesquisas em laboratório ao primeiro teste de campo do método de controle.


• Estes resultados apresentam o primeiro exemplo de sucesso em que populações de campo de mosquitos foram objeto de uma intervenção cokm o objetivo de alterar a capacidade do vetor de transmitir vírus causador de doença.

• Estas descobertas indicam que a estratégia baseada no uso da Wolbachia pode ser uma abordagem prática de supressão da dengue, com potencial para ser implementada a baixo custo em áreas extensas.


2011 – Programa Eliminar a Dengue estabelece projetos nacionais em países endêmicos


Seguindo o sucesso do primeiro experimento de campo na Austrália, o programa busca a aprovação de órgãos regulatórios para conduzir experimentos similares no Vietnã, Indonésia e Brasil. Os testes de campo vão enfocar a medição do impacto do método na redução dos casos de dengue nas comunidades destes locais, onde as taxas de transmissão são muito superiores às da Austrália.


Janeiro de 2012 – Segundo teste de campo é realizado na Austrália


Moradores das comunidades das localidades de Machans Beach e Babinda em Cairns, Austrália, manifestam apoio para o início de um segundo experimento com o método Wolbachia.


A equipe do programa e os financiadores


O programa Eliminar a Dengue envolve instituições de pesquisa na Austrália, Vietnã, Tailândia, Estados Unidos, Indonésia, China e Brasil e é liderado pelo professor Scott O’Neill, da Universidade Monash, em Melbourne, Austrália.


No Brasil, o projeto de pesquisa conta os seguintes financiadores:


• Fiocruz

• Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS)

• Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde (DECIT/SCTIE)

• Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (CNPq)

• Foundation for the National Institutes of Health, com recursos da Grand Challenges in Global Health Initiative da Bill & Melinda Gates Foundation (Estados Unidos)


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Informações sobre a dengue


Publicado em 24/9/2012.

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