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17/10/2011

Ensp coordena projeto de gestão da Telessaúde para as Américas

Informe Ensp


Ao mesmo tempo que busca implementar seu projeto institucional de Telessaúde - que envolve o Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CESGSF), o Centro de Referência Professor Hélio Fraga (CRPHF), o Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh), além do Observatório de Informação, Tecnologia de Informação em Saúde e Telessaúde (ObservIN), o Laboratório de Internet, Saúde e Sociedade (Laiss) e o projeto Teias - Escola Manguinhos -, a Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) foi convidada para coordenar o componente Gestão da Telessaúde do Projeto Telessaúde para as Américas, intitulado Protocolos Regionais de Políticas Públicas em Telessaúde para a América Latina.


Apesar de ser uma grande responsabilidade, na opinião da coordenadora Ilara Hämmerli Sozzi de Moraes, trata-se de um processo de construção conjunta com os países vizinhos, "coerente com a tradição da Ensp em adotar parcerias com os países vizinhos". Ao mesmo tempo, é um processo que pressupõe mudanças e enfrentamentos de questões estratégicas para a atenção à saúde, além de novas práticas e saberes, pactuação de protocolos clínicos, de fluxo e regulação assistencial e estabelecimento de consensos.


Em entrevista, a coordenadora do projeto falou sobre o processo de implementação da Telessaúde na Ensp, analisou o processo de transição do mundo analógico para o digital e descreveu todo o projeto de Telessaúde na América Latina. Confira.


A Ensp foi convidada para coordenar o Componente 3 (Gestão da Telessaúde) do projeto Telessaúde para as Américas (Protocolos Regionais de Políticas Públicas em Telessaúde para a América Latina), e a senhora será responsável pela coordenação. Como surgiu o convite?



Ilara Hämmerli:
A Ensp recebeu o convite da Coordenação Geral do Programa de Telessaúde para as Américas, que é exercida pela Universidade Federal de Minas Gerais e a Rede Universitária de Telemedicina (Rute) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. A coordenadora, professora Alaneir Santos (UFMG), nos visitou e, em conversa com o diretor da Ensp, nos fez o convite para coordenar o terceiro componente do projeto, denominado Diretrizes Regionais para Gestão da Telessaúde, num total de seis que integram todo o projeto. Trata-se de uma iniciativa financiada pelo BID, que envolve Brasil, Equador, Uruguai, México, Colômbia, El Salvador, Argentina, Peru e Chile, abrangendo os Ministérios da Saúde desses países e as universidades que estão implementando projetos de telessaúde. É um processo em construção, e estamos todos procurando aprender.


No meu entendimento, esse convite potencializa o esforço da própria Escola por implementar e fazer acontecer o Programa de Telessaúde/Ensp. Uma coisa está vinculada a outra. Há tempos estamos desenvolvendo estudos sobre o tema da Gestão de Telessaúde, com a produção de conhecimento crítico e propositivo acerca das potencialidades e riscos existentes nesta forma de atenção à saúde, intensivamente mediada pela tecnologia da informação.


De que forma está caminhando o Programa de Telessaúde (TS) da Ensp?


Ilara Hämmerli: O programa institucional da Ensp está caminhando em duas direções. A primeira é fazer acontecer internamente, e para isso destaco o esforço do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CESGSF), do Centro de Referência Professor Hélio Fraga (CRPHF), do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh), além do Observatório de Informação, Tecnologia de Informação em Saúde e Telessaúde (ObservIN) e do Laboratório de Internet, Saúde e Sociedade (Laiss), que já terminaram os estudos em torno das especificações dos equipamentos básicos necessários para implantação do programa. Tão logo os demais setores da Ensp encaminhem suas especificações, poderemos concluir a definição dos investimentos institucionais necessários.


O CESGSF e o Cesteh já estão discutindo fluxos de atendimento e parcerias em determinadas especialidades como radiologia, por exemplo. A concepção de TS do programa/Ensp pressupõe cooperação, parceria, solidariedade.


A segunda direção é contribuir e aprender com outras iniciativas de TS brasileiras e de outros países onde se insere o Programa de TS para as Américas.


De que forma a senhora definiria um projeto de telessaúde?


Ilara Hämmerli: Telessaúde representa uma das formas de transição do mundo analógico para o mudo digital no âmbito da Saúde. Telessaúde não é colocar computadores na frente do profissional de saúde. De fato, trata-se de uma nova dinâmica emergindo que transcende em muito a dimensão de incorporação de equipamentos. TS não pode ser reduzida ao uso intensivo de tecnologias digitais, é muito mais que isso. A tecnologia de informação entra como mediadora de novas práticas e saberes que transitam do analógico para o digital e voltam para o analógico, sucessivamente. É grande o desafio dessa travessia no processo de atenção à saúde.


Quais são os demais componentes abarcados pelo projeto de TS para as Américas?


Ilara Hämmerli: O primeiro é Padrões para requisitos mínimos de transmissão de dados e infraestrutura. O segundo é Estratégias de promoção, prevenção e assistência em serviços com uso de telessaúde.


O terceiro é o que estamos coordenando, que trata de Guias Regionais para a América Latina de Gestão da Telessaúde. Trabalhamos na elaboração de protocolos de melhores práticas de gestão na telessaúde, o que é de extrema importância, principalmente para os governos dos países. O quarto eixo trata da Estratégia para uma rede de pesquisa com temas relevantes para a Telessaúde; o quinto aborda modelos de Capacitação e Certificação de Equipes em Telessaúde, e o sexto e último trata de inovações nesse campo.


Após validação, os produtos do programa estarão à disposição para serem adotados pelos países e organismos internacionais como a Opas e Cepal, que compõem o Comitê de Validação dos resultados.


Quais são as perspectivas para o início do trabalho? Por outro lado, como a senhora vê a atuação da Ensp, já que, ao mesmo tempo que busca institucionalizar seu processo de telessaúde, tem a incumbência de coordenar um dos componentes do projeto com abrangência para toda a América Latina?


Ilara Hämmerli: Como disse anteriormente, é um processo de construção conjunta com os países vizinhos. Coerente com o melhor da tradição da Escola, adota-se uma postura de parceria. Essa concepção se assenta na busca pelo estabelecimento de um pacto ético de solidariedade entre experiências e esforços, em que cada um dos participantes está buscando acertar ao máximo, e estamos todos motivados. Vislumbro nessa dinâmica cooperativa e não competitiva um fator fundamental para o programa avançar.


Recentemente, o programa iniciou para os países partícipes o Curso Virtual de Tutores para El Aprendizaje en Red - Telesalud, hospedado no Campus Virtual de Salud Pública/Opas. Este curso está voltado para a formação dos tutores que atuarão nos próximos cursos a serem ofertados na modalidade à distância. O primeiro nesta lista será voltado para os gestores dos países.


Em paralelo, estamos discutindo critérios de avaliação de melhores práticas em TS, variáveis comparativas de análise das iniciativas, indicadores de identificação de melhores práticas, dentre outras temáticas.


Como será a participação de cada serviço da Escola dentro do Programa de Telessaúde/Ensp?


Ilara Hämmerli: O Programa TS/Ensp expressa um trabalho coletivo com as unidades que demonstraram interesse, como o CSEGSF, o EAD, o Cesteh, o Teias, o ObsevIN, o CRPHF e o Laiss. Cada um definiu o escopo de sua participação. Foi acordado, por exemplo, que tanto o Centro de Saúde como o Teias irão atuar na atenção primária em saúde, por se tratar da sua missão institucional, contemplando a realização de consultas on-line, monitoramento e orientação on time durante visitas domiciliares, bem como manter cuidador familiar informado a respeito de determinadas práticas.


As especialidades pensadas no primeiro momento são: cardiologia, dermatologia, ginecologia e obstetrícia, orientação nutricional, pneumologia, radiologia, toxicologia clínica e laboral, e segunda opinião clínica. É importante ficar claro que se trata de um programa de médio e longo prazo, cujo primeiro ciclo tem a duração de cinco anos.


Como essa mudança do mundo analógico para o digital deve ser trabalhada nas instituições?


Ilara Hämmerli: Esse é um trabalho no qual precisamos adotar a racionalidade da cooperação no próprio processo de reorganização das redes e serviços de saúde. Ao longo de minha experiência como pesquisadora deste tema, constatei que as iniciativas de TS que alcançaram melhores resultados foram aquelas que fomentaram processo de reorganização da atenção à saúde. Observa-se, muitas vezes, que os projetos de TS ocorrem desvinculados do SUS. Daí a importância de se destacar, no âmbito da experiência da Ensp, essa complexa dimensão. Envolve parceria, novas práticas e saberes, pactuação de protocolos clínicos, de fluxo e regulação assistencial. Estabelecer consensos nessa área não é trivial.


É um processo que pressupõe mudanças e enfrentamentos de questões estratégicas para a atenção à saúde, como os Registros Eletrônicos de Saúde e os Prontuários Eletrônicos do Paciente. São questões que não se resolvem com o pensamento simplista de que "basta ir ao mercado e adquirir produtos já prontos", que, no jargão da área, são chamados de 'software de prateleiras'.


Este pensamento constitui uma das principais causas de fracasso, frustração e desperdício de recursos, em diversas experiências de incorporação de TI, na transição do mundo analógico para o digital em saúde. É um desafio complexo a demandar 'soluções complexas'. Implementar TS requer inovação e produção de saberes, que supram lacunas do conhecimento com investimento em pesquisa, que realmente possam contribuir para ampliar e qualificar a atenção à saúde. Mas, acima de tudo, pressupõe decisão política que subordine interesses do complexo econômico e industrial de TI aos interesses públicos.



Publicado em 17/10/2011.

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