07/08/2006
Sarita Coelho
| Ao longo de sua carreira, a médica psiquiatra Rachel Aisengart Menezes presenciou diversas situações em que pacientes diagnosticados com morte próxima e fora de possibilidade terapêutica (FPT) faleceram com "os corpos invadidos por tubos" sem a presença de familiares. A indagação sobre o que fazer com esses indivíduos e como proporcionar um final de vida mais humano para essas pessoas a pôs em contato com uma nova proposta de assistência aos doentes terminais, os cuidados paliativos. Investigações sobre as origens dessa abordagem, que tem como objetivo minorar o sofrimento do paciente e conduzi-lo a uma "boa morte", e as experiências observadas no hospital pioneiro em cuidados paliativos do Brasil foram registradas no livro Em busca da boa morte: antropologia dos cuidados paliativos, lançado pelas editoras Fiocruz e Garamond. De acordo com a obra, a primeira instituição destinada especificamente a proporcionar conforto e amparo aos moribundos foi o St. Christopher Hospice, fundado em Londres pela assistente social, enfermeira e médica Cicely Saunders em 1967. Em pouco tempo, o local se tornou um modelo de assistência, ensino e pesquisa no cuidado de pacientes FPT e de suas famílias. Surgiram espaços semelhantes nos Estados Unidos nos anos 70, na França em 1986 e na Argentina em 1982. No Brasil, um importante passo para o estabelecimento da disciplina científica dos cuidados paliativos foi a publicação do Manual de Cuidados Paliativos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1991. A primeira unidade pública paliativa implantada no Brasil foi criada no Instituto Nacional do Câncer (Inca) no Rio de Janeiro. Em 1998, surgiu um hospital destinado exclusivamente para esses pacientes, o Centro de Suporte Terapêutico Oncológico, atualmente conhecido como Hospital do Câncer 4. A autora acompanhou a rotina do local em diferentes períodos entre os anos de 2001 e 2003. O edifício de 11 andares é composto por ambulatório, farmácia e enfermarias amplas, arejadas e claras. Ali funciona um programa de humanização cujo objetivo é tornar as instalações mais aconchegantes e personalizadas. A rotina do hospital já é um fator de bem-estar para os pacientes. Todos os profissionais sorriem ao cumprimentar os passantes, andam pelos corredores calmamente e falam em um tom de voz tranqüilo. Os pacientes são visitados por médicos, enfermeiros e assistentes sociais que tentam proporcionar uma melhor qualidade de vida para o enfermo. Eles conversam com os doentes e seus familiares e providenciam medidas para o alívio dos sintomas, principalmente da dor. A família, que também é envolvida no processo, sofre menos ao observar e vivenciar esses cuidados. Rachel entrevistou alguns profissionais paliativistas para construir uma identidade comum. Entre os atributos selecionados, ela destaca ser paciente, atencioso, ter compaixão, bom senso, empatia, tranqüilidade, docilidade e sensibilidade. Para ela, esses atributos ajudam a proporcionar uma morte mais humana para os doentes terminais. |