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25/09/2008

Embora façam o pré-natal, gestantes não são submetidas ao exame das mamas

Fernanda Marques


Seis em cada dez mulheres não são submetidas ao exame clínico das mamas durante o pré-natal, embora o exame seja recomendado em manuais técnicos do Ministério da Saúde e da Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). O dado é de uma pesquisa feita pela Universidade Federal de Rio Grande e recém-publicada na revista Cadernos de Saúde Pública, periódico científico da Fiocruz. O estudo foi feito nos dois hospitais que compõem o sistema de saúde do município, avaliando-se 473 mulheres.


 Mulheres fazem o auto-exame das mamas. O câncer de mama é a segunda neoplasia mais freqüente na gravidez, atingindo uma em cada 3 mil grávidas, sobretudo aquelas que têm mais de 30 anos (Foto: Unipar)

Mulheres fazem o auto-exame das mamas. O câncer de mama é a segunda neoplasia mais freqüente na gravidez, atingindo uma em cada 3 mil grávidas, sobretudo aquelas que têm mais de 30 anos (Foto: Unipar)



 

Dessas 473 mulheres que deram a luz na cidade de Rio Grande (RS) no período estudado, 19 (4%) não fizeram nenhuma consulta pré-natal e 9 se recusaram a participar da pesquisa. Assim, 445 mães foram entrevistadas pelos pesquisadores. Constatou-se que cerca de 70% delas haviam iniciado o pré-natal no primeiro trimestre e comparecido a seis ou mais consultas. Isso significa que, quanto ao início e ao número de consultas, o pré-natal oferecido às gestantes daquela cidade pode ser considerado adequado. Contudo, em termos de qualidade, ele deixa a desejar, pois apenas 40% das gestantes tiveram suas mamas examinadas. Este percentual é menor que o verificado em outras cidades brasileiras, como Pelotas (RS), Embu (SP) e Criciúma (SC), onde as freqüências de realização do exame foram de 61,3%, 62,9% e 50,6%, respectivamente.


O exame clínico das mamas deve ser acompanhado de orientações para o aleitamento materno. “Recomenda-se atenção à existência de insegurança ou resistência da gestante à amamentação e de anormalidades anatômicas que possam prejudicar o processo, levando, conseqüentemente, ao desmame precoce”, explicam os autores no artigo. O intuito é que o exame seja associado à orientação e à preparação das mamas para o aleitamento materno. “O que deveria ser um ato comum no exame físico geral da gestante acaba, muitas vezes, sendo esquecido pelo médico”, destacam. Outro aspecto importante é que o câncer de mama é a segunda neoplasia mais freqüente na gravidez, atingindo uma em cada 3 mil grávidas, sobretudo aquelas com idade superior a 30 anos.


A análise dos pesquisadores revelou que as mulheres não brancas, sem companheiro, com renda familiar per capita inferior a um salário-mínimo e com menor escolaridade são as que apresentam menor freqüência de realização do exame clínico das mamas durante o pré-natal. “Outra deficiência da assistência médica detectada pelo estudo refere-se à baixa freqüência de realização do exame entre as gestantes adolescentes, de elevado risco para o desmame precoce, e entre as gestantes com 30 anos ou mais, reconhecidas como população de maior risco para o câncer de mama”, dizem os pesquisadores no artigo.


De acordo com os autores, vinculados à Fundação Universidade Federal do Rio Grande, à Universidade de São Paulo e à Universidade Federal de Pelotas, poucas mulheres sabem que o exame clínico das mamas faz parte da rotina do pré-natal e todas devem ser orientadas para exigi-lo como um direito de cidadania. Ressalta-se, ainda, que a qualidade do pré-natal é fundamental para a saúde de mães e filhos. “Os cuidados pré-natais podem reduzir a mortalidade perinatal em até 25%”, lembram os autores, ressaltando que, muitas vezes, o pré-natal é a única oportunidade que a mulher tem para ser avaliada pelo médico.

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