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23/08/2010

Entrevista 'Comprovamos a viabilidade de vacinar muitas pessoas'

Alexandre Gonçalves - "O Estado de S. Paulo"


O americano Donald Henderson, que coordenou o programa da OMS que erradicou a varíola em 1980, vem ao país para o congresso sobre os 30 anos da vitória sobre a doença.


Quais os principais desafios que encontrou no programa?

Henderson:
Pessoas de 70 nacionalidades precisavam trabalhar juntas. Vivíamos a Guerra Fria. De fato, conseguimos estabelecer uma boa cooperação com os soviéticos que forneceram milhões de doses da vacina. Havia também o desafio logístico de levar a vacina para lugares com enchentes, catástrofes, guerras civis...


Quais as principais lições aprendidas com a erradicação?

Henderson: Em primeiro lugar, comprovamos a viabilidade de vacinar um grande número de pessoas, em pouco tempo, com um custo relativamente baixo. Também mostramos que era possível estabelecer um controle epidemiológico rigoroso nos países, com envio periódico dos dados à OMS para coordenação.


Erradicar a pólio e o sarampo é mais difícil que a varíola?

Henderson: Acredito que sim. A vacina da varíola não precisa de refrigeração, algo que facilita a logística. E a resposta imunológica da vacina da varíola permanece por mais tempo. Além disso, é muito mais fácil identificar um caso de varíola: basta ver as pústulas. A pólio é uma doença muito mais silenciosa.


O vírus da varíola pode ser usado como arma biológica?

Henderson: Considero pouco provável, mas não impossível. Os soviéticos tinham um enorme programa para a produção de vírus da varíola como arma biológica. Com o fim da União Soviética, houve uma dispersão dos cientistas envolvidos no projeto. Nos EUA e em outros países, há estoques com vacina de varíola.


Publicado em 23/8/2010 (e originalmente publicado no jornal O Estado de S. Paulo, em 22/8/2010).

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