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29/08/2022

Endoscopista pediátrica da Fiocruz faz alerta sobre soda cáustica

IFF/Fiocruz


O Dia Nacional da Prevenção de Acidentes com Crianças e Adolescentes é celebrado em 30 de agosto com o objetivo de promover uma maior conscientização sobre o tema. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), “no Brasil, os acidentes representam a principal causa de morte entre crianças e adolescentes de um a 14 anos. Eles causam cerca de 13 óbitos por dia e são ainda responsáveis pela hospitalização de mais de 120 mil jovens”. Porém, mais de 90% desses eventos, que geralmente acontecem dentro de casa, poderiam ter sido evitados com medidas simples de prevenção.

O Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) é referência no tratamento de doenças de alta complexidade, como em crianças que ingeriram acidentalmente substâncias cáusticas. São acidentes que mudam todo o rumo da vida de uma criança saudável, uma vez que podem provocar queimaduras na boca, perfuração de órgãos internos, cicatrizes, necessidade de tratamento endoscópio e até cirurgias.

Após a ingestão, as consequências são muito graves e a criança passa a ser submetida a vários tratamentos médicos para tentar minimizar os danos da substância que entrou em contato com seus órgãos, além de precisar ser acompanhada a longo prazo por ter mais probabilidade de ter câncer de esôfago.

“As histórias geralmente se repetem, alguém da família acaba diluindo a substância dentro de uma garrafa e utiliza para desentupir a pia ou ralo, por exemplo, e o que sobra permanece nesse frasco, que a pessoa guarda debaixo da pia ou em um armário. Cerca de 80% dos acidentes no mundo acontecem em crianças entre 2 e 6 anos de idade, pois a criança nessa faixa etária é curiosa, vê o líquido e acaba tomando o produto”, explica a endoscopista pediátrica do IFF/Fiocruz, Paula Peruzzi Elia.

Normalmente as substâncias cáusticas estão presentes em alisantes de cabelo, desentupidores de pia, ralo e em alvejantes, assim como em baterias e pilhas de brinquedos infantis, que estão em fácil acesso da criança. “Pouco se fala sobre a prevenção desses acidentes, que geralmente acontecem no próprio ambiente doméstico ou na casa de familiares, mas que podem ser evitados com medidas básicas: não tenha produtos cáusticos dentro de casa e, caso tenha algum produto e o utilize, guarde em um frasco separado, lacrado, bem identificado e fora do alcance da criança”, alerta Paula.

Se eventualmente esse tipo de acidente acontecer dentro de casa, a endoscopista pediátrica orienta. “Os responsáveis não devem tentar neutralizar a soda cáustica ingerida com outra substância, como leite ou outro produto, e sim levar a criança para a emergência mais próxima”. Os pacientes atendidos no IFF/Fiocruz são encaminhados pelo Sistema de Regulação (Sisreg) e contam com a assistência de uma equipe multidisciplinar para dar todo o suporte necessário, com Psicóloga, Nutricionista, equipe da Endoscopia Digestiva e Respiratória e das Áreas de Atenção Clínica e Cirúrgica à Criança e ao Adolescente.

“Atuamos em prol de melhorar a qualidade de vida dos nossos usuários, realizando procedimentos, como a traqueostomia, em pacientes que queimaram gravemente a árvore respiratória e não conseguem respirar, e a gastrostomia, colocação de sonda na barriga quando o paciente tem dificuldade em se alimentar e ingerir líquido. Precisamos disseminar essas informações preventivas, visto que, muitos casos acontecem por falta de conhecimento”, conta Paula.

Um dos casos acompanhados no Instituto é o da paciente Lhaís Lima de Souza, hoje com 12 anos de idade. “Quando eu tinha apenas 2 anos ingeri soda cáustica, isso fez um estrago enorme para mim e minha família. O que me deixa triste é a facilidade de achar essas substâncias nas prateleiras de mercado, contribuindo para que os casos continuem acontecendo, o que é muito preocupante. Responsáveis, tomem cuidado!”.

Alessandra Souza Lima, mãe de Lhaís, reforça que é arriscado possuir produtos com substâncias cáusticas dentro de casa e relata o ocorrido com a sua filha. “Eu estava fazendo uma faxina em casa, na véspera de Natal. Por descuido, deixei o copo com soda cáustica em cima da mesa, e a Lhaís, com apenas 2 anos de idade, acabou ingerindo por acidente achando que era água, por ser muito parecida. Naquele momento, eu não tinha dimensão do mal que aquilo poderia fazer na vida dela. A situação era grave, ela precisou fazer cirurgias, mas hoje está bem”, declara Alessandra.

Nesse contexto, a mãe de Lhaís faz um apelo. “Queremos incentivar as pessoas a usarem outros produtos e não soda cáustica, pois são substâncias perigosas que podem levar à morte. Soda cáustica é uma tragédia anunciada, os casos se repetem e precisamos mudar essa história. Eu só tenho a agradecer ao IFF/Fiocruz, que foi a mão amiga na vida da minha filha”.

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