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10/09/2012

Encontro Nacional de Inovação em Fármacos e Medicamentos reúne especialistas em doenças negligenciadas

Isadora Marinho


No conjunto de fatores que caracterizam uma doença como negligenciada, a falta de investimentos da indústria farmacêutica é determinante para a manutenção do quadro epidemiológico. Realizado em 28 e 29 de agosto, o 6º Encontro Nacional de Inovação em Fármacos e Medicamentos (ENIFarMed), na Universidade de São Paulo (USP), reuniu representantes da indústria, do Estado e da academia para debater sobre inovações e políticas comprometidas com o controle destes agravos. A diretora do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Tania Araújo-Jorge, participou do painel O papel do Estado na P&D para doenças negligenciadas, que também contou com a presença do diretor do Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE) do Ministério da Saúde, Jaílson Correia e da consultora da iniciativa Drugs for Neglected Diseases (DNDi), Eloan Pinheiro. Sob moderação de Fabiana Alves, também do DNDi, o grupo discutiu o atual cenário de apoio às pesquisas por meio de editais e parcerias.


 Abertura do Encontro Nacional de Inovação em Fármacos e Medicamentos

Abertura do Encontro Nacional de Inovação em Fármacos e Medicamentos





Intitulada As doenças negligenciadas como promotoras da pobreza no Brasil e a Parceria Fiocruz Brasil sem Miséria, a palestra de Tania partiu do personagem criado na década de 20 pelo escritor Monteiro Lobato, o Jeca Tatu, para apresentar o contexto histórico dos agravos no país. Trata-se de uma representação do trabalhador rural desassistido pelo governo, sem informação e acometido pelo "amarelão" – verminose responsável pela letargia que ajudou a construir o estereótipo do "caipira preguiçoso". De acordo com Tania, desde então, alcançamos diversas conquistas: da posição de quinta maior economia do mundo à imunização em larga escala, permitindo o controle de agravos como varíola, poliomielite, sarampo e rubéola. No entanto, somos o quarto país mais desigual da América Latina. E se o Jeca Tatu não existe mais devido às políticas de atenção básica e vacinação bem sucedidas, existe um outro brasileiro afetado de forma contundente pela desigualdade social. “Ele está dentre os 95 milhões infectados com algum tipo de verminose. Ele vive em áreas de extrema pobreza, nas quais também há alta incidência de doenças negligenciadas”, disse.


A Fiocruz e o plano Brasil Sem Miséria


Sobre a contribuição da Fiocruz ao combate às doenças da pobreza, Tania destacou a participação da Instituição no Plano Brasil Sem Miséria, que estimula a geração de conhecimentos voltados ao tema. Ela destacou, dentre as iniciativas, o Programa de Indução de Teses de Pós-Graduação, realizado em parceria com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e as Expedições Fiocruz. O primeiro concede bolsas para o desenvolvimento de teses de doutorado que tragam propostas de aplicação de tecnologias biomédicas, sociais e educacionais em prol do combate às doenças da pobreza. Já o segundo retoma as históricas expedições científicas, realizadas no início do século por cientistas como Oswaldo Cruz e Carlos Chagas. “Estas ações aproximam a ciência do povo, promovendo um interessante encontro pautado pela demanda social. Isso é reflexo de uma maior consciência, da parte dos pesquisadores de países em desenvolvimento, da importância de se comprometer com o crescimento nacional. E país rico é país com saúde. E para se ter saúde, é necessário erradicar a pobreza”, declarou.


Futuros investimentos


Jaílson Correia, do Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE) do Ministério da Saúde, ressaltou em sua apresentação que, na última década, o montante investido pelo Ministério da Saúde na pesquisa em doenças negligenciadas foi de R$ 91 milhões. Ele revelou, ainda, que a pasta prevê uma alocação de R$ 20 milhões na criação de uma rede de pesquisa voltada para nove patologias: Chagas, dengue, esquistossomose, hanseníase, helmintíases, leishmanioses, malária, tracoma e tuberculose.


De acordo com o diretor, até o final do ano, será publicado um edital convocando pesquisadores. Já Fabiana Alves, da Drugs for Neglected Diseases (DNDi), destacou as ações da iniciativa. “Até 2014 a organização pretende oferecer de seis a oito novos tratamentos que atendam essas doenças, além de estabelecer um sólido portfólio de pesquisa e desenvolvimento", garantiu. O encontro foi promovido pelo Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento de Fármacos e Produtos Farmacêuticos (IPD-Farma), em conjunto com a Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (Protec).


Publicado em 6/9/2012.

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