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29/10/2007

Encontro destaca cultura como fator de afirmação das comunidades


A cultura local como fortalecimento da identidade de uma comunidade foi o principal tema do encontro Identidade cultural e as lutas populares, promovido pelo Laboratório Territorial de Manguinhos. A falta dessa identidade e de alguma herança cultural em Manguinhos, o constante processo de formação e transformação vivenciado por seus moradores e a necessidade de gerar conhecimento dentro das comunidades foram debatidos no encontro. Estiveram presentes os pesquisadores Fátima Pivetta e Marcelo Firpo, ambos da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz, além do representante da Central Única de Favelas do Ceará (Cufa-CE), Preto Zezé, e as integrantes do laboratório, Consuelo Nascimento e Ludmila Cardoso.


 Ludmila Cardoso, Consuelo Nascimento e Preto Zezé durante o debate (Foto: Virginia Damas)

Ludmila Cardoso, Consuelo Nascimento e Preto Zezé durante o debate (Foto: Virginia Damas)


Consuelo Nascimento, debatedora do laboratório e moradora da região, destacou a diferença na linguagem entre as pessoas de fora da favela e a realidade dos que moram lá. De acordo com ela, comunidades como a Mangueira e a Rocinha têm mais visibilidade por disporem de diversos movimentos socias, por terem músicas se referindo à comunidade e grandes escolas de samba. “Essas questões culturais, como as escolas de samba e as músicas que se referem à favela criam uma identificação das pessoas com o local. Manguinhos sofre com a falta de herança e está sempre em processo de mudanças e transformação. Falta às pessoas se identificarem com este local. Vejo que, mesmo morando em outras favelas, algumas pessoas conseguem construir situações favoráveis para si. Mas aqui não acontece isso. Quando algum morador ganha um dinheiro a mais, a primeira coisa que ele faz é sair daqui. Manguinhos está no vazio de não pertencer a lugar algum”, desabafou a moradora.


Ludmila Cardoso, também do Laboratório Territorial, observou o atraso de Manguinhos com relação a outras comunidades criadas na mesma época. Para ela, algumas comunidades ao redor ainda conseguem se organizar e lutar a favor de melhorias. Ludmila ressaltou que, apesar da falta de herança cultural na comunidade, sua geração vem se esforçando para criar movimentos na região. “Temos o grupo Música na Calçada, a Oficina Portinari, ou seja, as coisas estão começando. Não temos uma referencia sequer de 20 anos atrás, mas buscamos deixar algo para as próximas gerações”, afirmou.


Preto Zezé falou sobre algumas ações da Cufa. Segundo ele, a organização tem um lema de “preparar os escolhidos, e não escolher os preparados”. O convidado afirmou que o desenvolvimento científico está no “asfalto”, mas que ele se interessa pelas favelas para desenvolver algumas pesquisas. “As pessoas vão às favelas, mas os computadores não ficam lá. O conhecimento não é produzido na favela. As pessoas produzem suas teses, suas monografias, novas tecnologias, e querem que os moradores das comunidades só pratiquem o artesanato. Queremos que o conhecimento seja gerado dentro da favela”.


A importância dos movimentos sociais foi destacada pelos pesquisadores Marcelo Firpo e Fátima Pivetta nos debates. Enquanto Firpo respondia sobre a necessidade de uma maior participação popular na luta pela justiça ambiental, Fátima defendia a necessidade de maior autonomia por parte dos movimentos.


Fonte: Informe Ensp

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